Após um mês de terror, moradores de Bucha retornam para a cidade

Região foi palco de um dos combates mais violentos desde o início da guerra com a Rússia e ficou devastada; dezenas de civis foram massacrados pelas tropas de Vladimir Putin

  • Por Jovem Pan
  • 12/04/2022 14h24
RONALDO SCHEMIDT / AFP massacre em Bucha

A cidade de Bucha, na Ucrânia, ganhou destaque no mundo após imagens de corpos de civis largados pelas ruas começarem a circular nas redes sociais. A região, tomada pelas tropas russas no dia 27 de fevereiro, foi recentemente recuperada pelos ucranianos que encontraram um o local massacrado, pois foi palco de um dos combates mais violentos desde o início da guerra com a Rússia, que já chega ao 48º dia. Além das mortes e das diversas valas que foram abertas para poder enterrar os mortos – já que os três cemitérios da cidade estavam ao alcance dos disparos russos, tornando-os inacessíveis -, edifícios devastados, carcaças de carros e ruas repletas de escombros também fazem parte de Bucha.

No dia 12 de março, as tropas da Ucrânia perderam o controle da região, e só puderam retornar no dia 31, quando os russos deixaram o local. Mas, durante o tempo que estiveram por lá, os combates em torno de Bucha não cessaram. De acordo com a Associated Press, até os espaços que eram utilizados pelas crianças serviam de bases para as atrocidades. Os playgrounds estão vazios. Um acampamento infantil foi utilizado como campo de execução, e manchas de sangue e buracos de bala marcam o porão. Pessoas mortas com mãos amarradas, mulheres estupradas na frente dos filhos, execuções, são as alegações de crimes de guerra que a Ucrânia acusa a Rússia de ter cometido em Bucha.

Nos dias posteriores a recuperação da região, começaram a surgir os primeiros testemunhos. “Diante dos meus olhos, eles atiraram contra um homem que estava indo buscar comida no supermercado” contou Olena, que viveu durante um mês em um porão sem eletricidade com seus dois filhos. Segundo ela, as chacinas começaram duas semanas depois do início da invasão, com a chegada de homens diferentes das tropas de ataque que tomaram a cidade. Eram agentes do serviço de segurança russo FSB, segundo disseram a Olena soldados russos. Essas revelações não se limitam a Bucha. Em Motyzhyn, 50 km a oeste de Kiev, quatro corpos foram enterrados em uma vala aberta na floresta. Entre eles estava a prefeita da cidade, seu marido e seu filho, que estavam desaparecidos. Em Bucha, moradores seguem tentando saber o que tinha acontecido com seus familiares desaparecidos.

Um mês após o ocorrido, as pessoas começaram a voltar para sua cidade. “Estamos muito felizes que nossas forças armadas conseguiram expulsar esses bastardos”, exclama Hanna Predko, de 31 anos, que tinha fugido com seus três filhos e retornou para Bucha na quinta-feira, 7. “Agora todo mundo conhece esse lugar, infelizmente por um preço alto”, acrescenta a jovem que, junto com a mãe, distribuiu comida para os moradores na praça da cidade. “Estou muito, muito feliz por voltar e ver nossa bandeira nacional após a libertação de nossa cidade pelo exército ucraniano. Glória à Ucrânia!”, diz Natalia Predko, de 69 anos, se referindo a bandeira do país que foi posta na prefeitura na cidade. Em uma praça em frente à prefeitura, jovens voluntários distribuem alimentos. Dezenas de habitantes, a maioria idosos, recolhem o que precisam.

Os moradores relatam que há uma semana, quando os soldados russos partiram, eles pegaram tudo o que podiam. Martin Griffiths, subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, visitou brevemente a cidade. “O mundo está profundamente chocado” com os crimes cometidos, particularmente em Bucha, disse. “A próxima etapa é conduzir uma investigação”, acrescentou. Em frente a uma vala comum perto de uma igreja branca, o arcebispo Sviatoslav Shevchuk, chefe da Igreja Greco-Católica Ucraniana, reza. “Aqui vimos o genocídio do povo ucraniano”, comentou. “Rezamos porque o juiz mais importante é Deus, mas a justiça deve ser feita também aqui. Caso contrário, se não condenarmos esse crime, ele se repetirá”, acrescenta.

*Com informações da AFP

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