Como a campanha de Lula avalia a mais recente pesquisa Datafolha

Dirigentes da sigla comemoram estabilidade do ex-presidente e manutenção da diferença de 30 pontos entre os mais pobres; avanço de Bolsonaro entre evangélicos acende luz amarela no partido

  • Por André Siqueira
  • 19/08/2022 14h20
Reprodução/Twitter/@LulaOficial Geraldo Alckmin e Lula Datafolha: Lula tem 47% das intenções de voto, ante 32% de Bolsonaro

Apesar do avanço do presidente Jair Bolsonaro (PL), que diminuiu de 18 para 15 pontos a vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a campanha do petista, no geral, ficou satisfeita – e animada – com o resultado da mais recente pesquisa Datafolha, divulgada na noite desta quinta-feira, 18. À Jovem Pan, coordenadores e dirigentes da sigla destacaram dois pontos específicos: a resiliência de Lula, que manteve o patamar dos 47% das intenções de voto (51% dos votos válidos, o que mantém a possibilidade de vitória em segundo turno), e a percepção de que o avanço de Bolsonaro entre os mais pobres, algo esperado em razão do pacote de benefícios sociais de mais de R$ 40 bilhões que começou a ser pago no dia 9 de agosto, tem sido lento, o que, de acordo com a cúpula do PT, reforça a avaliação de que o partido tem conseguido incutir no eleitor a tese de que o aumento do Auxílio Brasil, por exemplo, foi uma medida eleitoreira. Além disso, o núcleo da campanha também tem um diagnóstico sobre o crescimento de Bolsonaro: o atual chefe do Executivo federal conseguiu reconquistar votos de eleitores que eram simpáticos ao seu governo, migraram para outros postulantes ao longo da gestão e agora voltam para o bolsonarismo à medida em que o pleito se aproxima e a polarização fica cada vez mais nítida.

“Os eleitores de baixa renda, na média, mantiveram a mesma posição e, portanto, entenderam que o Auxílio é um direito pago com recurso do povo brasileiro e que a estratégia eleitoral ficou clara, e quase não fez efeito”, afirmou à reportagem o ex-governador do Piauí Wellington Dias, um dos coordenadores da campanha de Lula. “A pesquisa reforça que o Auxílio Brasil não surtiu efeito. Para nós o resultado é positivo: Lula mantém a dianteira a poucos dias do início da propaganda eleitoral em rádio e TV. Temos mais tempo e isso também nos ajuda”, avalia o secretário nacional de comunicação da sigla, Jilmar Tatto. Entre quem ganha até dois salários mínimos, público-alvo do pacote de bondades aprovado pelo Congresso, Lula mantém uma larga vantagem: de acordo com o Datafolha divulgado nesta quinta-feira, o petista tem 55% das intenções de voto (na pesquisa realizada entre os dias 27 e 28 de julho, o percentual era de 54%), ante 23% de Bolsonaro. “Devemos seguir focando na pauta do povo: economia e social”, resume Wellington Dias. “Nosso foco vai ser a economia, apresentar soluções e propostas para o sofrimento do povo, um embate de legados mesmo. Sob Bolsonaro, o Brasil voltou para o mapa da fome. Lula vai tirar o país do mapa da fome”, acrescenta Tatto.

Apesar da liderança de Lula entre os mais pobres, um dado acendeu uma luz amarela na campanha do PT: o avanço de Bolsonaro entre os evangélicos. Ainda segundo o Datafolha, o presidente da República saltou de 43% para 49% no segmento, enquanto o petista oscilou negativamente de 33% para 32%, o que representa uma diferença de 17 pontos percentuais. Em reservado, um interlocutor da presidente nacional da legenda, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), disse à reportagem que o partido “demorou” para responder à notícia falsa de que Lula fecharia as igrejas em caso de vitória no pleito. Como a Jovem Pan mostrou, o núcleo duro da comunicação da campanha lulista identificou a proliferação de mensagens e publicações que afirmavam, sem embasamento fático, que o ex-presidente fecharia templos religiosos se voltasse ao Palácio do Planalto. Aliados passaram a divulgar, nas redes sociais, um material no qual afirmam que “Lula é cristão, nunca fechou nem vai fechar igrejas” e ressaltam que Lula foi o responsável por sancionar a lei da liberdade religiosa, que deu personalidade jurídica às organizações em 2003.

“Entramos em campo com uma estratégia de vencer as mentiras que dizem do Lula. Foi ele quem regulamentou a liberdade religiosa no Brasil. Foi Lula quem criou em lei o dia da Marcha para Jesus, que hoje alguns usam como espaço para comícios. Lula não aceita usar a fé, a religião ou as igrejas para ganhar voto. Ele crê em Deus, respeita o povo evangélico e não vai aceitar – como nunca aceitou – qualquer discriminação contra evangélicos ou outro religioso. Lula não vai se submeter a líderes religiosos que usam a fé dos seus fiéis para tirar proveito próprio, como aconteceu agora com os falsos pastores acusados de prática criminosa e desvio de recursos do MEC e do FNDE”, diz o ex-governador do Piauí. “É real a possibilidade de vitória de Lula e Alckmin no primeiro turno, mas a orientação da coordenação da campanha é para trabalharmos sem o ‘já ganhou’ e seguir firme com estratégia de em todos os Estados conquistar mais apoios”, finaliza Dias.

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