‘Daniel Silveira quis convencer eu e Bolsonaro a entrarmos em uma ideia esdrúxula’, diz Marcos do Val sobre grampo a Moraes

Senador revela detalhes da conversa que teve em reunião com o deputado e o então presidente da República para participar de plano contra o ministro do STF e o resultado das eleições

  • Por Jovem Pan
  • 02/02/2023 12h26 - Atualizado em 02/02/2023 18h13
  • BlueSky
Waldemir Barreto/Agência Senado Marcos do Val Marcos do Val falou sobre os planos do então deputado para evitar nova prisão

O senador Marcos do Val (Podemos-ES) afirmou que recebeu uma proposta do ex-deputado Daniel Silveira tentando coagi-lo a ajudar em um plano para contestar os resultados das eleições de 2022. Segundo o senador, Silveira intermediou um encontro com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) em dezembro, no qual o deputado apresentou a “missão” de Do Val, que teria que se aproximar do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para gravar, sem autorização, conversas que comprometessem o magistrado e facilitassem o caminho para contestação dos resultados do pleito. Do Val negou a proposta e reportou a conversa para o próprio ministro do STF. As informações foram divulgadas pela revista Veja nesta quinta-feira, 2. Em entrevista a jornalistas horas depois, o senador falou sobre o caso, dando detalhes de como as conversas aconteceram e frisando que Daniel Silveira estava “desesperado” e tentando evitar uma nova prisão.

“O que ficou muito claro para mim era o Daniel tentando achar uma forma de não ser preso de novo, porque toda hora ele descumpria as ordens do ministro. Ficou muito claro que ele estava em um movimento de manipular e ter o presidente comprando a ideia dele se um senador aceitasse a missão. Do tipo assim: ‘Vou trazer um senador, se ele aceitar, você aceita?’. Foi uma coisa nesse sentido”, afirmou.  Do Val também comentou que, após receber a proposta, pediu tempo para pensar e reportou a Alexandre de Moraes. Para o parlamentar, Daniel tentou convencê-lo a entrar numa “ação esdrúxula”. “O que ficou combinado é que eu disse para eles que iria me dar um tempo para pensar. Eu não falei ‘não’ na hora para não ficar na insistência, porque estava claro o desespero do Daniel, porque é notório a quantidade de vezes que ele descumpriu as ordens do ministro Alexandre. Estava claro que ele tentava convencer nós dois (Do Val e Bolsonaro) a entrarmos nessa ação esdrúxula”, concluiu.

Questionado sobre a participação de Bolsonaro no plano de Silveira, Do Val disse que o presidente estava em posição similar à sua, escutando a ideia do deputado, mas sem tentar influenciá-lo a aceitar a proposta. “O presidente estava numa posição semelhante à minha, escutando a ideia esdrúxula. Ele não falou para eu pensar. Ele não impediu o Daniel, mas estava claro que era o Daniel desesperado por conta disso”, disse o senador. O parlamentar também afirmou que não tinha conhecimento dos documentos vazados que mostravam o planejamento de uma tentativa de golpe de Estado. “Quando aconteceu o vazamento do tal documento, eu não tive nem conhecimento. Me perguntaram desse tal documento planejando uma tentativa de golpe de Estado e ninguém nunca me comentou sobre isso, não tinha conhecimento nenhum nem foi citado lá”, afirmou Do Val.

Em entrevista à Veja, o senador disse que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) dariam suporte à operação. Também dessa versão ele voltou atrás e disse apenas que supôs a participação dos órgãos. Em nota, a Abin disse que está compromissada com a democracia e o Estado Democrático de Direito. “A Agência Brasileira de Inteligência não está absolutamente envolvida em qualquer iniciativa relacionada à possibilidade de gravação de conversas de ministro do Supremo Tribunal Federal.” O general Augusto Heleno, ministro chefe do GSI à época, classificou como “mentira” a participação do gabinete no plano descrito por Do Val.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.