Democratas voltam atrás e decidem não intimar testemunhas no processo de impeachment contra Trump

Deputados entraram em acordo com a defesa do antigo mandatário; medida atrasaria o julgamento, que agora deve terminar ainda neste sábado, 13

  • Por Jovem Pan
  • 13/02/2021 17h08
EFE/EPA/CHRIS KLEPONIS / POOL Donald Trump Partidos não têm interesse em prolongar o processo

Após terem aprovado a convocação de testemunhas no processo de impeachment do ex-presidente Donald Trump, deputados democratas voltaram atrás na decisão, depois de um acordo com a defesa do antigo mandatário. Com isso, o processo, que provavelmente seria atrasado, deve terminar ainda neste sábado, 13. As duas partes concordaram que uma declaração publicada ontem à noite pela deputada republicana Jaime Herrera Beutler, de linha moderada e que foi uma das 10 congressistas republicanas que votaram na Câmara dos Representantes a favor do impeachment, será admitida como prova.

Beutler ganhou grande importância nas últimas horas, após revelar publicamente em um comunicado detalhes sobre um telefonema entre Trump e o líder republicano, Kevin McCarthy, durante o ataque ao Capitólio, no dia 6 de janeiro deste ano. Herrera Beutler disse que conhece o conteúdo da ligação porque McCarthy contou a ela. Segundo a parlamentar, Trump se recusou a ajudar os legisladores quando uma multidão invadiu o Congresso norte-americano. Especificamente, de acordo com a deputada, McCarthy tentou várias vezes falar com Trump e, quando finalmente conseguiu, pediu a ele que condenasse publicamente o ataque e pedisse a seus seguidores que parassem, o que o então presidente recusou. “Bem, Kevin, acho que essas pessoas estão mais zangadas com a eleição do que você”, teria respondido Trump a McCarthy.

Partidos não têm interesse em prolongar o processo

Para dissuadir senadores da ideia de prolongar o julgamento, Michael van der Veen, advogado de Trump, disse que precisaria convocar mais de 100 depoimentos. Ele afirmou que pediria o depoimento da vice-presidente, Kamala Harris, e provocou risos de deboche ao sugerir que solicitaria que os testemunhos fossem colhidos presencialmente em seu escritório na Filadélfia. Nenhum dos partidos têm interesse em prolongar o processo contra Trump. No caso dos republicanos, a intenção é virar a página de uma marca negativa para o partido e absolver rapidamente Trump, que mantém influência sobre a base eleitoral da legenda. Já os democratas querem liberar a agenda do Congresso para negociar o pacote de socorro econômico proposto pelo governo Joe Biden para aliviar as consequências da pandemia de coronavírus.

Com isso, espera-se que hoje democratas e a defesa de Trump apresentem seus argumentos finais e, em seguida, votem a favor da condenação ou absolvição do ex-presidente. O número de republicanos que têm se alinhado com democratas no Senado, nas duas votações sobre o impeachment desta semana, mostra que a maioria dos senadores do partido não pretende condenar Trump. A acusação precisa de 67 votos para condenar o ex-presidente. O Senado está atualmente dividido entre 50 senadores democratas e 50 republicanos. Isso significa que os democratas precisam de 17 votos de republicanos contra Trump, número bem distante dos cinco votos da oposição obtidos hoje e seis votos pela constitucionalidade do julgamento, em votação na última terça-feira.

Argumentos da defesa e da acusação

O Senado ouviu argumentos da acusação e da defesa nos últimos três dias, em um curto e inédito processo de impeachment. Trump é o primeiro presidente a sofrer um impeachment após deixar a Casa Branca. A acusação — formada por deputados democratas — argumenta que a insistência de Trump na narrativa de que houve fraude eleitoral e a incitação à violência durante os anos de presidência do republicano foram determinantes para a invasão do Congresso americano no dia em que parlamentares realizavam a certificação da vitória de Joe Biden.

A acusação apresentou aos senadores vídeos que mesclam trechos do discurso de Trump no dia da invasão, cenas do ataque ao Capitólio e imagens inéditas do circuito de segurança do Congresso para sensibilizar os senadores e criar a linha do tempo dos acontecimentos. Os democratas também apresentaram depoimentos de invasores que disseram ter seguido ordens do então presidente ao invadir o Capitólio. Os democratas argumentam que o republicano pode incitar novamente a violência civil no país se não for punido no processo de impeachment e impedido de voltar ao poder. Já a defesa de Trump alega que o impeachment de um presidente fora do cargo é inconstitucional e que o instrumento foi previsto para a remoção do chefe do executivo, não para a perda de seus direitos políticos.

Os advogados também sustentam que o discurso do presidente no dia do ataque o Capitólio, no qual ele pediu que seus apoiadores “lutassem como o inferno” por ele é parte de um discurso político tradicional, protegido pelo direito à livre expressão, previsto na Primeira Emenda da Constituição americana. Os advogados argumentam que Trump não pode ser responsabilizado pelo ataque ao Capitólio e que ele é vítima de uma caça às bruxas.

* Com EFE

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