Hooligans contra salafistas: uma mutação ultradireitista alarma a Alemanha
Gemma Casadevall.
Berlim, 30 out (EFE).- O surgimento de “Hooligans contra salafistas”, uma organização violenta e ultradireitista, fez soar o alarme na Alemanha, tanto por sua virulência como pela capacidade de mobilização, maior que a de outros grupos neonazistas alemães.
O governo federal, os Länder (estados), o sindicato da polícia e a Liga de Futebol Alemã (DFL) tentam entender esse movimento diante da agressividade deste grupo, que no domingo reuniu em Colônia, no oeste da Alemanha, cerca de 4,8 mil seguidores apesar de uma operação anti-distúrbios que em alguns momentos não conseguiu contê-lo.
Centenas de manifestantes atiraram pedras, garrafas e rojões contra os policiais. Destes, 44 ficaram feridos, e várias viaturas foram destruídas na primeira convocação de uma organização teoricamente recém-nascida.
Um porta-voz do Ministério do Interior informou na quarta-feira que, desde fevereiro, o governo sabe da existência de “contatos” entre os violentos torcedores e a extrema-direita.
A mesma fonte negou que as autoridades policiais tenham sido “surpreendidas” pelo potencial violento da convocação, mas admitiu que não se contavam com tanto poder de mobilização, e esperavam no máximo 1,5 mil manifestantes.
A Liga Alemã de Futebol fez questão de separar esse novo fenômeno e torcedores que têm sido identificados como violentos ou muito violentos em seus arquivos.
“Não têm nada a ver com o futebol, era uma manifestação de sinal político e violento, que adotou como inimigo comum o (grupo jihadista) Estado Islâmico (EI) para recrutar adeptos e garantir certa aceitação social”, afirmou o secretário-executivo da Liga Alemã de Futebol, Andreas Rettig.
“Hooligans contra salafistas” (“Ho.Ge.Sa” na sigla em alemão) tem um site muito ativo de perfis e simbologia claramente neonazista, no qual convida a extrema-direita para lutarem juntos contra os estrangeiros, principalmente islâmicos.
A organização tomou como base o “Pró-NRW”, uma facção da Renânia do Norte-Vestfália com apenas 1.900 militantes que luta contra a construção de mesquitas nesse estado – onde está a cidade de Colônia, que no passado se envolveu em batalhas populares contra a minoria salafista da Alemanha, composta por cerca de 5 mil pessoas.
O “Pró-NRW” obteve 1,2% dos votos nas últimas eleições regionais, resultado alinhado com o baixo desempenho da extrema-direita nas urnas, que nunca conquistou cadeiras no parlamento federal (Bundestag), somente um na Eurocâmara – onde não existe a cláusula de barreira de 5%.
Colônia e a vizinha região do Vale do Ruhr são o terreno alvo da nova denominação do grupo, por concentrar a torcida de cinco clubes da primeira divisão da Bundesliga – Borussia Dortmund, Schalke 04, Bayer Leverkussen, Borussia Mönchengladbach e o FC Colônia – e outros tantos da segunda.
O estado, “land” em alemão, é empobrecido e está altamente endividado por causa do desmantelamento de seu tecido industrial e minerador, e suas autoridades têm que se dividir em duas frentes para combater tanto a extrema-direita como o salafismo – que no ano passado realizou uma provocadora campanha de distribuição de exemplares gratuitos do Corão nas ruas.
A ressonância obtida pelo “Ho.Ge.Sa” em sua estreia na Colônia fez as autoridades temerem novos e maiores confrontos nos eventos anunciados para o dia 15 de novembro, em Berlim e Hamburgo, com o slogan de “Europa contra o Estado Islâmico”.
O presidente do sindicato policial, Rainer Wendt, é a favor da proibição dessas convocações, que para ele não têm perfil político e muito menos de manifestação futebolística, mas de mero confronto com a polícia. EFE
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