Gestores do Masp criam fundo para dar estabilidade financeira ao museu

  • Por Estadão Conteúdo
  • 21/03/2017 09h04
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Depois de ser alvo nos últimos três anos de um choque de gestão que deu à instituição uma estrutura de empresa – com regras de governança, metas de desempenho e reorganização de dívidas -, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) se prepara agora para ter um fundo “endowment” (que tem por finalidade dar sustentabilidade financeira a uma organização sem fins lucrativos). 

O objetivo é garantir a perpetuidade do museu, dono de um dos maiores acervos culturais do Hemisfério Sul e que neste ano completa 70 anos. A proposta será discutida no dia 3 de abril, em assembleia, pelos conselheiros da instituição. A estimativa, segundo Heitor Martins, diretor-presidente do Masp, é captar pelo menos R$ 40 milhões no prazo de três a cinco anos. 

A estruturação do fundo está sendo coordenada por Alexandre Bertoldi, sócio-gestor do escritório Pinheiro Neto Advogados, e Jackson Schneider, executivo da Embraer. Os dois são diretores estatutários da atual gestão do Masp.

Segundo Martins, a ideia é que parte da futura rentabilidade desse fundo possa ajudar a bancar as despesas do Masp. Bertoldi explicou que qualquer pessoa – física ou jurídica – pode contribuir voluntariamente com esse fundo. Os gestores já deram início a uma série de encontros e eventos para angariar os recursos.

Parceria

Na semana passada, a diretoria do museu assinou uma carta de intenções com o gestor do Museum of Fine Arts Houston (MFAH), no Texas, Gary Tinterow. Esse museu privado administra um fundo de US$ 1,15 bilhão (orçamento de 2015) – o terceiro maior fundo “endowment” dos Estados Unidos. A ideia é estabelecer uma parceria artística e compartilhar práticas de boa governança na criação do fundo do museu brasileiro.

Tinterow está desde 2012 no MFAH e trabalhou por 28 anos no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, que tem US$ 2,7 bilhões neste tipo de fundo. 

Ao Estado, Tinterow explicou que os fundos “endowments” já estão consolidados na cultura americana e são importantes para garantir a sustentabilidade de organizações sem fins lucrativos, como museus, para futuras gerações. 

Em países europeus e nos EUA, por exemplo, famílias costumam fazer doações para esse tipo de fundo, não como um investimento, mas com o intuito de garantir a manutenção do patrimônio cultural de um País. “É um movimento da iniciativa privada, mas que pode contar com apoio do setor público.” 

A ideia é que os gestores utilizem apenas uma pequena parte da rentabilidade desse fundo para pagar despesas correntes do museu O restante dos recursos para bancar o orçamento dessas instituições viria de bilheterias, restaurante e de outros tipos de captações. 

Reestruturação

Desde 2014, o Masp tem passado por um choque de gestão para sanear suas pendências financeiras – um passivo de R$ 75 milhões – e tornar sua administração parecida como uma estrutura de uma grande corporação. 

Empresários e executivos de grandes companhias, gestores de bancos e fundos fazem parte desse grupo de conselheiros – que soma 83, dos quais apenas três são indicações de instituição pública, explicou Lucas Pessôa, diretor de operações do Masp, egresso do mercado financeiro. Entre os participantes, há nomes como Alfredo Setubal, do Banco Itaú, Thilo Mannhardt, presidente do Grupo Ultra, e Antonio Bonchristiano, sócio do GP Investments

Para 2017, o Masp tem um orçamento estimado em cerca de R$ 37 milhões. Nos últimos dois anos, captou cerca de R$ 30 milhões em recursos de pessoas físicas, sem incentivos fiscais. Também renegociou dívidas fiscais, bancárias e com fornecedores. 

Em 2016, o museu atingiu a marca de 409 mil visitantes – a segunda maior de sua história, superada apenas em 2012, quando atraiu 556 mil visitantes. Para este ano, são esperados 450 mil visitantes. “A importância dessas iniciativas é perpetuar o Masp e deixar uma herança cultural para o filho do meu filho e assim por diante”, disse Jackson Schneider, da Embraer, diretor estatutário do museu.

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