‘Brasil não aceita mundo em que diferenças são resolvidas pelo uso da força militar’, diz Mauro Vieira na abertura do G20

Ministro do governo Lula criticou a ‘paralisia’ do Conselho de Segurança da ONU na resolução de conflitos globais; reunião de chanceleres é realizada no Rio de Janeiro porque o país exerce a presidência transitória

  • Por Jovem Pan
  • 21/02/2024 15h04 - Atualizado em 21/02/2024 15h54
MAURO PIMENTEL/AFP Visão geral da reunião dos ministros das Relações Exteriores do G20 no Rio de Janeiro, Brasil Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil, discura para outros chanceleres presentes em reunião do G20

O ministro das Relações Exteriores do governo Lula, Mauro Vieira, fez o discurso de abertura da primeira reunião ministerial do G20 sob a presidência brasileira, no Rio de Janeiro. Em meio a um embate com a chancelaria israelense, desencadeado por uma fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que comparou a ação do exército de Israel na Faixa de Gaza ao Holocausto, Vieira disse que este encontro terá como tema a reforma da governança global, chamou a atenção para o alto número de conflitos ao redor do mundo e destacou o papel do Brasil como mediador. “A governança global precisa de profunda reformulação. Nossas diferenças devem ser resolvidas ao amparo do multilateralismo e das Nações Unidas, nunca por meio de conflitos armados”, disse o chede do Itamaraty. “O Brasil não aceita um mundo em que as diferenças são resolvidas pelo uso da força militar. O Brasil rejeita a busca de hegemonias, antigas ou novas. Não é do nosso interesse viver em um mundo fraturado.”

Vieira também demonstrou preocupação com a “paralisia” do Conselho de Segurança da ONU, especialmente diante dos conflitos em curso na Faixa de Gaza e na Ucrânia, observando que essa inércia tem consequências diretas e devastadoras. São mais de 170 conflitos armados ao redor do globo, observou o chanceler. “As instituições multilaterais não estão devidamente equipadas para lidar com os desafios atuais, como demonstrado pela inaceitável paralisia do Conselho de Segurança em relação aos conflitos em curso. Esse estado de inação implica diretamente em perdas de vidas inocentes”, disse Mauro Vieira. “Esse grupo é, possivelmente, o fórum mais importante onde países com visões opostas ainda conseguem sentar à mesa e ter conversas produtivas sem necessariamente carregar o peso de posições arraigadas e rígidas que têm impedido avanços em outros foros. O G20 pode e deve desempenhar um papel fundamental para redução das tensões internacionais, bem como no avanço da agenda de desenvolvimento sustentável.”

Iniciado nesta quarta-feira, 21, o encontro de ministros das Relações Exteriores vai até amanhã. Além da mudança na governança global, os outros temas escolhidos pelo governo brasileiro foram transição energética e o combate à fome, à pobreza e à desigualdade. Participam do G20 as 19 maiores economias mundiais, a União Europeia e a União Africana. O encontro deste mês não é o único a ser realizada na presidência temporária do Brasil. Em novembro, o Rio de Janeiro sediará novo encontro do grupo, desta vez com os chefes de Estado.

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