Polícia prende general após tentativa de golpe de Estado na Bolívia

Juan José Zúñiga, comandante deposto do Exército boliviano, foi preso na noite desta quarta-feira (26); Zúñiga foi capturado e conduzido até um veículo policial do lado de fora de um quartel militar

  • Por Jovem Pan
  • 26/06/2024 20h42 - Atualizado em 26/06/2024 21h59
Luis Gandarillas/EFE bolivia tanque As tropas sob o comando de Zúñiga abandonaram a praça após várias horas de mobilização

O comandante deposto do Exército boliviano, Juan José Zúñiga, foi preso na noite desta quarta-feira (26) após liderar uma tentativa de golpe de Estado contra o presidente Luis Arce. Zúñiga foi capturado e conduzido até um veículo policial do lado de fora de um quartel militar. “Está preso, meu general!”, indicou o vice-ministro de Governo (Interior), Jhonny Aguilera, segundo imagens da emissora estatal. Acusado de uma “tentativa de golpe de Estado”, o agora ex-comandante geral do Exército da Bolívia, Juan José Zuñiga, alegou, ao ser detido, que o presidente do país, Luis Arce, idealizou a invasão de militares à sede do governo para “aumentar popularidade”. “Falarei em detalhes. No domingo, na escola La Salle, me encontrei com o presidente (Luis Arce), e o presidente me disse: ‘a situação está muito ferrada, esta semana será crítica, e algo é necessário para aumentar minha popularidade”, disse Zuñiga.

O militar ressaltou que Arce lhe pediu que fizesse uma ação militar. “Eu lhe perguntei: Devemos levar os blindados? E ele (Arce) respondeu: ‘leve-os”, acrescentou. Zuñiga também apresentou uma lista dos veículos que Arce teria ordenado que fossem usados. O ex-comandante foi detido e transferido para uma cela na sede da Força Especial de Luta contra o Crime, enquanto a Procuradoria-Geral anunciou uma “investigação criminal” sobre ele e os demais militares que invadiram a Casa Grande do Povo, a sede do governo. Durante a invasão e na frente da imprensa, Arce confrontou Zuñiga na entrada da sede do governo, cujo portão foi derrubado por um tanque, e ordenou, aos gritos, que ele “retirasse” os militares que o acompanhavam.

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Saiba o que aconteceu

Tropas militares e tanques foram deslocados para a sede do governo boliviano em La Paz e tentaram derrubar uma porta do palácio presidencial nesta quarta (26). Tanques e tropas ocuparam a Praça Murillo, no centro da capital boliviana, onde está a sede presidencial. Um tanque tentou derrubar uma porta metálica do palácio presidencial, por onde posteriormente entrou o general Juan José Zúñiga, comandante do Exército. Segundo a televisão boliviana, o militar entrou no edifício por alguns momentos antes de sair caminhando. Pouco depois, o presidente Luis Arce convocou os bolivianos a se mobilizarem “contra o golpe de Estado“. “O povo boliviano é convocado hoje, precisamos que o povo boliviano se organize e se mobilize contra o golpe de Estado, a favor da democracia”, disse Arce em uma mensagem ao país junto a seus ministros no palácio presidencial. “A democracia deve ser respeitada”, escreveu antes Arce em sua rede social X. “Está se formando um golpe de Estado. Neste momento, há o envio de pessoal das Forças Armadas e tanques na Praça Murillo”, denunciou por sua vez o ex-presidente Evo Morales. “Convocamos uma Mobilização Nacional para defender a Democracia frente ao golpe de Estado que está sendo articulado sob a liderança” do general Zúñiga, acrescentou.

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“Quebra da ordem”

Desde terça-feira circulam rumores sobre a provável destituição do chefe do Exército, no cargo desde novembro de 2022, que se opõe firmemente ao retorno de Morales ao poder no próximo ano. Em uma entrevista na segunda-feira com um canal de televisão, o chefe do Exército assegurou que prenderia Morales se ele insistisse em se candidatar à presidência nas eleições de 2025, apesar de ter sido inabilitado pela justiça eleitoral. “Legalmente, ele está inabilitado, esse senhor não pode voltar a ser presidente deste país”, disse Zúñiga.

O partido governante da Bolívia, o Movimento ao Socialismo (MAS), está profundamente dividido entre o presidente Luis Arce e seu antigo aliado e hoje adversário, o ex-presidente Evo Morales. Amparado nas reformas constitucionais que ele mesmo promoveu, Morales ocupou a presidência entre 2006 e 2019, quando foi forçado a renunciar após ser acusado de fraude eleitoral para obter um quarto mandato.

No final de dezembro de 2023, o Tribunal Constitucional inabilitou Morales como candidato presidencial para a disputa de 2025, argumentando que a reeleição indefinida não é um “direito humano”, como havia declarado em outra sentença de 2017. Mas Morales busca este ano a nomeação à presidência como candidato do MAS, enquanto o presidente Arce, no poder desde 2020, não se pronunciou sobre se buscará a reeleição.

Diante da tensa situação em La Paz, a Organização dos Estados Americanos (OEA) declarou que “não tolerará nenhuma forma de quebra da ordem constitucional” na Bolívia. “Expressamos nossa solidariedade com o presidente Luis Arce Catacora. A comunidade internacional, a secretaria-geral da OEA, não tolerará nenhuma forma de quebra da ordem constitucional legítima na Bolívia nem em qualquer outro lugar”, disse o chefe do organismo, Luis Almagro, em Assunção, onde está sendo realizada até sexta-feira a assembleia geral da organização.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, denunciou de imediato um “golpe de Estado”. “Presidente Lucho Arce, convoque o povo, só o povo salva o povo. Alerta, Bolívia!”, afirmou. Por sua vez, a presidente de Honduras, Xiomara Castro, em seu papel de presidente em exercício da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), convocou os países membros do grupo a “condenar o fascismo que hoje atenta contra a democracia na Bolívia e exigir o respeito pleno ao poder civil e à Constituição”.

Publicado por Carolina Ferreira

*Com informações da AFP e EFE

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