Destruição da represa de Kakhovka afeta Rússia e Ucrânia e ameça deixar Crimeia sem água

Península foi anexada por Moscou em 2014, e Kiev pretende recuperar a região; até agora, 24 localidades ucranianas foram inundadas e cerca de 18 mil civis tiveram de ser retirados

  • Por Jovem Pan
  • 06/06/2023 13h53 - Atualizado em 06/06/2023 13h59
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Satellite image ©2023 Maxar Technologies / AFP represa na Ucrânia Represa de Kakhovka, na Ucrânia, que foi destruída por ataque de origem ainda deconhecida

A destruição da represa de Kakhovka, a qual a autoria é desconhecida, já que Rússia e Ucrânia se acusam, é uma perda para os dois países e gera uma preocupação, não só em relação à chance de inundação em cerca de 80 cidades, como o abastecimento de algumas regiões. “Até agora, 24 localidades na Ucrânia foram inundadas”, disse o ministro do Interior, Igor Klymenko, e mais de 17 mil civis tiveram de ser retirados das áreas inundadas, segundo o promotor Andrii Kostin. “Mais de 40 mil pessoas podem estar em áreas inundadas. Infelizmente, mais de 25 mil civis estão no território sob controle russo”, disse o promotor ucraniano Andrii Kostin no Twitter. Um funcionário de alto escalão instalado pelos russos na parte da região de Kherson (sul) sob seu controle anunciou a retirada de cerca de 900 pessoas das áreas ocupadas perto do rio Dnieper. Construída em 1956, durante o período soviético, a represa hidrelétrica de Kakhovka permite enviar água para o canal da Crimeia do Norte, que começa no sul da Ucrânia e atravessa toda a península da Crimeia, ocupada e anexada por Moscou desde 2014. Na mesma área fica o reservatório de Kakhovka, um depósito de água artificial formado no rio Dniepre, com 240 km de comprimento e até 23 km de largura. A destruição da represa pode provocar grandes dificuldades para o abastecimento de água da Crimeia, um território que Kiev deseja recuperar. Isso porque a barragem da usina hidrelétrica é de grande importância, não só por suas capacidades energéticas, mas também porque conecta as margens direita e esquerda do rio Dniepre, que se tornou a linha de frente entre os Exércitos russo e ucraniano. Para o porta-voz o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov, um dos objetivos do ataque era deixar sem água a península da Crimeia, que, no entanto, tem reservas suficientes em seus reservatórios para o momento. Em outubro, em um momento de intensos combates na região durante uma contraofensiva bem-sucedida de Kiev, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou as tropas russas de terem instalado minas na represa e em unidades da central.

A represa de Kakhovka é uma infraestrutura crucial do sul da Ucrânia, que fornece água para a península da Crimeia, anexada pela Rússia. A central hidrelétrica, que tem uma potência de 334,8 megawattss, segundo a operadora ucraniana Ukrgidroenergo, e a represa foram ocupadas pelas tropas russas no início da invasão da Ucrânia, que se encaminha para seu segundo ano – o conflito começou em 24 de fevereiro de 2022. O dique da barragem, de concreto e terra, tem 16 metros de altura e 3.273 metros de comprimento. É uma das maiores infraestruturas do tipo na Ucrânia. A represa, sobre o rio Dniepre a 150 quilômetros de distância da central nuclear de Zaporizhzhia, está na linha de frente entre as regiões controladas por Moscou e o restante da Ucrânia, no momento em que as tropas de Kiev organizam operações para testar as defesas russas antes de uma grande contraofensiva. O incidente desta terça-feira inundou várias localidades, total ou parcialmente, segundo as autoridades ucranianas, que denunciaram “um crime de guerra” da Rússia. “O objetivo dos terroristas é evidente: criar obstáculos para as ações ofensivas das Forças Armadas ucranianas”, declarou Mikhailo Podoliak, conselheiro da Presidência. Segundo o ministro do Interior da Ucrânia, Igor Klymenko, a destruição da represa fez com que o Rio Dniepre fosse contaminado com cerca de 150 toneladas de óleo hidráulico.

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Imagens de satélites da represa Kakhovka antes da destruição │AFP / SATELLITE IMAGE ©2022 MAXAR TECHNOLOGIES

“Durante a explosão das fundações da barragem da usina hidrelétrica de Kakhovka, a sala de máquinas também foi destruída”, afirmou Klymenko, acrescentando que no momento da explosão havia “450 toneladas de óleo hidráulico na casa de máquinas” e que desse total 150 estão no rio agora. De acordo com ele, essa substância poluentes desce em grande velocidade pelo curso do rio até chegar no mar Negro. As autoridades ucranianas afirmaram que estão trabalhando neste momento para conter as consequências do vazamento. A destruição parcial da barragem suscita temores de consequências para a usina nuclear de Zaporizhzhia, localizada 150 quilômetros rio acima, porque garante o seu resfriamento. No entanto, “não há perigo nuclear imediato”, enfatizou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), acrescentando que seus especialistas na instalação estão monitorando a situação. Assim como a represa, a usina está localizada em uma área ocupada pelas forças russas desde a invasão que lançaram em fevereiro de 2022. O diretor da usina, Yuri Chernichuk, nomeado pelos ocupantes russos, afirmou que “atualmente não há ameaças” para a segurança da instalação.

*Com informações das agências internacionais

 

 

 

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