‘Mundo precisa se preparar para ondas de calor cada vez mais intensas’, alerta ONU

Segundo especialistas, temperaturas noturnas são mais perigosas para a saúde do que as diurnas; termômetros no hemisfério norte registram há dias mais de 40ºC, com alguns lugares ultrapassando os 50ºC

  • Por Jovem Pan
  • 18/07/2023 12h16 - Atualizado em 18/07/2023 13h10
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Ronda Churchill / AFP calor nos eua Clint Johnson, de Pleasant Hill, Califórnia, e Melanie Anguay, de Las Vegas, posam para uma foto ao lado de uma exibição digital de uma leitura de calor não oficial no Furnace Creek Visitor Center durante uma onda de calor no Death Valley National Park em Death Valley, Califórnia, em 16 de julho de 2023

A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou nesta terça-feira, 18, que as ondas de calor vão ser cada vez mais intensa e o mundo deve se preparar para elas. “Estes eventos continuarão crescendo em intensidade, e o mundo precisa se preparar para ondas de calor mais intensas”, declarou John Nairn, especialista em calor extremo da Organização Meteorológica Mundial (OMM), vinculada à ONU. “O fenômeno El Niño, recentemente declarado, vai apenas amplificar a incidência e intensidade de ondas de calor extremas”, acrescentou em um encontro com imprensa em Genebra. O hemisfério norte sofre há dias com as altas temperaturas. A Europa, o continente com o ritmo de aquecimento mais rápido do mundo, pode registrar recordes de temperatura na ilha italiana da Sardenha. O recorde atual no continente são os 48,8°C registrados na Sicília em 2021, confirmou na segunda-feira a Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU. “Pode ser quebrado nos próximos dias”, alertou a agência espacial europeia. Na Espanha, são esperadas temperaturas entre 38ºC e 42°C em grande parte do centro da Península Ibérica, mas poderiam alcançar 43ºC ou 44°C no leste do país, nas regiões da Catalunha, Aragão e Baleares, segundo a Agência Estatal de Meteorologia (Aemet).

Atualmente, o hemisfério norte sofre seis vezes mais ondas de calor do que na década de 1980. Em locais em que supera os 45ºC, as temperaturas podem permanecer por volta dos 40ºC à noite, o que é mais perigoso para a saúde do que a temperatura diurna, segundo alertou nesta terça um especialista da OMM. “As temperaturas noturnas são particularmente perigosas para a saúde humana porque o corpo é incapaz de se recuperar do calor permanente, levando a um aumento de ataques cardíacos e mortes”, disse o especialista em calor extremo da organização, John Nairn. Segundo os pesquisadores, as ondas de calor estão entre as ameaças climáticas mais mortais. Estima-se que no verão passado causaram mais de 60 mil mortes somente na Europa. “E acredita-se que este número seja conservador”, frisou Nairn, que refletiu sobre o fato de que isso está acontecendo na região com um dos mais avançados sistemas de alerta climático precoce, “com o que podemos imaginar quais seriam os números no resto do mundo”.

calor japão

Pedestres se refrescam na névoa de água durante ondas de calor em Tóquio em 18 de julho de 2023 │KAZUHIRO NOGI / AFP

Na Ásia, as temperaturas elevadas se alternam com chuvas torrenciais, em parte provocadas pelo acúmulo de água evaporada na atmosfera. A China registrou a temperatura de 52,2ºC no domingo, na região de Xinjiang (oeste), um recorde para meados de julho. O Japão emitiu alertas para temperaturas elevadas em 32 dos 47 municípios do país. No Vietnã e sul da China, 250 mil pessoas procuraram abrigos antes da passagem do tufão Talim. A Coreia do Sul tem previsão de fortes chuvas até quarta-feira, 19. As tempestades dos últimos dias provocaram 41 mortes no país. A mudança climática “é uma ameaça para a humanidade”, afirmou em Pequim o enviado da Casa Branca para o clima, John Kerry, durante uma viagem para estimular a retomada da cooperação na questão ambiental entre Estados Unidos e China, os dois maiores poluentes do planeta.

Nos Estados Unidos, mais de 80 milhões de pessoas estavam sob o alerta de uma onda de calor “opressiva” no sul e oeste do país. No famoso Vale da Morte, na Califórnia, um dos lugares mais quentes do planeta, a temperatura oficial atingiu 52°C no domingo. Vários incêndios também afetam o sul do estado e já destruíram quase 3.200 hectares. Vários moradores foram obrigados a abandonar suas casas. No Canadá, mais de 10 milhões de hectares foram destruídos por incêndios desde o início do ano. Na segunda-feira, 882 focos permaneciam ativos, incluindo 579 considerados fora de controle. Dois bombeiros morreram em serviço.

calor na grécia

Bombeiros combatem o incêndio no assentamento de Irini, perto da cidade turística de Loutraki, cerca de 80 quilômetros a leste de Atenas │VALERIE GACHE / AFP

As altas temperaturas também desencadearam incêndio. Cerca de 3.500 hectares queimaram em La Palma, segundo autoridades locais, e 4.000 habitantes foram evacuados, embora muitos já voltaram para suas casas. Os bombeiros combatem um grande incêndio florestal desde sábado. Também na Grécia, os bombeiros lutavam pelo segundo dia seguido contra incêndios na região de Atenas. O mais violento queimava a floresta de Dervenochoria, 50 quilômetros ao norte da capital, onde 147 agentes trabalhavam com a ajuda de seis bombardeiros de água e um helicóptero. Em outro ponto, a região de Kouvaras, 40 km a leste de Atenas, um incêndio declarado na segunda-feira se propagou para as localidades costeiras de Anavyssos, Lagonissi e Saronida, frequentadas por veranistas atenienses, e queimou várias casas.

Até mesmo a Suíça foi afetada por estas condições excepcionais. Mais de 200 pessoas ameaçadas por um importante incêndio foram evacuadas no sul do país, devido às chamas declaradas na segunda-feira em Bitsch. “Estas situações continuarão aumentando em intensidade, e o mundo precisa se preparar para ondas de calor mais intensas”, afirmou à imprensa em Genebra um especialista da Organização Meteorológica Mundial (OMM), John Nairn. O secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas, alertou que os “fenômenos meteorológicos extremos têm importantes repercussões na saúde humana, nos ecossistemas, na economia, na agricultura, na energia e no abastecimento de água”. Ele insistiu na urgência de reduzir as emissões de gases do efeito estufa.

*Com agências internacionais 

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