Na contramão do Brasil, Argentina defende acordos comerciais bilaterais no Mercosul

Esse é um novo choque com a posição defendida pelo presidente Lula, que, junto ao Paraguai, defende a manutenção das regras atuais, e diz que devem negociar em bloco

  • Por Jovem Pan
  • 08/07/2024 17h23
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URS FLUEELER / POOL / AFP diana mondino Diana Mondino. chanceler da Argentina

A delegação da Argentina defendeu durante a reunião do Mercosul, que o bloco mude suas regras e autorize os membros a firmar acordos comerciais bilaterais com outras nações e grupos. “Pensemos na possibilidade de que haja acordos bilaterais. É muito difícil que todos estejam de acordo em todos os temas. Eventualmente pode haver um caso em que um acordo comercial bilateral seja conveniente”, disse a ministra argentina, Diana Mondino, no domingo (7), no Conselho Mercado Comum. Ela defendeu uma revisão gerencial sobre o funcionamento do Mercosul e pediu mais flexibilidade do bloco. Esse é um novo choque com a posição defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil e o Paraguai defendem a manutenção das regras atuais. Ambos dizem que devem negociar em bloco. Qualquer alteração no tratado dependeria de um acordo amplo com todos os membros, já que as decisões do Mercosul são tomadas por consenso.

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Essa foi a mais longa intervenção de um chanceler e Mondino voltará a falar nesta segunda-feira, dia 8, já que Milei boicotou a cúpula e não viajou a Assunção, no Paraguai. “São iniciativas positivas para que possamos trabalhar melhor, não eliminar nem matar nada”. O novo posiconamento argentino faz com que eles se juntem ao pleito antigo do Uruguai,que sob o governo de centro-direita de Lacalle Pou também levantou esse pleito, com foco em um tratado de livre comércio com a China. Montevidéu argumenta que não haveria prejuízo em sair na frente nas negociações com Pequim. A resposta do Itamaraty, entretanto, já estava dada. Antes da cúpula, a delegação brasileira disse que somente estaria aberta a uma negociação em conjunto, como bloco – jamais de forma bilateral.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009. A chancelaria brasileira afirma que o Tratado de Assunção é “claro” ao não permitir negociações isoladamente, em que pese a insistência uruguaia, que agora ganha adesão dos argentinos. No caso do Paraguai, há ainda uma questão geopolítica de fundo. Embora se diga aberto a negociação com a China, um avanço é considerado por diplomatas remotíssimo ou de chance quase nula, já que o país sul-americano é um dos principais aliados diplomáticos de Taiwan, a ilha que Pequim considera rebelde e planeja retomar. Além da questão negocial, a delegação argentina também divergiu do Brasil em uma série de pontos discutidos nas reuniões prévias à chegada dos presidentes.

O impacto das posições de Milei sobre o bloco restou evidente, apesar de sua ausência ter esvaziado a relevância do bloco. A delegação brasileira já tinha explicitado uma divergência com a Argentina ao defender a tese de golpe na Bolívia – de forma isolada, além do próprio país. Milei afirma que a quartelada ocorrida no fim de junho em La Paz foi uma fraude. Nos bastidores, a chanceleria argentina se opôs ao avanço de pautas da agenda socioambiental, de mulheres e identitária. Ativistas LGBTQIA+ tem apontado retrocessos com veto a discussões e bloqueio de declarações e termos. Em recados políticos, o chanceler Mauro Vieira disse que o Mercosul deve trabalhar para superar rivalidades. O anfitrião Lezcano disse que o Paraguai concordava com um Mercosul “pragmático”.

*Com informações da AFP e Estadão Conteúdo

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