Caso VTCLog e atuação de lobista devem prorrogar trabalhos da CPI, mas decisão divide cúpula da comissão

Senadores não querem perder o ‘timing político’ para a entrega do relatório, mas admitem que seria um erro finalizar as investigações e deixar ‘pontas soltas’ pelo caminho 

  • Por André Siqueira
  • 05/09/2021 14h00
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Jefferson Rudy/Agência Senado - 19/08/2021 Randolfe Rodrigues e Omar conversam em pé (e usando máscaras) durante sessão da CPI, enquanto Renan Calheiros ouve a conversa do aliados sentado em seu lugar Plano inicial da direção da CPI é entregar o relatório ainda no mês de setembro

Quando os trabalhos da CPI da Covid-19 foram retomados depois do recesso parlamentar, os senadores traçaram um cronograma que previa o encerramento da comissão no dia 16 de setembro. Nos últimos dias, porém, o surgimento de novos personagens embaralhou os rumos do colegiado. Enquanto mantém em seu radar o caso da empresa VTCLog, que tem contratos com o Ministério da Saúde, e a atuação de Marconny Albernaz Faria, lobista da Precisa Medicamentos que tem relação com pessoas próximas ao presidente Jair Bolsonaro, a cúpula do colegiado ainda não chegou a um consenso sobre os próximos e derradeiros passos da investigação.

Na semana do dia 7 de setembro, não haverá depoimentos na comissão, mas a cúpula já definiu as próximas oitivas: o advogado Marcos Tolentino, o lobista Marconny Faria e a advogada de Bolsonaro, Karina Kufa, serão ouvidos, respectivamente, nos dias 14, 15 e 16 de setembro. Tolentino é apontado como sócio oculto do FIB Bank, que emitiu uma carta-fiança de R$ 80,7 milhões como garantia para a Precisa Medicamentos no acordo firmado para a aquisição de 20 milhões de doses da vacina Covaxin. O nome de Faria aparece em uma troca de mensagens que cria a “arquitetura da fraude” a uma licitação para a compra de testes de Covid-19 a fim de beneficiar a Precisa. A advogada, por sua vez, promoveu um jantar em sua casa que contou com a presença do lobista e do ex-diretor de um órgão ligado à Anvisa, José Ricardo Santana, outro personagem envolvido no passo-a-passo criado para fraudar o certame.

Na última semana, a CPI da Covid-19 ouviu Ivanildo Gonçalves, motoboy da VTCLog. Segundo um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), a empresa, que tem contrato com o Ministério da Saúde e é responsável pelo transporte de vacinas e insumos, por exemplo, movimentou, de forma atípica, R$ 177 milhões nos dois últimos anos. Deste montante, cerca de R$ 4,7 milhões foi sacado, na boca de caixas eletrônicos, por Ivanildo. Na véspera do Natal de 2018, por exemplo, ele pegou, de uma só vez, R$ 430 mil reais. Aos senadores, o funcionário disse que apenas cumpria ordens: recebia cheques de Zenaide Sá Reis, funcionária do departamento financeiro da VTCLog, sacava os valores, pagava os boletos e devolvia o que eventualmente sobrava a ela. Na terça-feira, 31, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), disse que a CPI “vai a fundo” nas investigações contra a empresa. Além de Zenaide, estão na mira dos senadores Carlos Alberto de Sá, o Carlinhos, Raimundo Nonato Brasil e Teresa Sá, donos da empresa, e a CEO da companhia, Andréia Lima.

Segundo apurou a Jovem Pan, é em razão deste cenário que a cúpula da CPI está dividida. Os senadores Omar Aziz, Randolfe Rodrigues (vice-presidente) e Renan Calheiros (MDB-AL) ainda não chegaram a um consenso. Por ora, é certo que a comissão não vai encerrar seus trabalhos no dia 16 de setembro, mas a ideia inicial era que a apresentação do relatório do emedebista fosse adiada em uma semana. A direção do colegiado e os integrantes do G7, grupo formado pelos senadores independentes e de oposição, não querem perder o “timing político”, mas admitem que seria um erro finalizar as investigações e deixar “pontas soltas” pelo caminho.

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