Assessor internacional de Bolsonaro faz gesto supremacista durante fala de Pacheco

Ação de Filipe Martins foi associada à expressão ‘white power’, ou seja, poder branco; nas redes sociais, o auxiliar do presidente da República afirmou que estava ‘ajeitando a lapela’ de seu terno

  • Por Jovem Pan
  • 25/03/2021 13h17 - Atualizado em 25/03/2021 17h05
Reprodução/TV Senado De máscara, pessoa faz gesto atrás de senador Senador Randolfe Rodrigues pediu que Martins fosse retirado do Senado e autuado pela Polícia Legislativa

O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Filipe Martins, fez um gesto associado a supremacistas brancos durante uma sessão do Senado na qual o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, explicava as ações da pasta em relação à aquisição de vacinas contra a Covid-19. A cena foi flagrada porque Martins estava sentado atrás do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, que discursava naquele momento. Irritado com a postura do assessor presidencial, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da Oposição, fosse retirado das dependências do Senado e autuado pela Polícia Legislativa.

O gesto, também confundido com o sinal de “Ok”, significaria, nesse caso, White Power, ou seja, poder branco. O polegar e o dedo indicador formam o círculo da letra “P”, enquanto os outros três dedos esticados representam a letra “W”. Nas redes sociais, a ação de Filipe Martins foi imediatamente associada à conduta de Brenton Tarrant durante seu julgamento em 2020 – em 2019, ele matou 51 pessoas a tiros em uma mesquita na Nova Zelândia.

Comparação entre dois gestos

Gesto do assessor foi comparado ao símbolo feito por homem que assassinou 51 pessoas na Nova Zelândia

Filipe Martins gesticulava enquanto Rodrigo Pacheco cobrava uma ação do Ministério das Relações Exteriores. “Que a população brasileira seja informada sobre as ações do governo federal para o enfrentamento da pandemia. Nesse sentido, precisamos conhecer melhor a contribuição do MRE, no seu campo de atuação”, dizia o presidente do Senado. Diante da repercussão, o assessor presidencial foi ao Twitter se manifestar sobre o caso. Segundo a sua versão, ele estava “ajeitando a lapela” de seu terno. “Um aviso aos palhaços que desejam emplacar a tese de que eu, um judeu, sou simpático ao “supremacismo branco” porque em suas mentes doentias enxergaram um gesto autoritário numa imagem que me mostra ajeitando a lapela do meu terno: serão processados e responsabilizados; um a um”, escreveu.

O gesto de Martins causou indignação do senador Randolfe Rodrigues. “Solicito, requeiro, a vossas excelências, na condição de líder da oposição, que ele seja retirado das dependências do Senado e inclusive autuado pela Polícia Legislativa”, disse. “É inaceitável, basta o desrespeito que esse governo está tendo com mais de 300 mil mortos a essa altura”, acrescentou. Visivelmente irritado, o parlamentar pediu desculpas por ter se exaltado mas destacou que “não existem mais limites a serem ultrapassados”.

Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco determinou que a Polícia Legislativa apurasse o caso. “Pedirei à Secretaria-Geral da Mesa, igualmente à Polícia Legislativa, que identifiquem o fato apontado. E tendo havido, de fato, o fato, nas circunstâncias como vossa excelência [Randolfe] aponta, serão tomadas todas as providências — e enérgicas — por parte da Presidência do Senado”, afirmou durante a sessão. Mais tarde, a assessoria do senador afirmou que o procedimento já estava aberto.

Também nas redes sociais, o Museu do Holocausto no Brasil afirmou que o gesto “transformou-se em um símbolo de ódio”. “Recentemente, o símbolo foi classificado como um sinal utilizado por supremacistas brancos para se identificarem. A ADL diz que o símbolo se tornou uma “tática popular de trolagem” por indivíduos da extrema-direita, que postam fotos nas redes de si mesmos fazendo o gesto. “O Museu do Holocausto, consciente da missão de construir uma memória dos crimes nazistas que alerte a humanidade dos perigos de tais ideias, reforça que a apologia a este tipo de símbolo é gravíssima. Nossa democracia não pode admitir tais manifestações”, diz a publicação.

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