No Timor Leste, papa Francisco pede ‘responsabilidade’ para prevenir abusos de menores
O líder religioso também condenou ‘o abuso de álcool entre os jovens e sua incorporação a gangues’; o pontífice concluiu lembrando que 65% da população no país é jovem, pedindo ao governo que invista em educação
O papa Francisco lembrou nesta segunda-feira (9) sobre “as tantas crianças e adolescentes feridos em sua dignidade” e pediu uma “ação responsável para evitar todos os tipos de abuso”, em seu discurso às autoridades do Timor Leste, onde há alguns anos veio à tona o abuso de crianças pelo bispo Carlos Ximenez Belo, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1996. O primeiro ato do pontífice foi uma reunião com presidente José Ramos-Horta e o discurso para as autoridades no palácio presidencial, no qual, embora sem mencionar a Igreja Católica, não quis esquecer “das muitas crianças e adolescentes cuja dignidade foi ferida”. “Esse fenômeno está surgindo em todo o mundo e todos nós somos chamados a agir com responsabilidade para evitar todos os tipos de abuso e garantir um crescimento sereno para os jovens”, comentou.
O Vaticano anunciou em 2022 que sancionou Belo após as acusações de abuso de menores durante a década de 1990, com algumas restrições de movimento e contato com jovens, e o exilou em Portugal, mas para parte do país ele ainda é considerado um herói nacional. O papa chegou na segunda-feira a Díli, vindo de Papua Nova Guiné, para a terceira etapa de sua viagem a Ásia e Oceania. Em sua chegada, dezenas de milhares de pessoas, nesse país com cerca de 95% de católicos, tomaram as ruas para dar as boas-vindas ao papa e três dias de feriados nacionais foram declarados. No restante do discurso, ele relembrou o passado doloroso e recente que levou o país à sua independência e afirmou que “apesar de passar por um período tão dramático em sua história, eles não perderam a esperança, e também porque, depois de dias sombrios e difíceis, finalmente surgiu um amanhecer de paz e liberdade”.
Além disso, desejou que o exemplo desse país sirva “também em outras situações de conflito, em diferentes partes do mundo, para que o desejo de paz e a purificação da memória prevaleçam, para curar as feridas e combater o ódio com a reconciliação e o confronto com a colaboração”. Entre os desafios atuais enfrentados pelo país, que está entre os mais pobres do mundo, o papa Francisco citou “o fenômeno da emigração, que é sempre um indicador de um uso insuficiente ou inadequado dos recursos, bem como da dificuldade de oferecer a todos um emprego que produza um retorno justo e garanta às famílias uma renda que corresponda às necessidades básicas”.
O líder religioso também condenou “o abuso de álcool entre os jovens e sua incorporação a gangues que, encorajadas por seu conhecimento de artes marciais, em vez de usá-lo a serviço dos indefesos, aproveitam-no para exibir o poder efêmero e prejudicial da violência“. O problema das gangues violentas que usam artes marciais levou o governo a proibir essas práticas desde março deste ano. Para resolver esses problemas, o papa pediu às autoridades que “gerenciem melhor os recursos naturais do país, como petróleo e gás”, que, segundo ele, “podem oferecer possibilidades sem precedentes de desenvolvimento”.
O pontífice concluiu lembrando que 65% da população do Timor Leste tem menos de 30 anos, pedindo ao governo que invista em educação. “Não está neste discurso, mas quero lhes dizer: este é um belo país, mas a melhor coisa que um país tem é o seu povo. Cuidem de seu povo, amem seu povo. É um povo maravilhoso”, complementou.
*Com informações do Estadão Conteúdo
Publicado por Marcelo Bamonte
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