Polêmico caso americano de “afluenza” acaba em tratamento e não prisão

  • Por Agencia EFE
  • 06/02/2014 21h22

Cristina García Casado.

Washington, 6 fev (EFE).- O adolescente americano Ethan Couch, que matou quatro pessoas quando dirigia bêbado, será internado em um centro de reabilitação e, assim, evitará a prisão após ser diagnosticado com “afluenza”. Sua vida no seio de uma família rica foi tão fácil que ele cresceu sem conhecer limites ou consequências.

O caso, que gerou grande polêmica nos Estados Unidos no final do ano passado, terminou nesta quarta-feira com a decisão da juíza Jean Boyd de enviar o jovem de 17 anos para um centro de reabilitação, embora não tenha informado por quanto tempo nem qual a localização.

Os advogados do adolescente, em declarações à imprensa, tentaram tirar o foco do termo da discórdia, “afluenza”, mas foi exatamente o psicólogo de defesa que se serviu em dezembro desta palavra, desconhecida por muitos até então, como argumento para eximir Couch da prisão.

Graças à tese do psicólogo, o garoto pagará pelo crime um preço muito inferior ao habitual nestes casos: ele fará um custoso tratamento que seus endinheirados pais já se ofereceram para bancar. Além disso, ele também perderá a habilitação. Contudo, a pena poderia ter sido maior, e ele poderia passar dez anos atrás das grades.

O caso sacudiu à opinião pública dos Estados Unidos, que se questiona se a desculpa de o garoto não ter limites também serviria se, em vez de ser um menino rico, fosse um adolescente sem recursos cujos pais não tivessem tempo de educá-lo como é devido.

Sobre o tema, tem vindo à tona ainda que a mesma juíza sentenciou a dez anos em um centro de detenção juvenil outro adolescente que matou duas pessoas.

O termo “afluenza” se popularizou em 1997 pelo bem-sucedido filme homônimo de John de Graaf, um olhar mordaz às consequências do consumismo e o materialismo nos EUA.

“Nós fizemos uma crítica social, não psiquiatria”, escreveu um surpreendido Graff, que jamais teria imaginado o uso e a atenção que a palavra que ele fez virar moda há duas décadas chegaria a alcançar o julgamento de um adolescente.

A “afluenza” não aparece como doença reconhecida no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria. O pouco que se escreveu sobre este transtorno se encontra em documentos não acadêmicos, por isso que vários profissionais mostraram ceticismo no caso de Couch.

Até o momento, os escritos de profissionais sobre este conceito indicam que a “afluenza” não é exatamente uma doença, mas uma espécie de “epidemia social” de consumismo e materialismo desenfreados.

Além do debate sobre um termo que a maioria dos cidadãos nunca tinha escutado antes, o que terminou de crispar a opinião pública dos Estados Unidos é que o fato de que ser um autêntico privilegiado sirva como argumento para esquivar a Justiça.

Alguns analistas destacam a ironia que Couch, um menino que supostamente sofre algum tipo de transtorno por nunca ter recebido castigos dos pais, volte nesta ocasião a ter um tratamento menos duro do que outros adolescentes tiveram nas mesmas circunstâncias por parte da Justiça.

A pergunta inevitável que deixa a opinião pública americana é se este é o tratamento adequado para que Couch aprenda a ter responsabilidade. EFE

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