Hortas comunitárias se multiplicam nas comunidades do Rio
Desenvolvimento socioeconômico, segurança alimentar, aumento da capacidade de infiltração da água no solo, conservação da biodiversidade e diminuição do efeito estufa e da poluição, são alguns dos benefícios da pequena horta comunitária no Morro da Formiga, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro.
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Sem placa ou aviso, o portãozinho de madeira na subida do morro passa desapercebido para quem não é da comunidade. Mas o entra e sai de moradores mostra que a popularidade da horta dispensa propagandas. A moradora Márcia Cristina Alves dos Santos passa pela horta três vezes por semana pela manhã, para comprar verduras. “Compro couve, alface e almeirão. É bem mais fresquinho do que no supermercado. Não tem comparação”, comenta a diarista.
O coordenador da horta, Orlando de Almeida Ribeiro, 66 anos, conhecido pela comunidade como Português mostra orgulhoso a alface crespa, couve, o almeirão, aipim, mamão, cheiro-verde e a abobrinha. “Tudo sem agrotóxico”, garante. “Cobramos pouquinho, o molho da alface custa R$1, por exemplo. O que mais fazemos aqui é a doação”, conta o coordenador que trabalha na horta há seis anos. “Acho que doamos para 20 famílias, além da escola e creche que temos na comunidade”.
Existem 30 hortas com este perfil espalhadas pela cidade, fruto do projeto Hortas Cariocas, criado há seis anos pela prefeitura, com o objetivo de incentivar a prática da agricultura urbana e oferecer gêneros alimentícios de qualidade a custo acessível, sobretudo nas comunidades pobres.
O projeto determina que metade da produção dos alimentos seja obrigatoriamente doada para as escolas do bairro e às famílias com maior vulnerabilidade social, indicadas pela Associação dos Moradores. A outra parte pode ser comercializada pelas equipes e o lucro é dividido entre os beneficiários.
Para o idealizador e gestor do projeto, Julio César Barros, da Secretaria de Meio Ambiente, nesses oito anos de trabalho é possível afirmar que as hortas têm reduzido os índices de ocupação irregular de terrenos ociosos, elevando os níveis de inclusão social, além de propiciar aos moradores da comunidade alimentação livre de transgênicos e agrotóxicos. “O projeto vem ganhando corpo. Este trabalho é uma parceria entre o poder público e a comunidade. O resultado tem sido positivo,uma vez que o beneficiário é a comunidade. Hortas Cariocas está deselitizando o consumo de alimento orgânico e contribuindo para a formação da política de segurança alimentar da cidade ”, disse o agrônomo.
A associação dos moradores costuma indicar pessoas em situação de vulnerabilidade, como ex-presidiários e indivíduos que tenham envolvimento com o tráfico de drogas. “Tem muitos idosos, aposentados e pessoas cuja saúde melhorou depois que começaram a trabalhar na horta, ”, comentou.
No Complexo de Manguinhos, zona norte, a horta pública é considerada a maior da América Latina, com cerca de 1 quilômetro de diâmetro emprega dezenas de pessoas. O local ocupa um terreno baldio, antes frequentado por usuários de crack e depósito de lixo.
A maior ambição do projeto é promover no médio prazo a emancipação da horta, quando os hortelãos atingem um nível de produção, cujo lucro é maior vendendo a produção do que recebendo a bolsa da prefeitura, mesmo tendo que doar metade do que é produzido. Cada funcionário ganha hoje R$360 e o coordenador, responsável pelas atividades na horta e funções administrativas, como compra de sementes e ferramentas, entre outras funções recebe R$480.
Um convênio com a Secretaria Estadual de Agricultura deve incrementar o projeto, com recursos humanos para capacitar novos interessados em trabalhar nas hortas, com introdução de novas tecnologias e empreendedorismo. Julio ressalta que a mobilização e envolvimento dos moradores das comunidades desde o início do processo de implementação são fundamentais para o sucesso do projeto.
Das 40 hortas já criadas pelo projeto, oito foram paralisadas pela equipe gestora. Os resultados esperados na produção de alimentos e conservação da horta não foram alcançados. O monitoramento é feito por meio da anotação dos alimentos vendidos e doados.
O projeto também tem convênio com a Secretaria Municipal de Educação e utiliza espaços livres de escolas municipais para criar pequenas hortas. A parceria permite que o coordenador Orlando vai às creches e escolas da comunidade do Morro da Formiga para ensinar às crianças a plantar e conhecer os diferentes tipos de hortaliças. “Nas escolas levo as mudinhas para as crianças. Vários moradores já fazem hortinhas nas casas. Eu forneço as sementes e os oriento”, explicou.
Outra parceria feita com a concessionária de energia elétrica Ligh tem possibilitado a criação de hortas sob Linhas de Transmissão de Energia, como é o caso da horta da Formiga. A Companhia de Lixo Urbano também contribui em algumas hortas com composto orgânico.
Estão previstas mais cinco hortas na cidade até o fim do ano, adianta Julio. “Nossa meta é cinco, mas cheguemos as sete hortas, vamos ver. O momento atual tem sido bom para o projeto. Mas o ideal seria que as hortas comunitárias fossem incluídas no planejamento urbano e na política municipal, pois trata-se de uma prática multifuncional que promove a sustentabilidade econômica, social e ecológica”.
Julio lamenta que o agricultor urbano no município encontra barreiras para a manutenção do negócio, devido a falta de políticas de financiamento da agricultura familiar, já que o plano diretor municipal afirma a cidade do Rio de Janeiro não possui áreas agrícolas. As dificuldades de comercialização e venda em pequena e média escala são alguns dos empecilhos.
Editor: Valéria Aguiar
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