México se prepara para eleições com pedidos de boicote após campanha violenta

  • Por Agencia EFE
  • 04/06/2015 15h45

Paula Escalada Medrano.

Cidade do México, 4 jun (EFE).- Independente dos partidos aos quais são filiados, alguns candidatos das eleições do próximo domingo no México têm sofrido ataques e alguns foram assassinados às vésperas de um pleito ameaçado de boicote por parte dos sindicatos de professores e dos familiares dos 43 estudantes desaparecidos no estado de Guerrero.

Apesar das mensagens do governo mexicano tentarem transparecer um ambiente de tranquilidade – como quando o secretário de governo, Miguel Ángel Osorio, afirmou há poucos dias que o país “não está em chamas” -, os ataques dispararam os sinais de alerta.

O próprio secretário reconheceu que pelo menos 20 candidatos estão recebendo proteção das autoridades e admitiu a impossibilidade de estendê-la aos milhares de candidatos que se apresentam aos 1.996 cargos em disputa, incluindo os 500 para deputado federal e nove para governadores estaduais.

Segundo analistas políticos, houve um aumento significativo da violência em relação aos processos de 2009 e 2012, quando também ocorreram alguns assassinatos de candidatos.

Apesar de quatro estados concentrarem os casos de violência nos últimos meses na luta entre cartéis do narcotráfico (Guerrero, Tamaulipas, Michoacán e Jalisco), os eventos trágicos contra candidatos e suas equipes aconteceram em diferentes lugares do país.

Já na pré-campanha, no início de março, a pré-candidata do Partido da Revolução Democrática (PRD) à prefeitura do município de Ahuacuotzingo, Aidé Nava, foi sequestrada e decapitada.

Apenas alguns dias depois, Gabriela Pérez Cano, candidata a deputada federal pelo Partido Ação Nacional (PAN) e seu assistente foram ameaçados com armas de fogo no estado de Morelos.

Em abril, o candidato à prefeitura do Partido Social Democrata (PSD), Mauricio Lara, do estado de Morelos, foi atacado a tiros, e o candidato a governador pelo partido Movimento Cidadão no estado de Guerrero, Luis Walton, foi ameaçado junto com sua equipe de campanha no município de Chilapa.

Já o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI) à prefeitura deste município, Ulises Fabián, foi assassinado em 1º de maio por um grupo armado.

Em 14 de maio, Enrique Hernández, candidato à prefeitura de Yurécuaro em Michoacán pelo Movimento Regeneração Nacional (Morena), também foi assassinado, e um dia depois outro candidato do PRI a prefeito no município de Huimanguillo, no estado de Tabasco, Héctor López Cruz.

Na semana passada, houve duas mortes. Em Puebla, José Salvador Méndez, assessor de campanha do candidato do PRI a deputado federal, Lorenzo Rivera Sosa. E na Cidade do México, Israel Hernández, coordenador da concorrente ao cargo de deputada estadual pelo PRI, Aida Beltrán, morreu em um tiroteio em frente à casa da candidata.

A onda de assassinatos é vista pelos analistas políticos como uma advertência para que sejam melhorados os protocolos de segurança dos candidatos, que por sua vez deveriam refletir mais sobre os riscos, conflitos de interesse ou eventuais pressões do crime organizado.

Neste meio tempo, foram muitos os que não aguentaram e tiveram que se retirar da campanha por ameaças, como o candidato a deputado federal pelo Movimento Cidadão no estado de Sinaloa, Gerardo Brambilla, ou a candidata à prefeitura de um município de Guerrero pelo Morena, Valentina Rosendo.

Mas não são apenas as atuações do narcotráfico que estão levando tensão ao processo eleitoral.

Os pedidos de boicote por parte de sindicatos de professores e dos pais dos 43 estudantes desaparecidos no último dia 26 de setembro na cidade de Iguala faz temer um grande número de casos de violência em colégios eleitorais. Principalmente no estado de Guerrero, onde os pais desses jovens exigiram que o pleito não seja realizado por falta de segurança, uma possibilidade descartada pelo Instituto Nacional Eleitoral (INE).

Outro estado que vive um clima de grande tensão é o de Oaxaca, onde membros da Coordenadoria Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE) anunciaram que planejam tomar instalações do INE para evitar a realização das eleições.

Apesar de o INE garantir que o país inteiro está pronto para as eleições, os diferentes focos de tensão e de violência mantêm aberta a possibilidade de que em algumas regiões os pleitos sejam manchados por sangue. EFE

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