Partido Conservador do Reino Unido vê seus 14 anos de governo ameaçados a um mês das eleições

Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, aparece com 45% das intenções de voto, contra 20% do atual premiê, Rishi Sunak; pleito está marcado para 4 de julho

  • Por Sarah Américo
  • 04/06/2024 07h00
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Andy Rain/EFE/EPA O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak faz campanha em Amersham, Buckinghamshire Rishi Sunak faz campanha em Amersham, Buckinghamshire; conservador, porém, tem pior índice de popularidade da história

Em um mês, o Reino Unido passará por eleições legislativas que podem dar ao país o quarto primeiro-ministro em menos de dois anos. Isso porque o Partido Trabalhista, segundo as pesquisas, aparece à frente, com 45% das intenções de votos, o que indica uma posição imbatível para acabar com 14 anos no poder do Partido Conservador, do primeiro-ministro Rishi Sunak, também candidato nas eleições de 4 de julho. De acordo com as pesquisas, os conservadores estão com 20% das intenções de voto, seguido pelo Reform UK, liderado por Nigel Farage, arquiteto do Brexit, com 15%. Sunak chegou ao poder em outubro de 2022, assumindo o lugar de Liz Truss, que renunciou ao cargo. Ela tinha substituído Boris Johnson, que também tinha desistido de ser premiê após uma série de polêmicas. O primeiro-ministro britânico de origem indiana antecipou as eleições e dissolveu o Parlamento. A decisão foi tomada após uma reunião do conselho de ministro. As eleições, que deveriam ocorrer até janeiro de 2025, foram antecipadas para 4 de julho, devido à pressão sobre Sunak, agravada por pesquisas desfavoráveis aos conservadores.

No começo de maio, após as eleições locais no Reino Unido que deram vantagem para o Partido Trabalhista e um revés para os conservadores — que aparentam estar divididos e desgastados, com dificuldades em cumprir algumas das promessas feitas antes do Brexit, especialmente no combate à migração e em relação ao crescimento econômico —, os vencedores tinham pedido para que Sunak adiantasse as eleições gerais para o este ano, e não mais para o segundo semestre de 2025. Algo que foi “atendido” pelo premiê. “Blackpool fala por todo o país, estamos fartos após 14 anos de fracasso, 14 anos de declínio, queremos virar a página e começar de novo com o trabalhismo”, declarou o líder do partido, Keir Starmer, apontado há meses pelas pesquisas como futuro primeiro-ministro. A derrota em Blackpool South, noroeste da Inglaterra, foi a 11ª eleição local que os conservadores perderam desde o pleito de dezembro de 2019, no qual haviam triunfado liderados por Boris Johnson.

Apesar na vantagem nas pesquisas, as perspectivas também não apontam um cenário perfeito para o Partido Trabalhista, que perdeu apoio em comunidades com uma grande população muçulmana, num contexto de críticas à sua posição no conflito entre Israel e Hamas em Gaza. Contudo, eles receberam apoio de 120 personalidades do mundo empresarial, em uma medida que parece confirmar a confiança dos círculos econômicos no favorito para as eleições. “Nós, diretores e investidores de empresas britânicas, acreditamos que chegou o momento da mudança”, argumentam os signatários, entre os quais estão diretores atuais e anteriores do banco JPMorgan, do aeroporto de Heathrow e do fabricante de carros Aston Martin.

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“Durante muito tempo, nossa economia sofreu com a instabilidade, falta de crescimento e falta de foco a longo prazo”, analisam, argumentando que os trabalhistas, um partido de centro-esquerda, “demonstraram que mudaram e querem trabalhar com as empresas para alcançar todo o potencial econômico do Reino Unido”. Para angariar votos, o primeiro-ministro conservador Rishi Sunak busca atrair os aposentados prometendo cortes de impostos de 95 libras em 2025-2026, até alcançar as 275 libras em 2029-2030. “Essa medida ousada demonstra que estamos ao lado dos pensionistas”, argumentou Sunak.

