Como as tensões entre Irã e EUA levaram os países à beira de uma guerra

Depois de atingir o ápice em junho de 2019, a crise entre Irã e Estados Unidos volta a atingir ponto de alta tensão

  • Por Jovem Pan
  • 03/01/2020 15h11
EFE/EPA/RAHAT DAR Crise entre Irã e Estados Unidos chegou ao ápice com morte de general iraniano

O assassinato do general iraniano Qassem Soleimani pelos Estados Unidos, nesta quinta-feira (2), é o ponto mais alto de uma tensão entre os dois países que vem escalando nos últimos meses. Desde que o presidente americano Donald Trump assumiu o poder, a relação entre as nações ficou mais complicada, mas agora atingiu o ponto mais crítico e as coloca à beira de uma guerra.

A morte de Soleimani aconteceu no Iraque, onde os Estados Unidos tem exército desde 2003. O país foi o palco de ações ofensivas tanto do Irã quanto dos americanos nos últimos dias.

Antes disso, porém, a crise entre Irã e Estados Unidos foi no campo econômico. Em 2018, os americanos impuseram uma série de sanções econômicas ao país do Oriente Médio após a recusa iraniana em acabar com o programa nuclear e sair da guerra na Síria. Isso aconteceu depois de Trump cumprir a promessa de campanha e retirar os EUA do acordo nuclear firmado em 2015.

Tensões em 2019

No ano passado, Trump voltou a atacar o Irã e designou um importante braço do exército iraniano, o Islamic Revolutionary Guard Corps (IRGC), como organização terrorista. Em resposta, o país asiático acusou os americanos de financiarem o terrorismo. Com a ausência dos EUA do acordo nuclear, o Irã voltou a fazer ações que eram impedidas pelo tratado, como enriquecer urânio acima do limite imposto. Isso gerou mais sanções econômicas e crise.

O ápice das tensões aconteceu entre maio e junho do ano passado. A parte mais crítica da relação até então começou quando os Emirados Árabes Unidos divulgaram que quatro navios haviam sido sabotados na costa de Fujairah. Dias depois, um ataque de drone de rebeles do Iêmen atingiu um oleoduto na Arábia Saudita, aliada estratégica dos EUA e dos Emirados Árabes. O governo saudita acusou o Irã pela ofensiva.

No olho do furacão, um míssil quase atingiu a embaixada americana em Bagdá, no Iraque, o que irritou Donald Trump. “Se o Irã quiser guerrear, será o fim oficial do Irã. Nunca ameace os Estados Unidos de novo”, escreveu o presidente no Twitter em 19 de maio. O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, se ofereceu para mediar a situação entre os países, mas não teve sucesso.

Enquanto Abe estava no Irã, em junho, um outro navio norueguês foi atacado no Golfo de Omã. O governo iraniano, no entanto, afirmou que o navio sofreu um acidente. Poucos dias depois, o Pentágono autorizou o envio de 1 mil militares americanos ao Oriente Médio.

A crise se agravou em 20 de junho, quando o Irã abateu um drone dos Estados Unidos. Segundo o governo iraniano, a aeronave sobrevoava o espaço aéreo do país, mas Washington afirmou que o drone estava sobre águas internacionais. No dia seguinte, Trump disse que cancelou um ataque em retaliação ao abatimento da aeronave. De acordo o presidente, a ofensiva tinha potencial para matar 150 pessoas. Em resposta, Teerã garantiu que iria “confrontar com firmeza qualquer agressão ou ameaça dos EUA”.

Após as ameças de guerra, as tensões entre os dois países arrefeceram e voltaram ao campo econômico. Os Estados Unidos impuseram novas sanções ao Irã e diretamente ao ministro de Relações Exteriores Javad Zarif. Enquanto isso, o país oriental voltava a descumprir o acordo nuclear e enriquecia urânio acima do permitido pelo tratado.

Semana decisiva

No Iraque, onde Qassem Soleimani foi assassinado nesta quinta, os últimos dias foram de tensão entre Irã e Estados Unidos. No domingo (29), os EUA fizeram cinco ataques no país e na Síria contra a milícia Kataeb Hezbollah, apoiada pelos iranianos, como retaliação pela morte de um civil americano na semana anterior. Segundo Washington, a milícia teria sido responsável por disparar mísseis contra uma base militar.

A ofensiva americana matou 24 pessoas. Abu Mahdi al-Muhandis, um dos fundadores do grupo, também foi no morto no ataque a Soleimani. Milícias iraquianas e iranianas prometeram retaliação.

Na terça-feira (31), membros de milícias invadiram a embaixada americana em Bagdá e incendiaram parte do prédio. Com gritos contra os EUA e Israel, os manifestantes sitiaram a embaixada. Washington confirmou que não houve feridos e todos os funcionários estavam bem. Pelo Twitter, Donald Trump acusou o Irã pela crise.

Os milicianos só deixaram o perímetro nesta quarta-feira (1º), após uma ordem dos comandantes. Militares americanos responderam ao ataque com armas não-letais, como bombas de gás, e ninguém foi morto.

Toda a crise culminou no ataque desta quinta-feira contra Qassem Soleimani. Os americanos dispararam contra o avião de Soleimani no aeroporto de Bagdá. Segundo o Iraque, a investida foi conduzida por um drone. Os Estados Unidos confirmaram a ofensiva. Além do general e de Abu Mahdi al-Muhandis, mais seis pessoas foram mortas.

O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, prometeu uma “forte retaliação” contra os Estados Unidos nesta sexta-fiera (3). Em resposta, o governo de Trump pediu para que todos cidadãos americanos deixassem o Iraque imediatamente e ordenou o fechamento da embaixada em Bagdá.

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