Ossadas encontradas no Cemitério de Perus começam a ser identificadas

  • Por Agencia Brasil
  • 13/12/2014 10h01
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O Grupo de Trabalho Perus, instituído em outubro pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República, já identificou sete ossadas do Cemitério de Perus, em São Paulo, que podem ser de desaparecidos políticos. Os resultados parciais foram divulgados hoje (12) na capital paulista.

O grupo que conta com arqueólogos, psicólogos e antropólogos forenses fez, até o momento, a análise de 112 caixas de ossadas de um total de cerca de 900 que foram encontradas em uma vala comum no cemitério. No local, segundo depoimento de testemunhas, podem estar enterrados militantes assassinados pela ditadura.

Nas caixas já analisadas foram encontradas 112 ossadas praticamente completas e mais 27 parciais. Das ossadas completas, sete tinham sinais de violência: três delas compatíveis com traumas provocados por armas de fogo, e quatro com traumas contundentes, que podem ter sido causadas por agressões ou acidentes.

“Se pensarmos que de 112 ossadas, três têm sinais de armas de fogo, isso dá quase 3%, e isso é um índice alto. Nós temos 1.049 caixas [a serem examinadas], foram abertas 112, e não sabemos ainda o que vamos encontrar nas outras”, destacou o coordenador científico do grupo, Samuel Ferreira.

Para concluir que as ossadas são, de fato, de desaparecidos políticos, ainda é necessário fazer um exame genético a fim de comparar o material dos restos mortais com o genoma das 41 famílias dos militantes assassinados durante a ditadura, ainda não encontrados, e que podem ter sido enterrados em Perus. A coleta dos materiais genéticos ocorrerá durante o ano que vem. O grupo de trabalho tem prazo de 36 meses renováveis por igual período.

“Quando você acha os restos mortais de uma pessoa, você coloca aquela pessoa cidadã novamente. Reinsere a memória daquela pessoa, e a importância daquela pessoa para a história. É um resgate da minha ancestralidade, da minha história, para família e para história do Brasil”, disse Clarisse Ferreira Mantuano, sobrinha-neta de Aluísio Palhano Pedreira Ferreira, militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), desaparecido no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), na Rua Tutoia, na capital paulista, em 1971.

Fazem parte do grupo representantes da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos da Secretaria de Direitos Humanos, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), de parentes membros da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça e por parentes consanguíneos dos desaparecidos políticos cujos restos mortais podem estar entre os exumados encontrados no Cemitério de Perus.

“Este trabalho está revelando uma política de desaparecimento. Que é algo gravíssimo. A política de desaparecimento da população pobre, negra, indígena, [executados por] grupos de extermínio. Este trabalho também vai apresentar dados para que a gente não combata apenas a ditadura, mas que se tenha uma política de desaparecimento de milhares de pessoas”, disse a secretária da SDH, Ideli Salvatti.

Localizado na zona norte de São Paulo, o cemitério criado em abril de 1971 tem cerca de 254 mil metros quadrados de extensão. Durante a ditadura, o local foi usado para enterrar corpos de pessoas que combateram a ditadura militar. Em 1990, mais de mil ossadas enterradas em uma vala clandestina foram encontradas no local.

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade e à Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, o ex-administrador do Cemitério de Perus, entre os anos 1976 e 1992, Antonio Pires Eustáquio disse que não foi possível determinar o número de corpos de militantes que foram enterrados em Perus durante a ditadura.

Segundo ele, os trabalhadores do cemitério anteriores à sua gestão relatavam que os corpos dos militantes chegavam sob forte esquema de segurança e que eram enterrados como indigentes em caixões de madeira bruta, cada qual em uma sepultura. Os corpos dos militantes eram enterrados nas quadras 1 e 2, da Gleba 1, onde também eram enterrados os indigentes.

 
Bruno Bocchini – Repórter da Agência Brasil Edição: Aécio Amado
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