Negociadores colombianos seguem a Havana para retomar diálogos de paz

  • Por Agencia EFE
  • 31/08/2014 18h24

Bogotá, 31 ago (EFE).- A delegação de paz do governo da Colômbia seguiu neste domingo a Havana para retomar os diálogos com a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), processo que, segundo o presidente Juan Manuel Santos, vai “bem avançado”.

A paz “será um caminho longo, sem dúvida, mas já começamos a traçá-lo com pés firmes e, de fato, estamos bem avançados”, manifestou o presidente colombiano em Bogotá, onde participou hoje do evento beneficente Caminhada da Solidariedade pela Colômbia.

Desde que começaram as negociações de paz, em novembro de 2012, ambas as partes alcançaram acordos em três dos cinco pontos da agenda: terras e desenvolvimento rural, participação em política e drogas e cultivos ilícitos.

A equipe negociadora do governo, que deixou Bogotá nesta tarde, iniciará amanhã em Havana o 28º ciclo dos diálogos, centrados no tema das vítimas, um dos mais espinhosos do processo, já que inclui a discussão sobre verdade, justiça, reparação e garantias de não repetição dos fatos que marcaram meio século de conflito armado no país.

O debate do ponto das vítimas começou no último dia 12 de agosto e, quatro dias depois, contou com o depoimento de um primeiro grupo de 12 representantes das mais de 6,5 milhões de vítimas relacionadas ao conflito armado.

Um segundo grupo de vítimas viajará a Havana em uma data ainda a ser definida, entre os dias 9 e 11 de setembro, para também apresentar seus relatos e expectativas sobre o que esperam deste processo.

O tête-à-tête das vítimas com os representantes das Farc e do governo não esteve isento de polêmica, tendo em vista que a seleção feita pela ONU e pelo Centro de Pensamento da Universidade Nacional não representa os afetados, como muitos consideram.

Algumas vozes, principalmente do opositor partido Centro Democrático, liderado pelo ex-presidente e senador Álvaro Uribe (2002-2010), criticaram a cordialidade com a qual alguns representantes das vítimas cumprimentaram os delegados das Farc no último dia 16 de agosto em Cuba.

No entanto, os membros desse primeiro dos cinco grupos de vítimas que irão a Havana expressaram por unanimidade sua confiança no processo de paz como único caminho para o fim da violência e a reconciliação, dizendo estarem “unidos na dor” independentemente de que fossem seus agressores e convidando todos a fazerem parte desta “causa comum”.

Também não foi alheia às críticas em relação à criação de uma subcomissão técnica composta por altos comandantes militares, a qual se encarregaria de desenhar a estratégia para que os guerrilheiros possam abandonar suas armas e que integra quinto ponto da agenda, o do fim do conflito propriamente dito.

Essa subcomissão militar está liderada pelo general Javier Flórez, que deixará o posto de chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Militares, na prática o segundo na hierarquia militar, para se dedicar aos trabalhos de paz junto a outros seis oficiais de alta categoria do exercito, da Marinha, da Força Aérea e da Polícia.

Em relação às críticas à participação de militares ativos nos diálogos com as Farc, o presidente respondeu que nada “dignifica” mais do que as Forças Armadas, que são as que tiveram que lutar na guerra, estarem presentes no momento de negociar a paz.

“Pela primeira vez estamos falando com a guerrilha sobre como faremos uma cessação ao fogo bilateral e definitivo e como eles deixarão as armas. Chegar a este ponto não foi fácil e o que segue depois também não será fácil não”, disse hoje o chefe de Estado.

O presidente se mostra tão confiante neste processo que, na última sexta-feira, anunciou a criação de uma nova unidade militar, o Comando de Transição, que se encarregará de liderar o passo pós-conflito e que estará a cargo justamente do general Flórez.

O chefe negociador do governo colombiano, Humberto de la Calle, também lançou uma mensagem encorajadora na semana passada (dia 22), ao término da anterior rodada de diálogos. Na ocasião, ele afirmou que o processo, após 20 meses, entrou “em momentos decisivos” e “com grandes possibilidades de pôr fim ao conflito”. EFE

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