Por que argentinos estão criando contas laranja para comprar dólares?

O Banco Central da Argentina confiscou na última terça-feira 15 mil contas laranja, pessoas suspeitas de abrir contas com o objetivo de comprar dólares para terceiros

  • Por Jovem Pan
  • 02/09/2020 11h25 - Atualizado em 02/09/2020 11h40
EFE Coronavírus em Buenos Aires Quinze mil contas laranja foram confiscadas na Argentina nesta semana

O Banco Central da Argentina confiscou na última terça-feira, 1º, 15 mil contas laranja, pessoas suspeitas de abrir contas com o objetivo de comprar dólares para terceiros. Mas por qual motivo os nossos vizinhos estão tentando driblar a regra do governo de Alberto Fernández, que limita a compra de 200 dólares ao mês no câmbio oficial? Monica Yanakiew, correspondente para a América Latina da Jovem Pan, explica que a moeda estadunidense é muito valorizada no país e que vendê-la no mercado negro não é muito vantajoso para os nossos vizinhos. “Sempre existe a opção de câmbio negro, mas ele é muito mais alto. Só para você ter uma ideia: o câmbio oficial vale 74 pesos, enquanto o “dólar blue” ou “negro” vale 129. E tem vários outros tipos de dólares na Argentina, como o dólar turismo, o dólar bolsa e outros”, disse.

Depois de décadas de crise financeira e inflação crônica, a população argentina passou a valorizar ainda mais o dólar, classificando a moeda como uma garantia em meio à instabilidade do país. “Então, eles preferem comprar dólares e guardar em casa porque sabem que a moeda norte-americana sempre irá subir ou, pelo menos, não irá se desvalorizar do dia para  a noite. Não podemos esquecer que a inflação anual de 2019 foi de 50%. E eu não tô falando de pouco dinheiro, não. Estou falando de guardar, literalmente de baixo do colchão, na geladeiras, em cofres, vasos de planta e tudo mais, quantias que podem chegar a 50 mil dólares ou até mais”, detalhou Monica.

A ideia de burlar o sistema que limita a compra de dólares, no entanto, não é novidade. Nos anos em que Cristina Kirchner era a mandatária na Argentina (2007-2015), a regra também vigorava e os argentinos davam um “jeitinho” para angariar mais dinheiro americano. “Na época não havia pandemia e as pessoas podiam viajar. Então, o que os argentinos perceberam: se eles comprasse passagens para o exterior, era um bom negócio. Isto porque eles conseguiam comprar passagens com o dólar oficial, que era mantido artificialmente baixo. A saída do governo foi taxar as passagens e limitar o saques de cartão de débito e crédito. Então, os argentinos cruzavam o Rio da Prata para sacar dólares no Uruguai e vendê-los no mercado negro na Argentina”, recordou a jornalista da Jovem Pan.

As consequências da alta procura pelo dólar, no entanto, podem colocar a Argentina ainda mais no buraco. “Cada vez que a economia anda mal na Argentina, os argentinos correm para comprar dólares, o que faz com que a moeda se valorize e os preços aumentem. Na Argentina, se o dólar sobe, o pão argentino, que é feito com farinha argentina e pelo padeiro argentino, ele também sobe. E com o aumento dos preços, vem o aumento da inflação. O peso passa a valer menos e vira um ciclo vicioso”, explicou Monica.

 

 

 

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