Massacre alemão não influenciará eleições, mas agrava pessimismo no Brasil
Carlos A. Moreno.
Rio de Janeiro, 9 jul (EFE).- A humilhante goleada que calou o Brasil e tirou as chances do hexacampeonato dificilmente terá um efeito direto nas eleições de 5 de outubro no país, mas piorará o ânimo dos brasileiros, afetado pela inflação e pelo baixo crescimento, afirmaram políticos e analistas à Agência Efe nesta quarta-feira.
Pouco depois do 7 a 1 com o qual a Alemanha provocou a mais humilhante derrota do futebol brasileiro em cem anos da história, os candidatos às eleições presidenciais, incluindo a presidente Dilma Rousseff, se apressaram em apoiar à seleção e a negar que o resultado frustrante possa ter efeitos eleitorais.
O governo rapidamente descartou as versões segundo as quais a presidente, que tinha associado sua imagem ao sucesso da Copa e da própria seleção, possa ser associada ao fracasso da equipe, e que essa vinculação prejudique a reeleição.
“O jogo foi um desastre, como nunca tinha acontecido. Mas ninguém pode dizer que o governo é responsável por isso”, declarou o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a jornalistas após a partida.
A própria presidente publicou no Twitter que se sentia mais uma mais entre os 200 milhões de brasileiros (“Sinto imensamente por todos nós, torcedores, e pelos nossos jogadores”), mas destacou o sucesso do Mundial, já que a organização dele tinha provocado muitas dúvidas devido ao atraso nas obras e aos protestos que ameaçavam paralisá-lo.
O senador Aécio Neves, candidato à presidência pelo PSDB e principal rival de Dilma, e Eduardo Campos (PSB), que aparece em terceiro lugar nas pesquisas, se limitaram a lamentar a derrota sem nenhuma menção à disputa eleitoral.
Mesmo assim alguns líderes da oposição insistiram em vincular a imagem da fracassada seleção com a de Dilma, que lidera as pesquisas com cerca de 40% de intenções de voto, contra 20% de Aécio e 9% de Campos.
“Não acho que o resultado tenha consequências políticas. Mas o povo poderá abrir os olhos para a realidade do país e ver a inflação alta, o baixo crescimento da economia. Estávamos vivendo um sonho e despertaremos em um pesadelo”, afirmou o senador José Agripino Maia, coordenador de campanha de Aécio Neves.
A opinião de Agripino é compartilhada por alguns analistas consultados pela Agência Efe, que descartam que a eliminação possa prejudicar Dilma nas eleições, mas alegam que o atual ambiente pessimista pode se agravar com a imensa frustração dentro do campo.
“Essa derrota e a consequente frustração farão com que a população desperte e olhe de frente seus problemas em segurança, saúde, economia…”, disse o antropólogo Roberto da Matta.
A histórica derrota coincidiu com a divulgação pelo governo de que a inflação acumulada nos últimos 12 meses, até junho, ficou em 6,52%, acima da meta estabelecida para 2014 (6,5%).
A disparada dos preços dos últimos meses já se refletiu em uma queda do consumo e fez o governo decidir elevar as taxas de juros para os maiores níveis desde que Dilma assumiu o mandato, em janeiro de 2013.
Com a inflação em alta e o aumento do custo do dinheiro, o consumo, que até agora tinha sido o principal motor da economia brasileira, vem perdendo força e isso tem se refletido no próprio crescimento.
Os economistas do mercado financeiro reduziram sistematicamente as previsões para o crescimento brasileiro desde o começo do ano, estimado agora de apenas 1,07%.
Essa projeção permite prever uma desaceleração econômica em 2014 após a ligeira recuperação de 2013. Depois de ter registrado um crescimento de 7,5% em 2010, em 2011 esse percentual foi de apenas 2,7%, de 1% em 2012 e de 2,3% em 2013.
De acordo com os analistas, esse é o panorama que o brasileiro poderá se dar conta agora após ter passado um mês anestesiado pela Copa do Mundo.
“O Mundial desviou a concentração dos problemas econômicos e políticos do país. O governo ganhou um mês de anistia e se beneficiou de um clima de otimismo do qual já não pode mais desfrutar”, ponderou Fernando de Azevedo, especialista em Ciências Políticas.
Apesar das dúvidas do governo e da oposição, o fato é que as eleições presidenciais no país coincidem desde 1994 com a Copa e o desempenho da seleção nunca influenciou nas urnas.
Em 1998, quando o Brasil perdeu a final na França para os anfitriões, o presidente Fernando Henrique Cardoso foi reeleito no primeiro turno.
Quatro anos depois, apesar da conquista do pentacampeonato, Lula, então na oposição, venceu, e foi reeleito em 2006 mesmo com o fracasso da seleção brasileira na Alemanha. EFE
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.