Caso Covaxin: Diretor da Precisa se cala e CPI aponta esquema de lavagem de dinheiro 

Danilo Trento não respondeu à maioria das perguntas, se reuniu reservadamente com advogado em três ocasiões e foi ameaçado de prisão por omitir informações

  • Por Jovem Pan
  • 23/09/2021 16h57 - Atualizado em 23/09/2021 19h37
Edilson Rodrigues/Agência Senado Homem acompanhado de advogado em sessão da CPI Danilo Trento foi questionado sobre esquema de lavagem de dinheiro e detalhes do caso Covaxin

Em um dia de “contribuição nula”, como disseram os membros da comissão, a CPI da Covid-19 ouviu, nesta quinta-feira, 23, Danilo Trento, sócio da Primarcial Holding e Participações e diretor de relações institucionais da Precisa Medicamentos, empresa que intermediou a negociação feita pelo governo do presidente Jair Bolsonaro com a Bharat Biotech para a compra de 20 milhões de doses da vacina Covaxin. O depoente não respondeu à maioria das perguntas, foi ameaçado de prisão em mais de uma ocasião e não soube dar detalhes sobre o acordo firmado entre a Precisa e o laboratório indiano.

Logo no início da sessão, Trento repetiu uma única frase: “Senhor senador, com todo o respeito, me reservo ao direito de permanecer em silêncio”. Em tom de deboche, o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), perguntou se o depoente tinha algum envolvimento na morte do ex-presidente Getúlio Vargas. O diretor da Precisa, evidentemente, disse que não. “Até agora, só sabemos que o senhor não matou Getúlio Vargas. É a única informação que temos”, ironizou Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Apesar do recorrente silêncio, uma pergunta feita ao depoente reforçou a impressão dos senadores de que empresas ligadas a Danilo e Francisco Maximiano estão envolvidas em um esquema de lavagem de dinheiro.

Ele não soube explicar as atividades de sua própria empresa, a Primarcial Holding. “A empresa do senhor faz participações em quê?”, questionou Aziz (PSD-AM). “Eu tenho que olhar o contrato social dela, as outras atividades, mas é uma empresa de participação”, disse. “O senhor não sabe me informar como é a participação da sua empresa?”, insistiu Aziz. Trento, então, recorreu ao direito de ficar em silêncio. Os parlamentares também perguntaram qual era o endereço de sua companhia. O depoente pediu para se reunir reservadamente com seus advogados antes de responder – isto ocorreu em outras duas ocasiões. Após um breve intervalo, o empresário admitiu que a Primarcial fica no mesmo local das empresas de Francisco Maximiano.

Vice-presidente da CPI da Covid-19, Randolfe exibiu, no telão do plenário da CPI, transferências de recursos que envolvem joalherias, padarias, empresas de viagens, entre outras. A Primarcial Holding, de Danilo Trento, transferiu R$ 78 mil para a Oliveira Joias, localizada no Shopping Cidade, em Curitiba, no Paraná. De acordo com o parlamentar, o valor seria destinado ao pagamento de um relógio Rolex. Ainda segundo Randolfe, há transferências consideradas suspeitas entre a Primarcial, de Trento, e a Elite Participações, que repassou R$ 9 milhões a quatro panificadoras entre dezembro de 2019 e dezembro de 2020. “Eu queria saber por que a Elite Participações, uma empresa para a qual a sua empresa transfere recursos, tem tanta obsessão para transferir recursos a padarias. Haja pão para ser produzido em um ano”, ironizou o vice da comissão.

Randolfe Rodrigues também apontou transações feitas entre a Barão Turismo, que executou as viagens de dirigentes da Precisa para a Índia, a Primarcial e as empresas 6M Participações e BSF Gestão em Saúde, ligadas a Francisco Maximiano. As movimentações começaram a ocorrer com maior frequência em um período próximo à assinatura do contrato entre governo federal e a Precisa Medicamentos. “Nós identificamos a empresa que, tudo indica, é a empresa de lavagem deste esquema criminosa: a Barão Turismo. Esta empresa abre uma offshore em Wyoming [Estado dos Estados Unidos] no mês de fevereiro [de 2021]. Há um repasse a mais de recurso, para esta empresa, por parte da Primarcial e do grupo Precisa, entre os dias 15 e 25 de fevereiro. No dia 25 é assinado o contrato entre a Precisa e o Ministério da Saúde para a aquisição de uma vacina que nunca viria ao Brasil. Em fevereiro, não tivemos apenas o chopp no Vasto. Tivemos a abertura de uma offshore, que configura crime de evasão de divisas. Tudo indica que essa offshore foi montada para o pagamento de propinas do esquema criminoso da Precisa através da vacina Covaxin”, explicou o senador da Rede.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.