Entenda por que o premiê da Espanha antecipou as eleições legislativas de dezembro para julho
Pedro Sánchez dissolveu o paramento após votação de domingo, em que seu partido sofreu fortes perdas; espanhóis vão às urnas no dia 23 de julho
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, surpreendeu a todos nesta segunda-feira, 29, ao dissolver o Parlamento e antecipar as eleições legislativas no país – inicialmente prevista para dezembro – para dia 23 de julho. A decisão veio após seu partido sofrer derrotas significativas nas votações municipais regionais de domingo, da qual o Partido Popular (PP) saiu vencedor. Resultado representa uma perda do poder institucional dos socialistas. “Assumo em primeira pessoa esses resultados e acredito ser importante dar uma resposta e submeter nosso mandato democrático à vontade popular. Creio que o melhor é que os espanhóis e espanholas tomem a palavra e se pronunciem sem demora para decidir o rumo político do país”, disse o premiê, que também notificou ter informado sua decisão ao rei Felipe VI. A medida, que não era esperada pelo fato de que no segundo semestre a Espanha terá a presidência da União Europeia (UE), deverá ser aprovada durante a tarde em uma reunião do conselho de ministros, cuja publicação no Diário Oficial do Estado na terça-feira, 30, resultará na dissolução do Parlamento. A antecipação das eleições, é vista por analistas como uma mudança em direção ao socialista, em um momento em que o país se encaminhava para uma guinada mais a para a direita com a vitória do conservador Partido Popular (PP) – eles obtiveram 31,53% e quase 7 milhões de votos, 761 mil a mais do que o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que obteve 28,11%. “É uma mudança de direção de Sánchez para deixar de falar sobre a derrota de ontem”, disse à AFP Paloma Román, doutora em Ciências Políticas pela Universidade Complutense de Madri. Sánchez chegou ao poder em 2018 após um voto de censura contra o então primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy, precisava recuperar a iniciativa.
Os conversadores tiveram 1,7 milhão de votos a mais do que receberam nas eleições municipais e regionais anteriores, em 2019. Os resultados dessas eleições também refletem a ascensão do partido de extrema-direita Vox e do independentista EH-Bildu no País Basco, bem como o desaparecimento do panorama político dos liberais do Ciudadanos. No número de legisladores locais, tinha 530 em 2019 e hoje chega a 1.663, ou seja, o triplo do número de representantes em toda a Espanha. Nas eleições deste domingo, 28, houve queda na quatidade de eleitores. 21.778.181 pessoas foram às urnas, o equivalente a 63,83% do censo eleitoral de 35,6 milhões de pessoas, o que representa uma queda de pouco mais de um ponto 1,3% em relação a 2019, quando a taxa de participação foi de de 65,19%. O PP foi o partido mais votado em sete das dez grandes cidades espanholas, incluindo Madri, Valência, Zaragoza, Málaga e Sevilha, esta última um tradicional reduto socialista. Contudo, não foi a única fortaleza que viu escapar. Eles também perderam a região da Extremadura, embora tenham mantido Castilla-La Mancha e Astúrias. Na capital espanhola, o atual prefeito, José Luis Martínez-Almeida, alcançou a maioria absoluta, enquanto o partido pró-independência Junts foi o grande vencedor em Barcelona ao conseguir desbancar o Barcelona em Comum, legenda da atual prefeita, Ada Colau, em número de legisladores.
No total, o PP foi o partido com mais votos em 28 das 50 capitais provinciais, 17 a mais do que em 2019, e em metade delas por maioria absoluta. Paloma Román, doutora em Ciências Políticas pela Universidade Complutense de Madri, disse que apesar da derrota de domingo, os socialistas “não perderam tanto e conseguiram permanecer em um nível que pode ajudá-los”, explica Román, para quem o resultado “poderia ter sido pior”. Ela lembra que o partido recebeu apenas 800 mil votos a menos que os conservadores do Partido Popular, entre mais de 35 milhões de eleitores. O analista político José Pablo Ferrándiz, diretor do instituto de pesquisas Ipsos, considerou lógica a decisão de Sánchez. A medida evita “seis meses, como digo, de pressão de Núñez Feijoo, inclusive de seus aliados de governo, porque teria sido uma agonia que não faria muito sentido”, declarou ao canal público TVE. Antonio Barroso, analista da consultoria Teneo, recordou que as eleições gerais acontecerão durante “as negociações em várias regiões” entre o PP e o Vox. “E os socialistas provavelmente tentarão usar as negociações para mobilizar os eleitores de esquerda”.
*Com informações das agências internacionais
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