Ao chamar impeachment de golpe, Lula afasta centro-direita e coloca paz com STF em risco

PSDB, João Amôedo e MBL fizeram duras críticas ao petista após discursos na Argentina e no Uruguai; conservadores cobram posicionamento do STF, que chancelou afastamento de Dilma

  • Por Jovem Pan
  • 25/01/2023 17h50 - Atualizado em 25/01/2023 19h48
MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO - 19/01/2023 Lula Para parlamentares, discurso representa ataque à instituições democráticas

Políticos reagiram de forma negativa à decisão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de classificar o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, como um “golpe de estado”. A denominação já havia sido usada em sites oficiais do governo e foi repetida pelo presidente durante suas viagens oficiais à Argentina e ao Uruguai. O posicionamento do petista não agradou alguns parlamentares, principalmente os da centro-direita, gerando um clima de forte oposição ao atual mandatário. Com a repercussão da fala, muitos políticos decidiram se pronunciar sobre a escolha de palavras de Lula e cobrar um posicionamento dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). “Infelizmente é preciso repetir: quem chama o impeachment de Dilma de golpe ataca a democracia no Brasil, o Congresso e o STF. É um discurso extremista e incentiva o ataque a instituições”, escreveu nas redes sociais o perfil do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). “Agora o Lula está atacando as instituições falando que o impeachment foi golpe. O STF vai ficar só olhando?”, escreveu o perfil do Movimento Brasil Livre (MBL). O ex-presidente Michel Temer, que sucedeu Dilma após o impeachment, também se posicionou sobre o assunto. Ele foi chamado de “golpista” em um dos discursos do atual presidente. “Mesmo tendo vencido as eleições para cuidar do futuro do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece insistir em manter os pés no palanque e os olhos no retrovisor, agora tentando reescrever a história por meio de narrativas ideológicas. Ao contrário do que ele disse hoje em evento internacional, o país não foi vítima de golpe algum. Foi, na verdade, aplicada a pena prevista para quem infringe a Constituição”, argumentou. Vale lembrar que o MDB de Temer tem três ministros no governo Lula: Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Jader Filho (Cidades) e Renan Filho (Transportes). Além disso, foi o ex-presidente quem indicou Alexandre de Moraes ao STF.

Amistoso com o PT até então — declarou voto contra Jair Bolsonaro no segundo turno e chegou a elogiar alguns ministros escolhidos por Lula —, o ex-presidente do Novo João Amôedo mostrou sua insatisfação com os últimos acontecimentos em Brasília. “Bolsonaro foi o maior cabo eleitoral do PT. Lula, classificando o impeachment de Dilma como golpe de Estado, relativizando ditaduras, afirmando que empreendedor não trabalha e colocando o BNDES para financiar outros países, parece disposto a retribuir o favor.” Contrários a Lula desde o início, os parlamentares da ala conservadora elevaram o tom e cobraram o STF. O deputado federal Carlos Jordy (PL) declarou que “Lula tenta reescrever a história, fomentando a narrativa de golpe contra Dilma. Esse é o sujeito que disse que queria pacificar o Brasil: promovendo um ataque institucional e ao processo legítimo de impeachment que teve apoio da maioria esmagadora da população. O amor venceu!”. Já Ubiratan Sanderson (PL) defendeu a interrupção no mandato do atual mandatário, opinando que a fala atenta contra o Legislativo e o Judiciário. “Ao afirmar em discurso oficial e público que o impeachment de Dilma foi um golpe de Estado, Lula atenta contra os Poderes e contra a Constituição Federal, situação que por si só impõe a abertura de impeachment pela flagrante prática de crime de responsabilidade“, disse o congressista.

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