Discurso de Bolsonaro no 7 de setembro complica ambiente para aprovação de Mendonça ao STF
Líderes estimam que cerca de 50 senadores são contrários à indicação do ex-AGU, recordista no tempo de espera para ser sabatinado pela CCJ
Se o discurso do presidente Jair Bolsonaro no 7 de setembro com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao ministro Alexandre de Moraes fez crescer na Câmara dos Deputados a mobilização de parlamentares favoráveis ao impeachment do chefe do Executivo federal, no Senado, o efeito colateral atinge o ex-advogado-geral da União André Mendonça, indicado para a vaga do ministro Marco Aurélio Mello na Suprema Corte. Na avaliação de líderes partidários, o ambiente para a aprovação do nome “terrivelmente evangélico”, que já não era dos melhores, se deteriorou.
A situação de André Mendonça é inédita. Na comparação com os atuais integrantes do STF, o ex-AGU é o recordista no tempo de espera para ser sabatinado. A indicação foi oficializada no dia 13 de julho, portanto, descontadas as duas semanas de recesso parlamentar, já são mais de 40 dias aguardando – com 29 dias, a ministra Rosa Weber foi a que mais aguardou o aval da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Como a Jovem Pan mostrou, um dos principais focos de resistência a Mendonça é o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente da CCJ. No final do mês de agosto, quando Bolsonaro apresentou um pedido de impeachment de Moraes, o ex-presidente do Senado avisou a aliados do Palácio do Planalto que não havia clima para a análise. Para os senadores, o mandatário do país elevou a crise a outro patamar com os discursos na terça-feira, 7. Nesse cenário, nem mesmo a declaração à nação, publicada na quinta-feira, 9, foi capaz de diminuir a indisposição da Casa Alta do Congresso Nacional em relação ao governo. O recuo é visto com cautela pelos líderes, que estão céticos quanto ao prazo de vigência da trégua.
Segundo cálculos dos que se opõem à indicação, há aproximadamente 50 votos contra o ex-AGU – para ser aprovado, ele precisa do aval de 41 dos 81 senadores. Os parlamentares também afirmam que o nome escolhido por Bolsonaro foi “largado à própria sorte”. Em seu périplo em busca de apoio, Mendonça chegou a utilizar o gabinete da liderança do governo no Congresso Nacional para as reuniões, mas, desde que foi indicado, seus principais aliados foram pastores evangélicos, entre eles, Silas Malafaia. Nos próximos dias, inclusive, uma caravana de líderes religiosos deve ir a Brasília para tentar solucionar este impasse. À Jovem Pan, o senador Izalci Lucas (PSDB-DF), líder da sigla, acredita na aprovação de André Mendonça pela relação criada pelo advogado com os parlamentares. “Acho que ele tem o número de votos para a aprovação. Apesar do governo, mas tem”, disse.
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