Esquerda francesa critica Macron e exige cargo de primeiro-ministro

Na quarta (10), o mandatário afirmou que “ninguém venceu” as eleições realizadas no domingo (7) e pediu a todas as forças políticas “que se identificam com as instituições republicanas a construir uma maioria sólida”

  • Por Jovem Pan
  • 11/07/2024 18h03
Michel Euler / POOL / AFP reforma de previdência na França Várias figuras da direita e do centro apoiam a posição do presidente Emmanuel Macron

A esquerda francesa, que ganhou as eleições legislativas sem maioria absoluta, criticou, nesta quinta-feira (11), a recusa do presidente Emmanuel Macron de formar governo até que se construa uma “maioria sólida” no Parlamento e exigiu que se nomeie um primeiro-ministro procedente de suas fileiras. Em uma carta ao povo publicada na imprensa francesa na quarta-feira (10), o mandatário afirmou que “ninguém venceu” as eleições realizadas no domingo (7) e pediu a todas as forças políticas “que se identificam com as instituições republicanas (…) construir uma maioria sólida, necessariamente plural, para o país”. Macron disse que tomará uma “decisão sobre a nomeação do primeiro-ministro” quando as forças políticas tiverem “forjado (…) compromissos”, o que significa dar a elas “um pouco de tempo”. O dirigente centrista dissolveu a Assembleia Nacional e convocou de maneira antecipada as legislativas depois da vitória da extrema direita francesa nas eleições europeias de 9 de junho.

Nenhum partido ou coalizão obteve maioria absoluta, de 289 deputados, na nova Assembleia Nacional. A Nova Frente Popular (NFP), uma aliança que inclui ecologistas, socialistas, comunistas e a esquerda radical, ficou em primeiro lugar com entre 190 e 195 assentos, a aliança de centro-direita de Macron obteve ao redor de 160 e a extrema direita mais de 140. Ante a incerteza, o presidente pediu ao seu primeiro-ministro, Gabriel Attal, que continue no cargo “por enquanto” para “garantir a estabilidade” do país, que receberá de 26 de julho a 11 de agosto os Jogos Olímpicos. Várias figuras da direita e do centro apoiam a posição de Macron, entre elas, o presidente do Senado, Gérard Larcher, que avalia que a formação do novo governo pode ser esticada até o “início de setembro”.

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“Luís XVI em Versalhes”

A convocação do presidente parece ter como objetivo excluir o Reagrupamento Nacional (RN) de Marine Le Pen (extrema direita), mas também implicitamente a principal formação da NFP, A França Insubmissa (LFI, esquerda radical) liderada pelo polêmico Jean-Luc Mélenchon, que gera desconfiança entre outras forças. O líder socialista Olivier Faure acusou o presidente de “não respeitar o voto dos franceses”, enquanto Mélenchon denunciou “maquinações” e “o retorno do veto real”. A NFP anunciou que proporia um candidato a primeiro-ministro até o final da semana.

Mélenchon apoia a deputada Clémence Guetté, não muito conhecida, mas popular entre os ativistas da esquerda radical. Aos 33 anos, ela oferece uma imagem menos divisiva e mais serena. O poderoso sindicato CGT conclamou os franceses a irem às ruas em 18 de julho, dia da primeira sessão da Assembleia Nacional, “para que o resultado da eleição seja respeitado”. “Temos a impressão de ver Luís XVI preso em Versalhes”, disse sua líder, Sophie Binet, referindo-se ao monarca guilhotinado em 1793 durante a Revolução.

Macron está em Washington, onde na quarta-feira participou de uma cúpula da Otan com foco na guerra na Ucrânia. Enquanto isso, Marine Le Pen, de extrema direita e três vezes candidata à presidência, chamou a carta de Macron de “circo vergonhoso”. O secretário-geral de seu partido na Assembleia Nacional, Renaud Labaye, declarou nesta quinta que o RN “não irá censurar” um possível governo de esquerdas se este propuser “medidas consensuais”. No entanto, “no caso de um governo que inclua um ministro do LFI”, as possibilidades de que o RN aprove seu discurso de política geral “são praticamente nulas”, acrescentou.

Le Pen explicou posteriormente a postura de seu partido, assegurando em postagem na rede social X que “censurará qualquer governo no qual o LFI e os ecologistas tenham responsabilidades ministeriais”. O Reagrupamento Nacional agora está de olho nas próximas eleições presidenciais francesas em 2027, nas quais Macron não poderá concorrer novamente.

Publicado por Carolina Ferreira
*Com informações da AFP

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