‘Conitec mudou de nome e virou conivente’, ironiza Otto Alencar

Parecer que atesta ineficácia do ‘kit-Covid’ seria votado nesta quinta-feira, mas foi retirado de pauta; senadores da comissão apontaram interferência política do Palácio do Planalto

  • Por Jovem Pan
  • 07/10/2021 12h58
Jefferson Rudy/Agência Senado -050/5/2021 O senador Otto Alencar durante pronunciamento na CPI da Covid-19 Membro titular da CPI da Covid-19, senador Otto Alencar é médico de formação

Diante do relato emocionado do advogado Tadeu Frederico Andrade, cliente da Prevent Senior, e da decisão da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) de não votar o parecer do órgão que atesta a ineficácia de medicamentos do chamado “kit-Covid”, o senador Otto Alencar (PSD-BA), que é médico, ironizou a postura do colegiado. “A Conitec mudou de nome. Virou conivente”, disse. Além de Andrade, a CPI da Covid-19 ouve, nesta quinta-feira, 7, o médico Walter Correa de Souza Neto, ex-médico da operadora de saúde.

“Azitromicina e hidroxicloroquina não mostraram benefício clínico e, portanto, não devem ser utilizados no tratamento ambulatorial de pacientes com suspeita ou diagnóstico de Covid-19”, diz um trecho do relatório da Conitec. Previsto para ser votado na reunião desta quinta, o item foi retirado de pauta. De acordo com os membros da CPI, houve interferência política do presidente Jair Bolsonaro. “O senhor presidente da República se reuniu anteontem com Pazuello, com o general Ramos e mandou a ordem para o Marcelo Queiroga. ‘Tira da pauta, não vota’. É uma intervenção. Eu não tenho conhecimento de uma intervenção tão abusrda em uma decisão técnica do âmbito do SUS e do Ministério da Saúde quanto esta”, protestou o senador Randolfe Rodrigues Rodrigues (Rede-AP). Como a Jovem Pan mostrou, a decisão da Conitec foi o estopim para a CPI decidir convocar o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a depor pela terceira vez.

Em sua fala inicial, Tadeu Frederico de Andrade deu detalhes do período em que esteve internado em um hospital da Prevent Senior. De acordo com o relato, os médicos da empresa tentaram convencer sua família a tirá-lo da UTI e enviá-lo aos cuidados paliativos. À época, ele estava intubado. Uma das profissionais da operadora disse a suas filhas que, nesta condição, Tadeu “teria maior dignidade e conforto, e meu óbito ocorreria em poucos dias”. Os equipamentos que o mantinham vivo seriam desligados. Em razão da negativa da família, as duas filhas do paciente foram chamadas para uma reunião com três profissionais do hospital.

Segundo a testemunha, nesta reunião os médicos apresentaram, como se fosse de Tadeu, o prontuário de uma pessoa que possuía comorbidades que ele nunca teve. “Nessa reunião, eles tentam convencer minha família de que, pelo prontuário na mão, eu tinha marcapasso, eu tinha sérias comorbidades arteriais e que eu tinha uma idade muito avançada. Esse prontuário não era meu, era de uma senhora de 75 anos. Eu não tenho marcapasso. A única coisa que tenho é pressão alta. Sempre tive”, disse. Com a voz embargada, Andrade acrescentou que ele só está vivo porque sua família se insurgiu contra a Prevent Senior.

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