Entenda por que a Turquia é contra adesão de Finlândia e Suécia à Otan
Presidente Recep Tayyip Erdogan disse que não vai apoiar o ingresso dos países nórdicos na Aliança e nada o fará mudar de ideia; para serem aprovados, os 30 membros precisam votar a favor
A Finlândia confirmou nesta terça-feira, 17, sua candidatura à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) depois que o Eduskunta, o parlamento finlandês, aprovou com 95% de consentimento, sendo 188 votos a favor, oito contra e nenhuma abstenção, a solicitação para adesão à Aliança. Seguindo os passos do país nórdico, a Suécia também deu um passo importante rumo a adesão à Otan. A ministra de Relações Exteriores, Ann Lide, assinou a carta em que o país solicita sua participação. As solicitações dos dois países nórdicos devem ser encaminhados juntas na quarta-feira, 18. Entretanto, a aceitação de ambos pode ser vetada por um país que já se mostrou contra, a Turquia.
Na quinta-feria, 12, quando começaram as movimentações para o ingresso dos dois países nórdicos, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, celebrou o novo passo da Finlândia e declarou que a candidatura “seria recebida calorosamente, com um processo fluído e rápido”. O Reino Unido também se mostrou favorável à adesão dos dois países à Aliança, afirmando que eles “apoiam fortemente a candidatura finlandesas e sueca” e que ambos “devem aderir o mais rápido possível, pois a sua adesão fortalecerá a segurança coletiva da Europa”, disse a secretária de Relações Exteriores britânica, Liz Truss, em um comunicado. Para que os países sejam aceitos é preciso passar por um processo em que os 30 membros precisam aprovar. Até o momento, de todos os participantes, o único que se mostrou contra foi a Turquia. Apenas um veto é necessário para que o processo de adesão não seja concretizado.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou um dia antes do pronunciamento oficial da Finlândia que não aprovará a entrada dos países nórdicos, e que as delegações dos dois países que não deveriam se incomodar em ir até Ancara para convencê-lo a mudar de ideia. “Eles estão vindo para a Turquia. Eles estão vindo para nos convencer? Desculpe, mas eles não devem se cansar”, disse Erdogan. Finlândia e Suécia decidiram abandonar a neutralidade após o ataque da Rússia à Ucrânia – que já beira os três meses. A invasão causou uma mudança na opinião pública dos dois países e ocasionou em uma decisão histórica. Os motivos que levam os turcos a não serem favoráveis a adesão está associado a problemas do passado.
Por que a Turquia é contra a adesão de Finlândia e Suécia à Otan?
Os motivos que levam os turcos, que estão na Otan há 70 anos, não serem favoráveis a adesão está associado a problemas do passado. Há três anos, a Suécia já interrompeu a venda de armas aos turcos apos o envolvimento militar de Ancara na guerra da Síria, e, junto a Finlândia, recusam constantemente as solicitações para extradição de militares curdos, que são um dos principais pontos que faz com que a Turquia não concorde com à adesão. Ancara acusa os nórdicos de serem “uma casa de hóspedes para organizações terroristas”, disse Recep Tayyip Erdogan citando os seguidores de Fethullah Gulen e Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) – grupo guerrilheiro curdo que combateu por décadas em uma insurgência separatista em partes da Turquia -, considerado um grupo “terrorista” pela Turquia, União Europeia e Estados Unidos. Os turcos solicitam que os escandinavos suspendam o apoio a grupos militares curdos. O chefe de Estado também garantiu que não quer que se repita o mesmo erro cometido com a adesão da Grécia.
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, disse que essa decisão não é uma ameça aos países e que também não buscam compensações. “Nossa postura é perfeitamente aberta e clara. Isso não é uma ameaça, não é uma negociação onde estamos tentando alavancar nossos interesses”, disse Cavusoglu. “Isso também não é populismo. Isso é claramente sobre o apoio ao terrorismo de dois potenciais Estados membros, e compartilhamos nossas observações sólidas sobre isso”, completou.
Apesar de não concordar com a adesão de Finlândia e Suécia na Otan, a Turquia, que desde o começo do conflito no Leste Europeu tem feito de tudo para manter boas relações com Rússia e Ucrânia, do quais sua economia depende muito, disse que eles não estão fechando a porta para a entrada dos países nórdicos na aliança, entretanto, querem negociações e medidas contra o que vê como atividades terroristas, especialmente em Estocolmo, afirmou um porta-voz do presidente Tayyip Erdogan. “Não estamos fechando a porta. Mas estamos basicamente levantando este assunto como uma questão de segurança nacional para a Turquia”, disse Ibrahim Kalin, também um importante assessor de política externa do presidente.
No último domingo, 15, diante da recusa da Turquia que começou a aparecer na sexta-feira, o secretário norte-americano de Estado, Anthony Blinken, expressou que os Estados Unidos vêm incentivando a entrada dos dois países e devem fazer um esforço para contornar a oposição de Erdogan. Já o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, mostrou confiança em ter uma rápida adesão de Finlândia e Suécia apesar da relutância turca. “A Turquia deixou claro: sua intenção não é bloquear a adesão”, disse ele a repórteres. “Portanto, estou confiante de que seremos capazes de abordar as preocupações que a Turquia expressou de uma forma que não atrase o processo de adesão”.
*Com informações da Reuters e AFP
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