Manifestantes anti-Israel são presos na Rússia após invadirem aeroporto e proferirem atos antissemitas
Kremlin acusa Kiev de ter incentivado o ataque e afirmou que ocidente usa os acontecimentos no Oriente Médio para dividir a sociedade russa
A polícia da Rússia prendeu 60 manifestantes anti-Israel e mais de 150 foram indiciadas após invadirem o aeroporto de Makhachkala, capital da república russa do Daguestão, no domingo, 30, em busca de judeus e israelenses, depois de boatos sobre a chegada de um voo procedente de Israel. Nove policiais ficaram feridos e dois deles foram hospitalizados na manifestação. Dezenas de manifestantes, muitos dos quais gritavam “Allahu Akbar” (Deus é grande, em árabe), forçaram as entradas do aeroporto desta cidade do Cáucaso e invadiram a pista, reportaram os veículos russos Izvestia e RT. Vídeos no Telegram também mostram um grupo de pessoas tentando controlar os veículos que deixavam o local ou tentando derrubar portas enquanto funcionários tentavam dissuadi-los. Um dos manifestantes levava um cartaz que dizia “os assassinos de crianças não têm lugar no Daguestão”, de acordo com um dos vídeos. O site Flightradar informou que um voo da companhia Red Wings procedente de Tel Aviv pousou em Makhachkala às 19h (13h de Brasília).
O site independente russo Sota informou que era um voo de trânsito, que decolaria em direção a Moscou duas horas mais tarde. As autoridades locais não informaram até o momento se o voo e os passageiros conseguiram seguir a viagem. Os distúrbios levaram o controlador aéreo russo, Rosaviatsia, a suspender todos os voos com origem e destino neste terminal. “Após a invasão de indivíduos não identificados na área de tráfego, decidiu-se fechar temporariamente o aeroporto para pousos e decolagens”, informou a entidade, acrescentando que forças de segurança foram enviadas para o local. O aeroporto sofreu “danos significativos”, relatou seu diretor-geral, mas conseguiu reabrir na tarde de hoje, de acordo com a agência de aviação russa. Nesta segunda, um grande dispositivo de segurança cercava o aeroporto, enquanto os funcionários começavam a reparar as barreiras danificadas.
🇷🇺🇮🇱 Muslims in Dagestan, Russia STORM the airport at which a flight from ISRAEL is currently arriving! pic.twitter.com/Ez7xwmJhNL
— Jackson Hinkle 🇺🇸 (@jacksonhinklle) October 29, 2023
Nesta segunda-feira, 30, o Kremlin acusou a Ucrânia de ter uma papel-chave no ataque a aeroporto do Daguestão. Segundo a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, em um comunicado divulgado nesta segunda, os confrontos foram “o resultado de uma provocação planejada e dirigida do exterior”, na qual Kiev desempenhou um papel “chave e direto”. O porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, já havia indicado que os acontecimentos foram “em grande parte resultado de ingerência externa”, sem especificar a origem. Segundo Peskov, com as “imagens na televisão dos horrores que ocorrem na Faixa de Gaza”, é “muito fácil para os inimigos se aproveitarem delas e provocarem a situação”.
O Kremlin também informou que o presidente russo, Vladimir Putin, abordará “as tentativas ocidentais de usar os acontecimentos no Oriente Médio para dividir a sociedade russa”, em uma reunião hoje à noite. “O que aconteceu foi uma tentativa de semear a discórdia entre muçulmanos e judeus na Rússia, que mantêm boas relações de amizade e cooperação durante séculos”, declarou o patriarca Kirill, chefe da Igreja Ortodoxa russa e um ferrenho defensor de Putin, também em uma nota.
Serguei Melikov, presidente do Daguestão, uma república do Cáucaso russo, afirmou nesta segunda-feira que os distúrbios foram organizados em território ucraniano, em pleno conflito armado entre Kiev e Moscou. “Os iniciadores desta ação são evidentemente nossos inimigos, os que a organizaram no território ucraniano”, disse Melikov, segundo a agência Ria-Novosti. Melikov acusou, em particular, um canal de Telegram crítico às autoridades locais, “Utro Daguestão”, liderado por “traidores” da Ucrânia. Durante os incidentes, Israel pediu à Rússia para proteger “todos os cidadãos israelenses e todos os judeus”. O governo dos Estados Unidos condenou as “manifestações antissemitas”.
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