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Mais de 3,5 milhões de judeus poderiam pedir nacionalidade espanhola

Daniela Brik e Elías L. Benarroch.

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Jerusalém, 11 mar (EFE).- Mais de 3,5 milhões de judeus no mundo todo, meio milhão em Israel, poderiam adquirir nacionalidade espanhola graças a origem sefardita e à modificação do Código Civil que o governo da Espanha aprovou no mês passado.

“É uma grande medida e, sem dúvida, um reconhecimento dos nossos vínculos históricos com a Espanha 500 anos depois da expulsão”, disse à Agência Efe Asher Moshé, nascido em Escópia, capital da Macedônia (ex-Iugoslávia) e que imigrou para Israel com 11 anos.

Em um ladino (língua semelhante ao Espanhol, falada por comunidades judaicas originárias da península Ibérica) pobre e corroído pelos anos, Moshé titubeia ao ser perguntado se pedirá a nacionalidade espanhola, porque “já não é jovem”.

“Isto não é tanto para os velhos como eu, mas para os jovens”, ressaltou sobre a possibilidade que se abrirá caso o Congresso aprovar o projeto de lei.

Em fevereiro, o Conselho de Ministros do Executivo de Mariano Rajoy aprovou uma modificação do Código Civil para conceder nacionalidade espanhola a todos os sefarditas que pedirem e credenciem tal condição, que permitirá, além disso, que se mantenham em de seu país de origem.

O ministro da Justiça espanhol, Alberto Ruiz-Gallardón, destacou que, desta forma, a sociedade espanhola culmina a reparação “do que, sem dúvida, tinha sido um dos maiores erros históricos”, em referência aos judeus que foram expulsos da Espanha em 1492 e que hoje estão dispersos no mundo.

Uma lista com centenas de sobrenomes de a origem sefardita já colocou muitos israelenses em busca da documentação para obter a nacionalidade espanhola. Desde a semana passada, os principais veículos de comunicação locais informam e dão uma primeira assessoria jurídica aos interessados. Basta abrir a lista telefônica local para descobrir que os candidatos são incontáveis.

Calderón, Zoarez (Suárez), Toledano, Abarbanel, Moreli, Bejarano, Medina, Baruch e Abecasis são só alguns exemplos de sefarditas que hoje vivem em Israel, mas também há os de aparente origem asquenazes como Bloch, Chlessinger e Sneor. Neste último caso se trata de judeus que, expulsos pelos Reis Católicos, foram aos países do centro da Europa, onde seus sobrenomes evoluíram.

Também têm essa origem muitos expulsos que foram aos países do norte da África e que hoje têm sobrenomes como Buhadana, Abulafia, Amsalem, Esayag, Abutbul.

“Só em Israel estamos falando de meio milhão, e no mundo todo poderiam ser cerca de 3,5 milhões”, declarou à Efe o advogado León Amirás, cujos avôs saíram do Império Otomano para a Argentina no início de século XX.

Há alguns anos, mergulhado na busca por suas raízes sefarditas, Amirás relata como os avôs buscaram ajuda das autoridades diplomáticas espanholas para ir embora.

Para ele, conseguir a nacionalidade espanhola é, acima de tudo, uma “questão sentimental” e de “justiça histórica que chega tarde para os sefarditas que os nazistas massacraram em Salonica” durante a Segunda Guerra Mundial.

“É triste pensar que essa comunidade nunca voltou a terras espanholas. Eram 48 mil e não sobrou ninguém”, lamentou.

Os judeus sefarditas, aos quais o senador Ángel Pulido (1852-1932) denominou “espanhóis sem pátria”, são facilmente reconhecíveis já que falam o ladino. Hoje são poucos que o conhecem, mas a grande maioria continua respeitando as tradições culturais e religiosas.

Nesse sentido, o ministro da Justiça disse que os sefarditas mantiveram não somente a língua, mas, acima de tudo, a convicção que continuam sendo parte de uma Espanha que os expulsou e à qual não somente não guardaram rancor, mas fizeram com que lhes seguisse acompanhando sempre.

Dar a nacionalidade a estes espanhóis de maneira mais rápida, e não através da “Carta de Natureza” ou da residência na Espanha por dois anos, é, em sua opinião, uma “dívida histórica”. Um argumento com o qual o advogado León Amirás concorda plenamente.

“Cerca de 700 mil judeus foram expulsos da Espanha. Este gesto (o de conceder a nacionalidade) é tão importante quanto uma desculpa. Na verdade, é maior ainda”, comentou.

No entanto, Asher Moshé, proprietário de um açougue no centro de Jerusalém, prefere “não olhar para o passado” porque “desde então ocorreram muitas outras tragédias” ao povo judeu.

“(A decisão) é boa para a Espanha e boa para todos, e quem sabe, talvez possa servir agora para as duas partes. A Espanha perdeu muito quando expulsou os judeus”, concluiu. EFE

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