Como uma vitória de Biden pode mudar a relação entre EUA e Brasil?

De acordo com dois dos três especialistas consultados pela Jovem Pan, uma vitória de Biden pode mudar consideravelmente a relação entre Brasil, liderado por Jair Bolsonaro, e os EUA

  • Por Pedro Sciola
  • 04/10/2020 11h00
EFE/EPA/CJ GUNTHER Joe Biden é candidato à presidência dos Estados Unidos

Joe Biden está à frente de Donald Trump nas pesquisas de intenção de voto na eleição presidencial dos Estados Unidos. Favorito até o momento, o democrata ainda viu seu rival ser contaminado pelo novo coronavírus, o que pode favorecê-lo nesta reta final de campanha – a votação está marcada para o dia 3 de novembro deste ano. De acordo com dois dos três especialistas consultados pela Jovem Pan, uma vitória de Biden pode mudar consideravelmente a relação entre Brasil, liderado por Jair Bolsonaro, e os EUA. Professora de Relações Internacionais na FAAP, Fernanda Magnota é uma das que acredita em uma quebra de harmonia entre as duas nações em caso de troca de poder no país norte-americano.

“Esses impactos tendem a ser profundos e delicados, porque o governo Bolsonaro buscou uma ligação estreita não com os Estados Unidos em si, mas com o governo Trump, particularmente. E quando fazemos política de governo e não de Estado, as trocas típicas da democracia podem ser um ponto de vulnerabilidade. Então, o governo democrata, em um primeiro momento, será muito crítico em relação à agenda brasileira. Existirão alguns pontos sensíveis, sobretudo ligados à questão comercial, meio ambiente, direitos sociais e como isso impacta nas cláusulas contratuais. Isso para não falar em aspectos ideológicos na visão de mundo. Hoje, o prognóstico é de que, embora exista o grupo pró-business, dos grupos de interesse de que haja a possibilidade de uma continuidade, do ponto de vista mais institucional, deve haver, sim, uma dificuldade crescente. Até porque o próprio Joe Biden e a Kamala Harris (vice) endereçaram críticas diretas ao governo brasileiro. Então, a perspectiva não é muito positiva, não”, analisa Fernanda.

Analista político da XP, Victor Scalet entende que a eleição de Joe Biden pode ter mudanças mais profundas para o Brasil, mas desde que o Senado americano passe a ser formado majoritariamente por democratas – atualmente, o Congresso dos EUA é dividido (Republicanos lideram Senado, enquanto os Democratas são maioria na Câmara). Para embasar seus argumentos, ele lembrou do primeiro debate entre os presidenciáveis, realizado na última terça-feira, 30, quando Biden mencionou o Brasil e sugeriu criar um fundo para conceder 20 bilhões de dólares para acabar com as queimadas na Amazônia. “No debate teve uma novidade: o Brasil foi um dos poucos países citados. Neste debate, por exemplo, praticamente não falaram da China, que é um tema muito importante na política americana. E o Brasil foi citado e criticado pelas queimadas na Amazônia, mas teve uma subida de tom adicional, que não havia acontecido antes. O Biden falou em fazer um consórcio de países para dar 20 bilhões de dólares para o Brasil para eles pararem de queimar a Amazônia. E, se o Brasil não parar, que o país enfrente sanções econômicas severas. Então, foi uma ameaça. Isso merece ser notado”, pontuou.

“Pensando em impactos para mercado, a gente fez uma pesquisa sobre principais impactos no mercado de ativos, na Bolsa e no câmbio, especialmente. E, em uma situação com Biden ou Trump eleitos, mas com o Senado continuando dividido, é mantido nosso cenário com bolsa em 115 mil pontos no final desse ano e câmbio a R$ 5,20. Um cenário alternativo com maior impacto: uma eleição do Biden com larga vantagem, e com o Senado passando a ser dominado por democratas. Neste caso, abriria mais chancela e mais possibilidade do partido democrata colocar suas visões de maneira mais expressivas, transformando suas visões em política de maneira mais expressiva. E aí existe uma preocupação com aumento de impostos para empresas e indivíduos, isso tem algum impacto. Isso poderia afetar mais Bolsa e câmbio pensando no Brasil”, conclui o profissional da XP.

Já Manuel Furriela, professor de Relações Internacionais da FMU, não vê um cenário tão diferente do atual em caso de triunfo de Biden nas urnas. “O presidente do Brasil e o atual presidente dos EUA são muito alinhados e têm visões parecidas de como conduzir os países. Eles seguem visões parecidas. Nunca um presidente americano esteve tanto com um presidente brasileiro quanto agora. Há uma proximidade, mas não acredito que, se o Biden vencer, o Brasil terá problemas. Eu acredito que o governo do presidente Bolsonaro será mais cobrado a ter posições, principalmente, no setor do meio ambiente. Haverá uma repercussão de maior cobrança e imposições, principalmente no meio ambiente”, opina.

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