Oficiais israelenses se negam a servir e denunciam ocupação
Tel Aviv, 12 set (EFE).- Um grupo de oficiais que faz parte da inteligência militar israelense deixou o exército ao denunciar que o objetivo da unidade a qual pertencem não é somente a luta antiterrorista, mas manter e aprofundar a ocupação da Palestina.
Em um comunicado que a Agência Efe teve acesso, os oficiais acusam as forças armadas de não respeitar os direitos dos palestinos, espionar pessoas inocentes e de usar informações para chantagear e fortalecer a divisão entre os palestinos.
“Nós, veteranos da unidade 8200, soldados na reserva no passado e no presente, declaramos que rejeitamos seguir tomando parte nas ações contra os palestinos e a servir como ferramenta que aprofunda o controle militar nos territórios ocupados”, diz a carta.
“Comumente se acredita que o serviço de inteligência está livre de dilemas morais e que só contribui para a redução da violência e dos danos à população. Mas nosso serviço militar nos ensinou que a inteligência é uma parte integral da ocupação militar israelense dos territórios”, acrescenta.
A carta, assinada por 43 oficiais e encaminhadas ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ao chefe do exército, Benny Gantz, e ao chefe dos serviços secretos militares, Aviv Kochavi, afirma que toda a população palestina está exposta à vigilância, sem restrições nem direitos.
“A população palestina sob o governo militar está completamente exposta à espionagem e à vigilância da inteligência israelense. Enquanto existem severas limitações para a vigilância dos israelenses, os palestinos carecem desse tipo de proteção”, questiona.
“Não se diferencia entre os palestinos que estão envolvidos na violência dos que não estão. A informação copilada e armazenada danifica gente inocente. Se usa para perseguição política, para criar divisões entre os palestinos”, afirma.
A carta, que foi aprovada pela censura militar após um longo e complexo processo legal, diz que, “em muitos casos, a inteligência impede que o acusado possa ter um julgamento justo em tribunais militares, já que as provas contra ele não são reveladas”.
“A inteligência permite que continue o controle sobre milhões de pessoas por meio da vigilância e da invasão da maior parte de suas áreas de vida. Isso não permite que as pessoas vivam de forma normal e conduz a mais violência”, adverte.
“Milhões de palestinos viveram sob ocupação militar israelense durante 47 anos. Este regime nega os direitos básicos e expropria grandes lances de terras para a construção de colônias judaicas que tem um sistema legal, uma jurisdição e uma aplicação da lei distinta”, critica.
Os oficiais negam a desculpa de que esta política de apropriação de terras tem um objetivo de segurança, como afirmam seus incentivadores, mas que na realidade procura explorar os recursos e castigar coletivamente aos palestinos.
“Esta realidade não é o inevitável resultado dos esforços do Estado de se proteger, mas o resultado de uma escolha. As colônias não têm nada a ver com a segurança nacional. O mesmo (se pode dizer) sobre as restrições de construção e desenvolvimento, da exploração econômica da Cisjordânia, do castigo coletivo de Gaza e da atual barreira de separação”, aponta.
“À luz de tudo isto, chegamos à conclusão de que como indivíduos que serviram na unidade 8200 devemos assumir a responsabilidade por nossa participação nesta ação e é nosso dever moral atuar”, afirma.
“Não podemos seguir servindo ao sistema com a consciência limpa, negando os direitos de milhões de pessoas. Por isso, aqueles de nós que somos reservistas nos negamos a tomar parte nas ações do Estado contra os palestinos”, diz a carta.
A carta conclui com uma chamada aos serviços secretos do exército e a todos os cidadãos de Israel para que “denunciem estas injustiças e se envolvam para que desapareçam”.
“Achamos que o futuro de Israel depende disto”, finaliza. EFE
jm/dk
(foto) (vídeo embargado até as 15h de Brasília)
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