Conflito chega ao 3º dia com 48 mortos na Faixa de Gaza e 6 em Israel

ONU alertou que muitas pessoas ‘comuns’ estão pagando o preço da disputa, que é a pior violência entre israelenses e palestinos em anos e pode se transformar em uma ‘guerra em grande escala’

  • Por Jovem Pan
  • 12/05/2021 10h59 - Atualizado em 12/05/2021 18h15
EFE/EPA/HAITHAM IMAD Fumaça e chamas aumentam após um ataque aéreo israelense na Cidade de Gaza nesta quarta-feira, 12 Fumaça e chamas aumentam após um ataque aéreo israelense na Cidade de Gaza nesta quarta-feira, 12

O conflito entre Israel e a Faixa de Gaza chegou ao terceiro dia nesta quarta-feira, 12, com um saldo de 54 mortos. Entre os israelenses, foram seis vítimas fatais, incluindo três mulheres e uma adolescente. Entre os palestinos, foram 48 vidas perdidas, incluindo a de 14 crianças e três mulheres, além de mais de 300 feridos. Até agora, Israel foi responsável por mais de 500 bombardeios na Faixa de Gaza, enquanto os grupos Hamas e Jihad Islâmica dispararam 850 projéteis e dois mísseis em direção ao território israelense. Porém, mais de 200 disparos falharam e caíram na própria Faixa de Gaza e 90% dos foguetes restantes foram interceptados por Israel antes que causassem danos. Ainda assim, as cidades israelenses de Tel Aviv, Lod e Ashkelon foram atingidas e o Aeroporto Internacional Ben Gurion, o principal do país, teve que ser fechado por precaução. Milhares de israelenses passaram a noite em abrigos antiaéreos. Enquanto isso, bairros inteiros de Gaza amanheceram sob escombros, sendo que um edifício residencial de 13 andares desabou na noite de terça-feira, 11.  As autoridades militares de Israel afirmam que, com isso, foram mortos vários oficiais superiores do Hamas e destruídas instalações do grupo palestino. Porém, a Faixa de Gaza não possui sistemas de defesa aérea e nem abrigos para que os civis possam se proteger, motivo pelo qual muitos estariam morrendo, segundo as autoridades de saúde locais. A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que muitas pessoas “comuns” estão pagando o preço do conflito, que a entidade considera ser a pior violência entre israelenses e palestinos em anos. O órgão também afirmou que as disputas podem se transformar em uma “guerra em grande escala” e pediu que a violência cesse imediatamente.

Cisjordânia e Lod

Os acontecimentos na Faixa de Gaza estão causando protestos promovidos pelos palestinos que vivem na Cisjordânia, a cerca de 80 quilômetros de distância, e em cidades árabes-israelenses como Lod e Acre. 270 pessoas foram presas por suspeita de envolvimento nos tumultos e dois palestinos foram mortos a tiros pelo exército israelense na manhã desta quarta-feira, 12. Israel decretou estado de emergência em Lod, especificamente, após confrontos entre as comunidades judaica e muçulmana causarem incêndios em três sinagogas, diversas lojas e 30 carros. O prefeito da cidade, Yair Revivo, disse em entrevista ao canal de notícias israelenses Channel 12 que “perdeu” o controle das ruas. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou na sequência que seriam enviados reforços para as forças de segurança de Lod e Acre.

Como o conflito começou?

Os primeiros lançamentos de foguetes feitos pelo Hamas foram uma resposta aos ataques de Israel contra a Mesquita Al-Aqsa nos últimos três dias. O templo religioso em Jerusalém, que é o terceiro lugar mais sagrado para os muçulmanos, foi ocupado por fiéis nos últimos dias do mês sagrado do Ramadã. Ao perceberem a intenção da polícia de entrar no local, eles atiraram alguns objetos contra os agentes na tentativa de impedi-los porque a sua religião considera proibida a entrada de soldados armados e com calçados na mesquita. As autoridades de israelenses responderam com balas de borracha, granadas de atordoamento e bombas de gás lacrimogênio. Pelo menos 700 palestinos ficaram feridos durante esses confrontos.

Os muçulmanos tinham ocupado a mesquita porque temiam que ela fosse alvo dos judeus ortodoxos durante o “Dia de Jerusalém”, feriado nacional que comemora a tomada da cidade por Israel em 1967. Em um evento considerado ilegal pelas leis internacionais, israelenses de extrema-direita costumam usar esse dia como uma desculpa para marchar pela Cidade Velha, passando inclusive por bairros muçulmanos. As autoridades israelenses chegaram a pedir que a marcha não fosse realizada esse ano, mas a recomendação foi ignorada. Além disso, os palestinos também temem que Israel esteja planejando destruir a Mesquita Al-Aqsa para reconstruir o Terceiro Templo Judaico. Isso porque o Monte do Templo, onde fica a mesquita, é também considerado o lugar mais sagrado para os judeus.

No entanto, desde o início do mês já vinham acontecendo protestos contra a expulsão de famílias palestinas do bairro ocupado de Sheikh Jarrah, em Jerusalém. Há anos os palestinos são impedidos de construir novas casas na região e, por isso, acabam erguendo suas moradias mesmo sem ter conseguido obter as licenças de construções exigidas. Isso resultou em uma onda de expulsões e demolição de casas irregulares, que contribuíram para reacender a raiva dos palestinos contra as autoridades locais e as discriminações a que são submetidos dentro do território israelense. Com o aumento das tensões, Israel decidiu adiar a decisão sobre a expulsão forçada de quatro famílias que vivem em Sheikh Jarrah. O anúncio, feito no domingo, 9, foi uma vitória momentânea para os manifestantes palestinos que protestaram incansavelmente durante dias.

Após a ocupação de Jerusalém por Israel em 1967, grupos de colonos deram início a batalhas legais para tomarem a área, alegando que a terra era uma propriedade judaica perdida na guerra de 1948. Só em 2002, 43 palestinos já foram forçados a sair de Sheikh Jarrah e tiveram suas casas ocupadas por israelenses. Casos semelhantes voltaram a acontecer em 2008 e 2017. Os palestinos temem que, com a iminência de novas expulsões esse ano, o governo de Israel esteja ajudando a comunidade judaica a ocupar e se tornar maioria nessa parte de Jerusalém.

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