Morales confirma que não será candidato e nega medo de ser preso

Na Argentina, onde pediu asilo como refugiado, o ex-presidente da Bolívia fez sua primeira coletiva de imprensa nesta terça-feira (17) desde que renunciou ao cargo

  • Por Jovem Pan
  • 17/12/2019 17h56
Peter Foley/EFE Evo Morales Evo Morales, ex-presidente da Bolívia

O ex-presidente da Bolívia Evo Morales, que chegou à Argentina na última quinta-feira (12) onde pediu asilo como refugiado, afirmou nesta terça (17) que não tem medo de uma possível “detenção” e ressaltou que não será candidato nas próximas eleições presidenciais bolivianas.

“Não sou e não serei candidato, mas tenho o direito de fazer política como político”, comentou o ex-governante em entrevista coletiva, a primeira desde que chegou à capital argentina procedente do México, onde estava asilado desde 11 de novembro, quando deixou a Bolívia após renunciar ao cargo por pressão das Forças Armadas.

O ministro do Interior do governo interino da Bolívia, Arturo Murillo, afirmou que nas horas seguintes seria emitida uma ordem de detenção contra Morales e o secretário da presidência, Juan Ramón Quintana. Murillo afirmou que “há uma denúncia de terrorismo” e que ambos “terão que responder à justiça nos próximos dias”.

“É assim que as ditaduras são tratadas. Ela é presidente, não é promotora, não é juíza”, criticou Morales em referência a Jeanine Áñez (presidente interina do país), e destacando que nenhum processo judicial pode ser realizado neste momento e que as autoridades “não vão encontrar nada sobre corrupção”.

“Que me mostrem uma prova de que sou dono ou sócio de alguma empresa”, exclamou o ex-presidente durante a entrevista, concedida ao lado do ex-chanceler Diego Pary e da ex-ministra da Saúde Gabriela Montaño.

Seguindo o tom das declarações dadas desde que viajou ao México, Morales denunciou novamente que sofreu um “golpe de Estado” que atribuiu à oposição, à polícia e às Forças Armadas com a colaboração da Organização dos Estados Americanos (OEA), que tachou de “golpista”.

“Infelizmente, nem a inteligência da polícia nem a das Forças Armadas nos avisaram que o golpe estava chegando”, lamentou, reconhecendo que às vezes se arrependeu de ter “capacitado” as Forças Armadas.

Em longo discurso, Morales destacou feitos dos “13 anos, nove meses e 18 dias como presidente”, nos quais fez “três coisas importantes”.

“Na refundação política da Bolívia, saímos do Estado colonial para um Estado plurinacional; na economia, as nacionalizações; e, mais importante, no social, a redistribuição social da riqueza”, afirmou.

“Até quando eles nos governarão de cima [em referência aos Estados Unidos] e de fora? Quando é que nós nos governaremos? Duas coisas me machucaram neste golpe: assassinaram companheiros e também estão matando a economia”, disse.

Argentina

Sobre a estadia na Argentina, onde os dois filhos já moravam desde novembro, Morales não deu muitos detalhes, mas disse que não sabe quanto tempo ficará no país.

“Estou mais perto da Bolívia, muito feliz. Sinto-me bem. No domingo à tarde nos encontramos com o presidente argentino Alberto Fernández, e a ‘irmã’ Cristina Kirchner [ex-presidente e atual vice]. Nós nos lembramos de como costumávamos trabalhar”, disse Morales, agradecendo a ajuda de ambos.

O novo governo argentino, que tomou posse há uma semana, acolheu Morales como perseguido político e vítima de um golpe de Estado, mas pediu para que o boliviano não faça declarações políticas, pedido que não está cumprindo.

Segundo o ministro das Relações Exteriores argentino, Felipe Solá, a Comissão Nacional para os Refugiados, ligada ao Ministério do Interior, determinará se aceita conceder o status de refugiado a Morales. Solá, no entanto, já antecipou que a solicitação será aceita e descartou “qualquer possibilidade de extradição”.

*Com informações da EFE

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