Escaladora iraniana compete sem hijab e é ovacionada por multidão ao retornar a Teerã
Elnaz Rekabi não usou o véu durante a final de um torneio na Coreia do Sul; atleta foi recepcionada aos gritos de ‘heroína’ pelos manifestantes
A escaladora iraniana Elnaz Rekabi competiu sem o hijab (véu) em um torneio na Coreia do Sul. O gesto foi interpretado por alguns como uma demonstração de solidariedade ao movimento de protestos que abala o Irã há um mês, após a morte de Mahsa Amini, uma jovem detida em Teerã pela polícia da moral porque seu véu supostamente permitia observar alguns fios de cabelo, mas Rekabi informou que só tinha confundido o equipamento devido à correria da competição. O Irã exige que as atletas iranianas utilizem o véu inclusive nas competições no exterior. Nesta quarta-feira, 19, ao retornar ao país, Rekabi foi recebida com aplausos por uma multidão no aeroporto. “Elnaz é uma heroína”, gritaram os manifestantes. A escaladora estava com um capuz e um boné de beisebol. Ela foi recebida por sua família e depois conversou com a imprensa estatal. “Devido ao ambiente que existia durante a final da competição e ao fato de que fui chamada de maneira inesperada para iniciar a escalada, eu me confundi com meu equipamento técnico e isto me levou a esquecer o hijab”, disse a atleta. “Retorno ao Irã em paz, em perfeita saúde e de acordo com meus planos. Peço desculpas ao povo do Irã por causa das tensões criadas”, acrescentou, antes de afirmar que não tem a intenção de abandonar a seleção nacional. A multidão, que incluía mulheres sem véu, cercou o veículo no qual a atleta deixou o aeroporto, mais uma vez sob aplausos. “Uma recepção digna de de uma heroína, incluindo mulheres sem o véu obrigatório, do lado de fora do aeroporto de Teerã para a atleta Elnaz Rekabi. Persistem as preocupações com sua segurança”, afirmou a ONG Centro para os Direitos Humanos no Irã (CHRI), que tem sede em Nova York.
A República Islâmica é acusada por ativistas de pressionar as pessoas a apresentarem declarações de contrição na televisão e nas redes sociais. Os observadores “não devem ser influenciados pela propaganda estatal”, alertou o CHRI. Grupos de defesa dos direitos humanos expressaram preocupação com a atleta depois que vários amigos denunciaram que não conseguiram entrar em contato com Rekabi. A embaixada iraniana em Seul negou “qualquer informação falsa e desinformação” sobre a situação da atleta. Na primeira fase da competição, a atleta estava com uma bandana, mas na escalada principal estava com o cabelo descoberto. O gesto coincide com os protestos após a morte de Amini, de 22 anos, nos quais várias mulheres retiram os véus nas ruas, universidades e escolas do país. A violência nas ruas provocaram dezenas de mortes, a maioria de manifestantes, mas também há vítimas fatais entre os integrantes das forças de segurança, e centenas de detidos. A porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas, Ravina, Shamdasani, afirmou que a ONU “acompanhará de perto” o caso.
*Com informações da AFP
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