Javier Milei: conheça o ‘anarcocapitalista’ amigo de Bolsonaro que se tornou o favorito à presidência da Argentina

Economista libertário de extrema direita é admirador de Donald Trump e do ex-presidente do Brasil; ele defende a eliminação do Banco Central, dolarização a economia, livre porte de armas e venda de órgãos humanos

  • Por Jovem Pan
  • 14/08/2023 11h45 - Atualizado em 14/08/2023 11h51
ALEJANDRO PAGNI / AFP javier milei (1) Economista libertário de extrema-direita argentino e candidato presidencial Javier Milei comemora os resultados das eleições primárias com sua irmã Karina Milei na sede da Milei em Buenos Aires

Contrariando as pesquisas que mostravam Javier Milei na terceira posição na Paso (Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias) das eleições da Argentina, o economista libertário de direita surpreendeu e venceu as eleições que definem os candidatos que disputarão o primeiro turno da eleição presidencial de 22 de outubro – um eventual segundo turno está previsto para 19 de novembro. Ele obteve 30,31% dos votos e tornou-se o protagonista do pleito, que disputará com a ex-ministra de Segurança Patricia Bullrich e o ministro da Economia, Sergio Massa. A coalizão opositora Juntos por el Cambio (Juntos pela Mudança, centro-direita) obteve 28,25% dos votos no somatório de seus dois candidatos, Bullrich e o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta. A governista Unión por la Patria (União pela Pátria, peronismo), do peronista Sergio Massa, atual ministro da economia, obteve 27,07% dos votos. Milei, apesar de estar na terceira posição nas pesquisas, há tempos vinha se destacando e chegou a ser apontado como o favorito para as eleições, mas sofreu altos e baixos. Alcançar bons números nas primárias era uma fora de mostrar seu peso. Conhecido como Bolsonaro Argentino, ele é admirador do ex-presidente do Brasil e de Donald Trump. Jair Bolsonaro mandou um vídeo apoiando Milei nas primárias.

Com a crise econômica que assola a Argentina, uma inflação que chega a 115% interanual e a pobreza em ascensão (40%), o discurso de Milei contra o que chama de “casta política” capitalizou o descontentamento. Embora quase sempre tenham vivido em uma economia em crise, os argentinos sofrem neste momento com os piores indicadores em 30 anos. “Conseguimos construir esta alternativa competitiva que dará fim à casta política parasitária, que rouba, inútil”, declarou Milei em seu primeiro discurso após o anúncio dos resultados. “Estamos em condições de vencer a casta no primeiro turno”, acrescentou.

As eleições de domingo, com participação de 69% dos mais de 35 milhões de eleitores, dividiram o eleitorado em três partes de peso similar. A Argentina é a terceira maior economia da América Latina e um importante exportador mundial de alimentos. Ao mesmo tempo, tem de cumprir um acordo de 44 bilhões de dólares (R$ 216 bilhões, na cotação atual) com o FMI. Nestas eleições, também foram escolhidos os candidatos às eleições legislativas parciais, que renovam parte do Congresso, a prefeitura da capital e o governo da província de Buenos Aires.

 

Quem é Javier Milei?

“A casta tem medo”. “Viva a liberdade, caralho!”, clama o economista Javier Milei, de 52 anos – ele completa 53 no dia da eleições -, um deputado libertário e de extrema direita que sacudiu o cenário político argentino, se classifica como ‘anarcocapitalista’. Com a promessa de acabar com o sistema político tradicional, se conectou especialmente com os mais jovens. Milei surgiu nesta eleição como um fenômeno inovador, que catalisou a frustração dos eleitores. Anteriormente, ele tinha conquistado um assento nas eleições legislativas de 2021, quando recebeu 17% dos votos na cidade de Buenos Aires. Dentre suas propostas de governo está a eliminação do Banco Central e dolarização a economia, permitir o livre porte de armas e chegou a defender a venda de órgãos humanos. Denúncias de ex-colaboradores de que pedia dinheiro em troca de candidaturas não arranharam sua popularidade em ascensão. Fernando Cerimedo, coordenador de campanha de Milei, resumiu parte de seu sucesso em uma receita simples. “Foi o único candidato que apresentou um projeto, que contou o que queria fazer. Goste você ou não, foi o único a fazê-lo. O povo se cansou de tudo o que vinha acontecendo, das promessas não cumpridas”, disse.

O candidato à presidência de extrema direita cresceu em um lar violento em Bueno Aires. Filho de um motorista de ônibus, que depois se tornou empresário do transporte, e de uma dona de casa, Javier Milei foi criado entre espancamento e abusos verbais. Ele foi sustentado pela avó materna e Karina, sua irmã mais nova, a qual diz ser seu círculo afetivo mais imediato, junto a seu cachorro – ele é apaixonado elos cães da raça mastim. Na escola, ficou famoso por ser revoltado. Em sua biografia não autorizada, o jornalista Juan Luis González revela que Milei era chamado de “El Loco”. O biógrafo González garante que Milei estuda telepatia e tem um meio para se comunicar com o mais velho de seus mastins, falecido em 2017, a quem pede conselhos. “O que eu faço dentro de casa é problema meu”, respondeu em entrevista ao ‘El País’. “E se ele é, como dizem, meu conselheiro político, a verdade é que conquistou toda a gente.” O economista estudou na escola Cardenal Copello em Villa Devoto, um subúrbio de classe média alta de Buenos Aires, onde jogou futebol como goleiro nas divisões inferiores do time Chacarita Juniors, cantou em uma banda que fazia cover dos Rolling Stones e de onde ele não se lembra de ter tido namoradas ou amigos. Formado em Economia pela Universidade de Belgrano, na Argentina, ele tem dois mestrados na área. Milei atuou em consultorias, bancos e grupos de políticas econômicas, segundo um perfil disponível no site do Fórum Econômico Mundial.

 

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