Oposição argentina deixa sessão do Senado em protesto contra vice-presidente

  • Por Agencia EFE
  • 06/08/2014 20h45

Buenos Aires, 6 ago (EFE).- Os blocos opositores do Senado da Argentina se levantaram nesta quarta-feira de suas bancadas para repudiar a decisão do vice-presidente do país, Amado Boudou, de presidir uma sessão na câmara alta apesar de estar indiciado em um processo por corrupção.

Antes de deixar suas cadeiras, os senadores opositores não tiveram papas na língua para expressar suas críticas ao vice-presidente, que depois prosseguiu à frente da sessão, convocada para que o chefe de gabinete, Jorge Capitanich, informasse seu relatório periódico de gestão.

Esta é a primeira vez que Boudou dirige um debate no Senado desde que foi indiciado no último dia 27 de junho pelo juiz Ariel Lijo por suborno passivo e negociações incompatíveis com seu cargo, em relação com a compra irregular de uma empresa de impressão de papel-moeda.

No mês passado, a oposição já tinha ameaçado impedir o quórum em uma importante sessão do Senado para o governo se o vice-presidente argentino, que é titular da câmara alta, presidisse o debate, e finalmente, o governo, para poder abrir a discussão e levar adiante a iniciativa, chegou a um acordo com os opositores e Boudou não comandou os trabalhos.

Porém, nesta quarta-feira, Boudou apareceu para presidir o debate e ficou exposto para receber as críticas dos opositores, que reivindicaram novamente que o vice-presidente peça uma licença até que se resolva o caso judicial.

O primeiro a tomar a palavra foi o chefe do bloco de senadores da União Cívica Radical, Gerardo Morales, que afirmou que Boudou representa “uma vergonha” para a câmara alta.

Morales anunciou a apresentação de um projeto de resolução, pactuada por vários blocos de oposição, que propõe “suspender Boudou em sua qualidade e prerrogativa de presidente do Senado”.

A iniciativa, que dificilmente prosperará já que o governo é majoritário no parlamento, busca impedir que o vice-presidente volte a presidir as sessões na câmara alta até que a Justiça estabeleça suas responsabilidades na causa judicial.

“Esta incomodidade que grande parte da oposição lhe manifesta não tem precedentes na história do Senado. Sua presença nesse lugar me incomoda”, afirmou por sua parte o senador Luis Juez, da Frente Cívica.

No mesmo sentido, Adolfo Rodríguez Saá, do Peronismo Federal, afirmou que “a vida do Senado está perturbada” pelo indiciamento do vice-presidente.

Após o rosário de críticas dos opositores, Pablo González, do governante Frente para a Vitória, pediu a palavra para sair em defesa de Boudou, mas a oposição se levantou de suas cadeiras e abandonou o recinto.

“Estamos acostumados com a retirada deles, em 2001 se foram em helicóptero”, disse González, em referência a quando o radical Fernando de la Rúa abandonou a presidência argentina no meio de uma severa crise.

Com quórum próprio, o governo continuou com a sessão, com a apresentação do relatório de gestão do chefe de gabinete, embora alguns senadores do Frente para a Vitória tenham aproveitado o uso da palavra para defender Boudou.

“Este bloco defende homogeneamente Boudou. Não pensem que estamos divididos”, exclamou o senador Ruperto Godoy.

No mês passado, Boudou recorreu do indiciamento ditado por Lijo, que lhe acusa de ter comprado a empresa Ciccone junto com José María Núñez Carmona, empresário e amigo do vice-presidente, e Alejandro Vandenbroele, da firma The Old Fund.

Lijo também indiciou os donos da Ciccone, inicialmente testemunhas do caso, por supostamente oferecer a cessão de ações em troca de serem salvos de uma quebra solicitada pela Receita e de pactuar contratos com o Estado para imprimir notas e documentos.

Além disso, o juiz indiciou um ex-chefe de assessores da Receita que supostamente facilitou um plano de pagamentos para suspender a quebra.

Boudou é, além disso, investigado em outra causa judicial por supostas irregularidades no trâmite da compra de um carro. EFE

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