Candidatos a premiê

Keir Starmer

keir starmer

Keir Starmer, principal líder da oposição do Partido Trabalhista da Grã-Bretanha │ANDY BUCHANAN / AFP

Favorito para vencer as eleições, Keir Starmer, de 61 anos, nasceu em Londres e foi nomeado Cavaleiro da Ordem do Império Britânico pela rainha Elizabeth II, por seus serviços à Justiça criminal, embora não costume se apresentar como “Sir”. Ele é líder da oposição trabalhista, ex-advogado especialista em direitos humanos e atuou na Procuradoria da Inglaterra e de Gales. Desde sua chegada à liderança trabalhista em 2020, tenta equilibrar o partido mais ao centro, após anos mais esquerdistas com Jeremy Corbyn, acusado de deixar o antissemitismo prosperar em suas bancadas. Para seus apoiadores, é pragmático, confiável e preparado para colocar o Reino Unido, em declive econômico, nos trilhos. Seus críticos denunciam suas mudanças de direção, sua falta de carisma e dificuldades em estabelecer um plano claro para o futuro do país.

Rishi Sunak

O primeiro-ministro britânico Rishi Sunak se prepara para fazer um discurso fora de 10 Downing Street em Londres

Primeiro-ministro britânico Rishi Sunak anunciou uma eleição antecipada para 4 de julho│NEIL HALL/EFE/EPA

Aos 44 anos, Rishi Sunak, atual premiê, aparece na segunda posição das pesquisas das eleições britânicas. Ele está no cargo desde outubro de 2022, quando sucedeu Liz Truss, forçada a deixar o cargo 49 dias após assumi-lo com um projeto orçamentário que gerou pânico nos mercados, e tentará ser eleito ela primeira vez pelos britânicos. Sunak, contudo, possui o índice de popularidade mais baixo da história dos primeiros-ministros britânicos, segundo as pesquisas. O ex-ministro da Economia, de origem indiana, é o primeiro chefe de governo com raízes asiáticas no Reino Unido e o mais jovem dos últimos 200 anos. O empresário levou estabilidade ao caos dos anos Boris Johnson e reduziu a inflação à metade, em plena crise do aumento do custo de vida. Não cumpriu, porém, várias de suas promessas, como o envio de imigrantes irregulares para Ruanda e a redução da espera no serviço de saúde pública NHS.

Nigel Farage

Nigel farage

Presidente honorário do partido populista de direita britânico Reform UK e o recém-nomeado líder Nigel Farage chegam para uma reunião de campanha │HENRY NICHOLLS / AFP

Apesar de ter dito no final de maio que não concorreria às eleições legislativas, Nigel Farage mudou de opinião e anunciou sua candidatura a no dia 3 de junho, alegando que o pleito precisar ser mais “animado”. Aos 60 anos, o ex-deputado de extrema direita é uma das personalidades políticas mais controversas do Reino Unido. O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump chamou-o de “Sr. Brexit”, após convencer a maioria dos britânicos a votar a favor de uma ruptura com a União Europeia em 2016. Farage é novo líder do partido Reform UK, legenda eurofóbica, anti-imigração e hostil às políticas ambientais.

Outros candidatos

O líder do Liberais Democratas (LD, Liberal Democrats), Ed Davey, não tem chances de ser eleito, mas tanto ele como a formação do primeiro-ministro escocês John Swinney, o Partido Nacional Escocês (SNP, Scottish National Party), podem ter a palavra final. Davey, de 58 anos, espera que o seu partido conquiste algumas vagas no sul da Inglaterra, o que permitiria aos centristas permanecerem à frente do SNP, o terceiro maior partido no Parlamento. Swinney, embora não concorra nestas eleições, também pode influenciar o resultado. Uma das líderes dos ambientalistas do Partido Verde (Green Party), Carla Denyer, de 38 anos, espera conquistar uma vaga em Bristol (sudoeste de Inglaterra) para reforçar a presença deste grupo, que tem apenas quatro deputados no Parlamento.

*Com informações da AFP e EFE

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