EUA: Campanha de Trump busca eleitor branco no interior; democratas apostam em ‘desânimo’

A tarefa da campanha democrata não é conquistar a maioria dos votos na região tradicionalmente conservadora, mas ampliar a vantagem de Biden na comparação com Trump

  • Por Jovem Pan
  • 13/09/2020 08h47
EFE/EPA/Chris Kleponis A base eleitoral fiel de Trump são os homens brancos de baixa escolaridade

Em sua estratégia de campanha para reeleição, Donald Trump busca conquistar os eleitores brancos do Meio-Oeste, como Waukesha, subúrbio de Milwaukee, no estado de Wisconsin, onde o resultado da eleição pode ser decidido. Nesta semana, o presidente fez um discurso em Waukesha, em meio a escombros deixados por protestos antirracismo em Kenosha, e insistiu que subúrbios serão destruídos por anarquistas caso não seja reeleito. Wisconsin, com 5,8 milhões de habitantes, foi um dos Estados do Cinturão da Ferrugem que os democratas consideravam um território seguro em 2016, mas onde cederam a vitória a Trump por margem apertada. No Estado, Trump teve 22,7 mil votos a mais do que Hillary Clinton – 0,7 ponto porcentual de diferença. Foi o suficiente para o Partido Republicano ganhar dez delegados no colégio eleitoral. A última vez que um republicano havia vencido ali fora em 1984, com Ronald Reagan. Com conquistas semelhantes em Michigan e Pensilvânia, Trump conseguiu a maioria dos delegados.

Em 2020, Wisconsin é considerado o possível ponto de virada da eleição e Waukesha é um dos três subúrbios cruciais dos arredores de Milwaukee, para quem quer que seja o vitorioso. Os ganhos dos democratas nas grandes cidades, como em Madison e Milwaukee, costumam ser neutralizados pelo voto republicano nas áreas rurais. É nos subúrbios das regiões metropolitanas que as campanhas disputam a eleição. Em Estados como Arizona e Virgínia, uma mudança demográfica tornou a população mais diversa e mais democrata nos subúrbios nos últimos anos. Mas, no Wisconsin, a mudança tem sido mais lenta e a vitória de Biden é mais difícil.

Em Waukesha, a volta às aulas e o receio de que isso aumente os casos de coronavírus tem sido o principal assunto. A cidade é um pilar da força conservadora de Wisconsin e moradia de um perfil de eleitorado que tem se distanciado de Trump: brancos moderados e com alta escolaridade. Quase 38% dos adultos com mais de 25 anos na cidade têm diploma universitário, mais do que a média nacional de 31,5%. A base fiel de Trump são os homens brancos de baixa escolaridade.

A tarefa da campanha democrata não é conquistar a maioria dos votos na região tradicionalmente conservadora, mas ampliar a vantagem de Biden na comparação com Trump. A aposta é em um desânimo com o presidente. Em um Estado onde a vitória se deu por 0,7 ponto, as pequenas margens importam. Hillary teve 33% dos votos de Waukesha em 2016. A conta da campanha democrata é de que é suficiente a Biden ter pouco mais de 42% dos eleitores da região para ganhar todo o Estado.

No subúrbio conservador de Milwaukee, há poucas placas de apoio a Trump nos quintais e parte dos eleitores republicanos tenta minimizar algumas plataformas do presidente, como a abordagem sobre os protestos. Democratas e republicanos ouvidos pelo pelo jornal O Estado de S Paulo dizem que os americanos precisam reaprender a dialogar, um discurso diferente do adotado por trumpistas mais fervorosos. É comum também encontrar republicanos que não gostam de Trump, como Jimmy Dakolias, de 38 anos. “Em quem eu votei em 2016? Eu sou republicano, eu votei no Partido Republicano. Gosto de falar assim. Votei nos republicanos, não em Trump”, afirma. Segundo ele, foi a primeira vez que não se reconheceu no escolhido pelo partido.

“Não queria sentir que fui parte da eleição dele, caso fosse uma tragédia, mas os republicanos têm uma plataforma mais amigável ao pequeno empreendedor do que os democratas”, afirma Dakolias, em uma das mesas vazias do Sobelman’s Pub, um dos dois restaurantes que possui com a mulher. Trump ficou bem atrás de Mitt Romney nas primárias em Waukesha, em 2016, com 22% dos votos.

A principal reclamação de Dakolias é a ausência de diretrizes claras do governo sobre como conduzir os negócios na pandemia. “Quando as quarentenas começaram, não tivemos orientação. Tive um funcionário doente e não sabia qual era meu papel. Fechei as portas por mais tempo do que o determinado pelo governo, porque não achava seguro reabrir e não queria que parecesse que eu estava celebrando a reabertura. Os bares não têm limitação de ocupação e estão todos lotados de jovens, mas os restaurantes, como este, estão vazios.”

Às sextas-feiras, o restaurante costumava ter duas horas de fila de espera. Agora, atende apenas dez mesas por uma noite inteira. “Eu não sei onde pegar a informação correta, em quem confiar”, afirma. Mesmo assim, ele deve votar novamente no Partido Republicano – o que significa dar um voto a Trump. “Poderia ter sido melhor, mas também poderia ter sido pior. É uma situação inédita, ninguém sabe como outros lidariam. A pandemia aconteceria independentemente de quem estivesse na Casa Branca.”

Os democratas não estão dispostos a repetir o erro de 2016, quando Hillary não visitou o Wisconsin. Biden esteve em Kenosha, dois dias depois de Trump, e criticou a gestão do presidente. Na semana seguinte, os vices Kamala Harris e Mike Pence foram ao Estado. Há algumas semanas, Eric Trump, filho do presidente, foi a Waukesha.

*Com Estadão Conteúdo

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.