Longo caminho da unificação monetária começa a ser trilhado em Cuba

  • Por Agencia EFE
  • 24/09/2014 00h24
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Sara Gómez Armas.

Havana, 23 set (EFE).- O longo caminho rumo à unificação monetária em Cuba deu um passo fundamental com a aceitação de pesos cubanos na maioria das lojas de varejo do país, nas quais antes só se podia pagar em moeda estrangeira, medida que ainda não resolve o grave problema dos altos preços de bens básicos.

“O que me importa se posso pagar em pesos cubanos se o preço continua sendo o mesmo?”, lamentou à Agência Efe na saída de um supermercado o aposentado Manuel, de 71 anos, que ainda trabalha como motorista para “engordar” sua pensão.

“É a mesma história, a única coisa boa é que agora não preciso ir a casas de câmbio” acrescentou, em referência ao trâmite obrigatório para trocar os pesos cubanos (CUP), nos quais a maioria das pessoas recebe seu salário, por pesos conversíveis (CUC), moeda equivalente ao dólar.

Sua queixa é extensiva a grande parte da população cubana, com um salário médio de 450 pesos cubanos, equivalente a cerca de US$ 25 ao mês; quantia insuficiente para adquirir óleo, detergente ou artigos de higiene pessoal, difíceis de conseguir na ilha “pela esquerda”, como se denomina o mercado negro.

“Se a garrafa de óleo costa 2,50 CUC, em moeda nacional tenho que pagar 60 pesos. A situação é a mesma porque os salários seguem sendo baixos”, exemplificou Carlos Miguel, um operário de telemática com um salário que, graças a incentivos, pode chegar a 1 mil pesos.

“Me considero afortunado comparado com a maioria dos cubanos, mas mesmo assim não consigo comprar calças ou sapatos. Para isso tenho que economizar um pouquinho mês a mês”, afirmou.

A aceitação de pesos cubanos na rede estatal de comércio no varejo começou em março deste ano em poucos estabelecimentos, para ir estendendo-se gradualmente até completar neste momento mais de 90% destes pontos de venda.

Desde o anúncio há um ano do cronograma para a unificação monetária – que não detalha quando o processo terminará -, esta é a primeira medida que tem efeito direto na população, já que até agora o processo havia contemplado contemplou a atividade empresarial.

A unificação monetária faz parte do pacote de reformas empreendido em 2011 pelo governo de Raúl Castro, que afirmou que a dupla moeda é um dos “maiores obstáculos para o progresso” do país.

“É um processo que não deve demorar muito, mas por sua complexidade é preciso ir passo a passo”, disse à Agência Efe o vice-presidente da Associação Nacional de Economistas e Contadores (ANEC), Hugo Pons.

O especialista esclareceu que a dificuldade não é a união monetária em si, mas a “unificação cambial em função da relação custos-preços”, e detalhou que os elevados preços de produtos básicos na ilha, muitos deles importados, se deve a essas “taxas de câmbio supervalorizadas”.

“A taxa real não é 1 CUC por 25 CUP, como também não é 1 a 1. Isso está deformando a estrutura dos custos e distorce a fixação dos preços”, esclareceu.

Pons assinalou que a “ação fundamental” da unificação está na atividade empresarial, onde “as taxas cambiais se transformam muitas vezes em desestímulo da atividade produtiva, sobretudo, em exportação”.

A dupla moeda se originou por causa da intensa crise que o país sofreu após a queda da União Soviética, o que obrigou Fidel Castro a emitir em 1994 uma moeda cambiável em moeda estrangeira, o CUC, que atuasse como salva-vidas da afogada economia cubana no crítico Período Especial dos anos 90.

Com esta moeda artificial se pretendia expatriar da ilha o dólar, considerada a moeda do inimigo, mas não perder o fluxo de divisas necessário para azeitar a economia cubana; o que após duas décadas em circulação derivou em distorções macroeconômicas, inflação galopante e desigualdades sociais.

Estas dificuldades são as que o governo de Raúl Castro procura atenuar com a unificação monetária, a mais complexa das reformas econômicas anunciadas, que ainda não se sabe quando chegará nem que efeitos reais terá sobre a população. EFE

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