Como as campanhas de Lula e Bolsonaro reagiram à pesquisa Datafolha mais recente
Aliados do presidente minimizam resultado e esperam avanço a partir de meados de agosto; cúpula do PT comemora diferença do petista e prepara resposta à propaganda bolsonarista sobre o pacote de benefícios
A mais recente pesquisa Datafolha sobre a corrida presidencial, divulgada na quinta-feira, 28, não trouxe grandes novidades do ponto de vista estatístico, mas gerou reações públicas e nos bastidores das campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL), que polarizam a disputa. De acordo com o instituto, Lula tem 47% das intenções de voto, ante 29% do atual chefe do Executivo federal. No levantamento anterior, do dia 23 de junho, o petista tinha os mesmos 47%, contra 28% do mandatário do país, o que indica um cenário de estabilidade. No entorno bolsonarista, o resultado foi minimizado – em reservado, porém, integrantes da campanha ouvidos pela Jovem Pan admitiram um anticlímax. Entre os lulistas, a manutenção do cenário a cerca de dois meses do primeiro turno foi algo celebrado, uma vez que, se a eleição fosse hoje, conforme projeção do Datafolha, o ex-presidente seria eleito para um terceiro mandato.
Como a Jovem Pan mostrou, coordenadores da campanha de Bolsonaro esperam que a redução no preço dos combustíveis e o pagamento dos benefícios previstos na chamada PEC das Bondades gerem até cinco pontos percentuais para o presidente da República. Apesar da queda na tarifa da gasolina e do etanol, o mandatário do país oscilou positivamente 1%, dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Para a cúpula do Partido Liberal (PL), a mudança nas pesquisas deve ocorrer na segunda metade do mês de agosto – o pagamento dos R$ 600 do Auxílio Brasil começa a ser feito no dia 9 de agosto. “Demoramos para aprovar os benefícios, a população está sentindo a queda no preço dos combustíveis há duas, três semanas. O auxílio emergencial de 600 reais começa a ser pago agora em agosto. Isso retardou o crescimento que esperávamos. A expectativa é que no mês de agosto, coletando os louros do preço dos combustíveis e do auxílio, isso comece a refletir nas pesquisas. A campanha só começa para valer na segunda quinzena de agosto, é aí que vamos jogar as finais do campeonato”, disse à Jovem Pan o deputado federal Capitão Augusto (PL-PS), vice-presidente nacional do partido.
Em sua tradicional live semanal, Bolsonaro endossou a análise. “Eles [aliados] acham que a virada vai ser no final de agosto, principalmente com Auxílio e [propaganda eleitoral] na TV. Embora os combustíveis sejam importantes, o Auxílio teria um peso maior pela [possibilidade de comprar] comida e pelo gás. Mas avaliações mais específicas ainda estão sendo feitas”, disse o presidente. O comando da sigla aposta que o pacote de mais de R$ 40 bilhões em benefícios impulsione o desempenho de Bolsonaro, em especial, entre os eleitores que ganham até dois salários mínimos, público alvo do Auxílio Brasil. De acordo com o Datafolha, o presidente da República avançou três pontos percentuais neste segmento (de 20% a 23%), dentro da margem de erro de 2,7 pontos percentuais. Lula lidera neste setor com 54% das intenções de voto. Em caráter reservado, um ministro palaciano e um deputado da base governista no Congresso disseram à reportagem que “outra pedra no sapato” da campanha à reeleição é o índice de rejeição. Ainda segundo o Datafolha, 53% dos eleitores dizem não votar em Bolsonaro de jeito nenhum – Lula é rejeitado por 36%. O grande desafio, dizem, é derrubar esse patamar até o dia 2 de outubro.
Entre os aliados de Lula, prevalece a avaliação de que o esforço de Bolsonaro para subir nas pesquisas, personificado na criação do teto do ICMS para os combustíveis e para a força-tarefa montada para aprovar a PEC das Bondades, foi em vão. “A pesquisa é muito positiva para Lula, porque ela mostra que essas ações para turbinar o Auxílio Brasil e para gerar uma redução pequena dos combustíveis não surtiram efeito. O povo não está se iludindo com as promessas do governo. Essa é nossa primeira constatação. Em segundo lugar, me parece claro que o povo brasileiro quer mudar de governo. E isso é exemplificado pela diferença de 18 pontos entre Lula e Bolsonaro no Datafolha”, disse à Jovem Pan o secretário nacional de comunicação do PT, Jilmar Tatto. Questionado sobre a redução da vantagem de Bolsonaro entre os eleitores de maior poder aquisitivo, Tatto diz que a mudança ocorre porque estas fatias do eleitorado “querem estabilidade”. “Na minha avaliação, isso se explica pelo comportamento de Bolsonaro em relação à democracia. Entre a pesquisa de junho e esta de julho, houve aquela reunião com os embaixadores, ele aumentou o questionamento às urnas. Os setores de renda média e alta, dentro dos padrões brasileiros, querem estabilidade. Isso também se reflete nos manifestos que têm sido articulados pelos trabalhadores, pelos empresários e pelos banqueiros”, afirma.
O ex-governador do Piauí Wellington Dias, um dos coordenadores da campanha de Lula, adota argumento semelhante. “O povo quer pacificação, paz, estabilidade e previsibilidade, para crescimento econômico e desenvolvimento social, relação madura com outros países. Quem pode oferecer isto nestas eleições são Lula e Alckmin. O que temos com Bolsonaro? Tensionamento, ameaças à democracia, instabilidade, inflação alta, desemprego, queda na renda”, diz o ex-gestor. Dias também vê espaço para o crescimento de Lula entre os indecisos. Segundo o Datafolha, 71% dos eleitores dizem estar decididos no voto a presidente. “Nos eleitores que indicam outros candidatos e indecisos, cerca de 9 pontos percentuais tem o Lula como primeira opção. A campanha de rua, as caminhadas e os comícios começam a partir de 16 de agosto; os programas de rádio e TV, dia 26. Vamos trabalhar para conquistar este eleitorado”, avalia.
Se os aliados de Bolsonaro enxergam o dia 9 de agosto como o possível ponto de inflexão na campanha, interlocutores de Lula têm uma resposta para se contrapor ao esforço do entorno do presidente da República. “A nossa resposta para a propaganda bolsonarista sobre o Auxílio Brasil será dizer a verdade: o PT, através de nossos deputados e senadores, sempre defendeu o benefício de 600 reais, desde o início da pandemia. Bolsonaro sempre foi contra, essa PEC foi uma medida desesperada do ponto de vista eleitoral. Mais: o benefício só vai até dezembro. Em contrapartida, Lula já firmou compromisso de manter esse valor enquanto o posso estiver passando fome. Vamos intensificar a campanha para que o povo pegue o dinheiro e vote no Lula”, diz Tatto. “Com medo do Lula, o governo aumento o valor do Auxílio Brasil e do vale-gás, mas só dura até a eleição. É igual a picolé: chupou, acabou”, diz narração de um vídeo que tem sido divulgado pelos petistas nas redes sociais.
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