Divisão do eleitorado dificulta formação de governo em Israel e pode fazer extrema-direita chegar ao poder
País vai para quinta eleição em menos de quatro anos; especialista acredita que votação do dia 1º de novembro não será definitiva e os israelenses devem enfrentar mais um processo de escolha do Parlamento
Pela quinta vez em menos de quatro anos, Israel vai ter eleição geral para tentar formar um novo governo. A data escolhida para votação é a próxima terça, dia 1º de novembro. Benjamin Netanyahu, que já governou o país por doze anos e deixou o cargo de primeiro-ministro em 2021, é o nome mais cotado para vencer. Desde o final de junho, quando o premiê Naftali Bennett deixou de ser premiê, Yair Lapid, que tenta se eleger, está no comando. Contudo, os resultados não são muito promissores para ele. Uma pesquisa publicada no jornal Haaretz, aponta que o partido trabalhista, que por décadas governou o país, deve alcançar apenas 4 cadeiras de um total de 128. Por outro lado, o conservador Likud, de Benjamin Netanyahu, que conta com o apoio da extrema-direita para voltar ao poder, aparece na liderança com 31 assentos. Samuel Feldberg, cientista político e pesquisador do Centro Dayan da Universidade de Tel Aviv, afirma que a vitória de Netanyahu é certa, porém, basta saber se “consegue formar um bloco para formar um novo governo, porque uma característica interessante do processo eleitoral de Israel é que o partido que tem a maior quantidade de votos não obrigatoriamente vai ser o primeiro indicado para formar um governo”.
O especialista explica o que acontece em Israel que faz com que ele tenha dificuldade de conseguir um governo estável. Desde 2019, o país entrou em um ‘loop’ que não parece perto do fim. Feldberg fala que, diferente do Brasil, em que você vota em um candidato e o que receber mais votos vence e vai ser o novo governante, em Israel, “ganhar a eleição não é suficiente, vai ser determinado o partido que venceu a eleição, mas na etapa seguinte esse partido tem que conseguir formar um governo”, e é nesse momento que os eleitos têm apresentado falhas, porque não tem conseguido realizar uma formação. “O eleitorado está tão dividido que o resultado da eleição não permite formar um governo de maioria”, explica. Ele lembra que na última eleição, realizada em março de 2021, o partido de centro conseguiu formar um governo aliado aos partidos da esquerda, partidos árabes e alguns membros da direita – algo histórico no país – e até conseguiram formar um governo, porém, durou só um ano. Para Feldberg, as eleições de agora não devem ser definitivas, ele acredita que os israelenses vão ter que passar por mais uma eleição. “É provável que mais uma vez haja um impasse e não seja possível formar um novo governo, o que convocaria a sexta eleição daqui a três meses”, diz o especialista.
A chegada de Netanyahu preocupa alguns eleitores porque ele ainda está sendo julgado por suborno, fraude e quebra de confiança – ele é acusado de aceitar US$ 264 mil em presentes de magnatas, negociar com um jornal para obter uma cobertura mais favorável para seu governo e conceder favores regulatórios à principal empresa de telecomunicações israelenses. O ex-premiê nega as acusações – ele também está apostando em alianças com a extrema-direita e ultraortodoxos para conseguir alcançar o que trabalha desde o começo da campanha, que é reunir os 61 assentos (mínimo para maioria) para formar um “governo de direita”. Com esses partidos, o Likud estaria perto de alcançar a maioria, segundo as pesquisas. Um dos principais nomes dessa aliança tem sido Itamar Ben Gvir, um extremista que já integrou uma organização considerada criminosa pelos EUA e que defende a expulsão de árabes-israelenses. Ele ganha o apoio do público nos últimos dias. Em dois anos, ele saiu de 0,42% dos votos e hoje se tornou a terceira força política. Se Netanyahu vencer, Ben Gvir deve assumir um dos mais altos cargos no ministério, o que dá liberdade para que ele aplique suas políticas extremistas e faça com que o país fique diante de um grande retrocesso em décadas.
Contudo, como explica Feldberg, “o partido que tem a maior quantidade de votos não obrigatoriamente vai ser o primeiro indicado para formar um governo”, com isso, “se a maior parte dos partidos indicar o Lapid para formar um governo, ele tem a primeira chance de criar uma coalizão”. Para Netanyahu, a coalizão heterogênea de Lapid, seu principal adversário, é “uma experiência perigosa e catastrófica”. “É hora de dizer ‘jalas’ (“basta”, em árabe)”, afirmou Bibi em comício eleitoral na noite de domingo. Apesar de estar atrás nas pesquisas, nos últimos meses, o líder centrista, que está temporariamente no cargo de primeiro-ministro, viu seu partido melhorar nas pesquisas e multiplicou as iniciativas diplomáticas viajando à Alemanha e à França para discutir o programa nuclear iraniano e um acordo de fronteira com o Líbano. No sistema proporcional israelense, os partidos devem obter um mínimo de 3,25% dos votos para ter deputados no Parlamento. Independente de quem vencer, Feldberg aponta que existem alguns problemas no país que necessitam de mais atenção do governo, como: custo de visa, que é muito alto em Israel, habitacional – as pessoas não estão conseguindo comprar casa própria e o governo não tem feito muita coisa – e segurança no setor da minoria árabe.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.