Ofensiva de primavera talibã no Afeganistão desloca milhares de pessoas

  • Por Agencia EFE
  • 10/06/2015 06h23

Baber Khan Sahel.

Cabul, 10 jun (EFE).- Falta de um lugar para dormir e de escolas para as crianças, incertezas e pouco amparo fazem parte do dia a dia de milhares de deslocados no Afeganistão que nas últimas semanas abandonaram seus poucos pertences perante os combates na ofensiva de primavera dos talibãs.

A ofensiva começou em 24 de abril e causou novas ondas de deslocamentos no país forçando milhares de camponeses a abandonar suas casas e cultivos para se refugiarem em áreas urbanas, onde não têm acesso à educação e recebem apenas pequenas ajudas do governo e de ONGs.

Na primavera, tradicionalmente, aumentam os combates no Afeganistão e todos os anos os insurgentes anunciam o início de uma ofensiva nesta época, que desta vez leva o nome de “Azm” (Resolução), com foco em organismos e pessoas públicas e interesses estrangeiros.

A província de Kunduz foi a mais castigada. Aproximadamente, 100 mil pessoas deslocadas foram registradas no último mês devido aos combates entre os talibãs e o exército afegão, informou à Agência Efe o porta-voz do Alto Comissariado para os Refugiados (Acnur), Nadir Farhad.

A maior parte dos deslocados que se refugiou em Kunduz, capital homônima da província, é oriunda de quatro distritos: Aliabad, Imam Sahib, Char Dara e Gultepa.

“Deixamos tudo para trás. Só levamos a roupa do corpo e nossos filhos. Não conseguimos pegar nem um cobertor”, disse à Efe Abdul Manaf Sahar, um agricultor de Imam Sahib.

Ele e os nove membros de sua família agora vivem em uma tenda de campanha emprestada por familiares sob um tórrido sol.

“Não posso pagar o preço de uma casa. Estou preocupado porque se os combates continuarem meus filhos terão perdido todo o ano”, lamentou Sahar, ao mencionar os quatro filhos, estudantes do ensino médio, que agora passam os dias sem ter o que fazer.

Todas as escolas em zonas de conflito foram fechadas por conta da segurança dos estudantes, a prioridade do governo, segundo o porta-voz do Ministério da Educação, Kabir Haqmal.

Contudo, o conflito não afeta somente as crianças e a educação, mas também o sustento de milhares de camponeses que tiveram que fugir a poucas semanas da colheita de produtos como o trigo, o melão e a melancia.

“Perderemos nossas colheitas e teremos que passar todo o próximo ano sem o pão nem o dinheiro que estávamos recebendo da venda de nossos outros produtos. Só queremos viver, dar comida aos nossos filhos e que levem essa guerra asquerosa para outro lugar”, disse Moosa Khan, agricultor que também teve a casa destruída em Aliabad e que agora vive de aluguel, com a ajuda de parentes.

Ele reconhece que a cidade está calma, sem disparos ou explosões, mas lembra que precisam comer e ter dinheiro para as despesas.

“Tenho vergonha porque no último mês minha família teve que ser alimentada por meus parentes, que também são pobres”, contou.

Wadud Paiman, membro do parlamento de Kunduz, reconheceu à Efe que as doações de cidadãos e de organizações humanitárias ajudaram, mas que essas assistências não existem mais.

“Esta gente, que espera desesperadamente por ajuda, está vivendo em más condições”, acrescentou.

O diretor provincial do escritório do Ministério de Refugiados e Repatriação, Abdul Salam Hashimi, disse que 18 mil famílias se registraram para receber ajuda do governo, mas apenas 2.500 foram assistidas.

“Além disso, centenas de famílias fugiram em diferentes direções”, declarou, destacando que a essas pessoas não chegarão nem auxílio público nem de ONGs.

De acordo com dados do Acnur e do Ministério para os Refugiados, o conflito no Afeganistão provocou o deslocamento de 873 mil pessoas desde 2002. EFE

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