Próximo premiê britânico deve encarar problemas financeiros e falta de credibilidade do Partido Conservador
Especialistas alertam que sucessor de Boris Johnson vai precisar mostrar que a teoria de sair da União Europeia para melhorar o comércio com acordo bilaterais é verdadeira
O primeiro-ministro do Reino Unido confirmou nesta quinta-feira, 7, algo que já se especulava: a sua renúncia diante de tantos escândalos que abalaram o governo e o deixaram enfraquecido. Enquanto um novo premiê não assume a posição, Boris Johnson continua no poder, mas especialistas alertam que o sucessor não vai encontrar facilidade. Um dos principais pontos que precisam ser resolvidos é a questão econômica que assombra o país e fez com que a inflação aumentasse, cenário que começou a ser mais presente depois que os britânicos deixaram a União Europeia, em janeiro de 2020. Contudo, não é só essa dificuldade: também será necessário um candidato que devolva a credibilidade para o Partido Conservador, desacreditado e tachado pela população como mentiroso, já que não cumpriu sua principal promessa.
Igor Lucena, doutor em relações internacionais, destaca que o novo primeiro-ministro precisará resolver questões fundamentas do Reino Unido, como acordo comerciais. “O eleito precisa mostrar que a teoria do partido de sair da UE para melhorar o comércio com acordo bilaterais é verdadeira”, explica. Eduardo Fayet, consultor e especialista em Relações Institucionais e Governamentais, aponta que a questão econômica é a mais importante porque está pesando do ponto de vista “estratégico e político”. Ele cita que o Reino Unido tem uma inflação alta que “agravou por causa do Brexit”. Para Fayet, “o processo de recuperação precisa ser estruturado”. Além de problemas econômicos, existem outros pontos que não podem ser deixados de lado, pois vão se fazer presentes, como a solicitação de referendo separatista da Escócia e o protocolo da Irlanda do Norte. Desde a saída do Reino Unido da União Europeia, não ficou claro sobre como ficaria a circulação da população da Irlanda entre o norte e sul e o controle de mercadorias entre os países.
“O forte Partido Conservador, que há anos comanda o Reino Unido, está enfraquecido e desconfiado, não só porque os britânicos perceberam que o Brexit era uma mentira como os ‘exportadores e empresários viram que não está dando certo economicamente'”, explica Lucena. “O Partido Conservador é visto como se tivesse enganado os eleitores”, complementa o especialista, acrescentando que, se as eleições fossem hoje, provavelmente, o Partido Liberal. Porém, ele adianta que isso não deve acontecer. “É preciso que o conservador encontre uma maneira de fazer o futuro do país voltar a uma capacidade econômica e retomar a relevância no cenário internacional.” Fayet diz que essa vulnerabilidade pode “gerar o surgimento de novas lideranças, principalmente daquelas ligadas à diversidade”.
Sete pessoas estão listadas como as favoritas para assumir o cargo de Johnson. Apesar de não ter nada confirmado, “qualquer nome pode virar primeiro-ministro”, aponta Lucena. Ele, porém, destaca dois possíveis candidatos: Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças — que também está envolvido em escândalos —, e Ben Wallace, ministro da Defesa, que se popularizou por causa da forte ajuda militar e financeira direcionada para a Ucrânia. Para Fayet não há um favorito. “Essa é uma das poucas vezes na sucessão que não se tem uma indicação objetiva”, pontua. O governo de Johnson é o segundo maior apoiador do país de Volodymyr Zelensky, que desde fevereiro está em guerra com a Rússia. A troca de primeiro-ministro gerou dúvidas sobre como ficaria esse apoio. Apesar dos especialistas alertarem que ainda é precoce pensar nesse termo, eles alertam que não deve haver tanta mudança. O apoio aos ucranianos “é importante para segurança do Reino Unido a derrota da Rússia”, diz Lucena.
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