Impeachment de Bolsonaro esbarra em apoio do Centrão e na presença de ‘infiltrados’ em outras legendas

Em um cálculo formal, partidos de oposição e da centro-direita possuem, aproximadamente, 310 votos; abertura do processo depende do aval de 342 parlamentares

  • Por André Siqueira
  • 11/09/2021 10h00
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Antonio Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo - 04/08/2021 Sentados na bancada da frente durante posso de Ciro Nogueira, Hamilton Mourão, à esquerda, e Jair Bolsonaro, ambos de máscara e trajes sociais, sentam lado a lado, mas não se olham Desde o início da gestão Bolsonaro, mais de 130 pedidos de impeachment foram apresentados

Uma das principais consequências dos ataques feitos pelo presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao ministro Alexandre de Moraes, a quem chamou de “canalha” em um discurso na terça-feira, 7 de setembro, na Avenida Paulista, em São Paulo, foi a mobilização de partidos políticos que passaram a discutir a possibilidade de apoiar um eventual pedido de impeachment do chefe do Executivo federal. Apesar da articulação, líderes partidários calculam que o governo ainda possui os votos necessários para barrar o avanço de uma iniciativa desta natureza. Em linhas gerais, os parlamentares avaliam que, caso não haja desembarque do Centrão, as chances do mandatário do país ser destituído do cargo são residuais.

As legendas de oposição (PT, PSB, PDT, PSOL, PCdoB, PV, Rede) somam 131 deputados. Entre os independentes, Cidadania e Novo, que juntos possuem 15 parlamentares, também apoiam o impeachment de Bolsonaro. A destituição do presidente também é defendida pela ala do PSL mais ligada ao presidente nacional da sigla, Luciano Bivar, composta por 20 deputados. A Executiva Nacional do Solidariedade, que possui 14 membros na Câmara, vai se reunir para debater a posição da legenda na próxima semana, mas o seu dirigente máximo, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, já se manifestou a favor da queda do presidente da República. Neste cenário, este bloco teria 180 deputados. Em resposta às manifestações bolsonaristas do 7 de setembro, o PSD (34), o MDB (34), o PSDB (33) e o DEM (28), reagiram e também se posicionaram. O PSD, do ex-ministro Gilberto Kassab, criou uma comissão de acompanhamento do impeachment. O PSDB, de Bruno Araújo, declarou oposição ao governo. A cúpula emedebista, por sua vez, emitiu uma nota na qual afirma que a Constituição “tem seus remédios em defesa da democracia”. Em nota conjunta também assinada pelo PSL, o Democratas repudiou as “ameaças aos pilares” da democracia. Considerando um cálculo formal, oposição e partidos de centro e centro-direita teriam 309 votos, 33 a menos do que os 342 necessários para a abertura do processo de impeachment.

Em tese, o governo Bolsonaro só não teria votos suficientes para barrar a tramitação de um dos mais de 130 pedidos de impeachment engavetados pelo atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se uma das legendas que compõem o núcleo duro do Centrão – PL, Progressistas e Republicanos – desembarcasse do governo. Os três partidos possuem, respectivamente, 42, 41 e 31 deputados, e abrigam ministros próximos ao presidente da República: Flávia Arruda (PL-DF) é responsável pela articulação política, Ciro Nogueira (PP-PI) ocupa uma cadeira no Palácio do Planalto e se apresenta como “amortecedor” do presidente, e João Roma (Republicanos-BA) coordena a pasta responsável pelo auxílio emergencial e pelo Bolsa Família.

Mas não só. A base governista conta com o voto dos “bolsonaristas infiltrados” em partidos que colocaram o impeachment em seus radares. Um exemplo dessa fidelidade ao Palácio do Planalto pôde ser visto na votação da PEC do voto impresso, uma das principais bandeiras de Bolsonaro. Dos 33 deputados do PSDB, 14 votaram a favor da proposta – tido como o mais bolsonarista entre os tucanos, Aécio Neves se absteve. No PSD de Kassab, 20 dos 34 integrantes da bancada chancelaram a mudança do sistema de votação do país. Parlamentares ouvidos pela Jovem Pan afirmam que esta divergência entre o posicionamento adotado pelas cúpulas partidárias e a postura dos congressistas ocorre porque, na hora das votações, o ônus – ou o bônus – caberá única e exclusivamente ao deputado que está no dia a dia do Parlamento. “Existe uma adesão de parlamentares [destas siglas] ao bolsonarismo, mas estamos em uma encruzilhada muito preocupante. Penso que os partidos vão ter que optar por sangrar para salvar a democracia. Se para isso vão ter que expulsar membros ou adotar medidas radicais, é o preço a se pagar para salvar o país”, afirma o deputado Fábio Trad (PSD-MS), favorável ao impeachment.

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