Lula afirma que Forças Armadas ‘não são poder moderador’ e expõe crise entre governo e militares

Presidente disse que José Múcio permanecerá à frente do Ministério da Defesa e ressaltou que é não possível trocar a chefia das pastas ‘em qualquer adversidade’

  • Por Jovem Pan
  • 12/01/2023 15h01 - Atualizado em 12/01/2023 19h04
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WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO Lula Presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em seu terceiro mandato no comando do Executivo federal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizou um café da manhã com jornalistas nesta quinta-feira, 12, e, nele, falou sobre as invasões dos manifestantes na sede dos Três Poderes no domingo, 8, e a permanência no cargo do ministro da Defesa, José Múcio, em meio a rumores de sua possível renúncia. Segundo o chefe do Executivo federal, as Forças Armadas não podem pensar e agir como se fossem o poder moderador do país – o que, de fato, não são. “As Forças Armadas sabem que seu papel está definido na Constituição, que é a defesa do povo brasileiro e da nossa soberania contra possíveis inimigos externos. Está definido na Constituição e é isso que quero que façam bem feito. As Forças Armadas não são poder moderador como pensam que são”, declarou. O mandatário ainda reforçou que não teve nenhum problema com os militares no período em que governou o país – de 2003 a 2010 – e que os comandantes que lideravam as Forças em seu governo continuaram no comando com a agora ex-presidente Dilma Rousseff (PT). O petista pediu ao oficialato que sua relação com as Forças seja “civilizada” e informou que não instaurou a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no último domingo para que a responsabilidade da gestão fosse sua. “Se eu tivesse feito GLO, eu teria assumido a responsabilidade de abandonar a minha responsabilidade. Aí sim, estaria acontecendo o golpe que as pessoas queriam. O Lula deixa de ser governo para que algum general assuma o governo. Quem quiser assumir governo que dispute eleição e ganhe”, declarou.

Sobre a possível saída de José Múcio à frente do Ministério da Defesa, Lula garantiu que o ex-deputado e ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU) permanecerá no governo, afirmou que confia no seu auxiliar e ressaltou que não é possível trocar os chefes das pastas em qualquer adversidade. “Se eu tiver que tirar cada ministro a hora que ele comete um erro, vai ser a maior rotatividade de mão de obra da história do Brasil. Todos nós cometemos erros. Ele vai continuar sendo meu ministro porque eu confio nele, relação histórica, tenho o mais profundo respeito por ele. Ele vai continuar”, disse. Uma ala do governo tem pressionado Lula a trocar Múcio. O processo de fogo amigo se acentuou, sobretudo, após o titular da Defesa defender os grupos que acampavam na porta de quartéis. O tom se contrapunha à postura adotada pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, que defendia medidas enérgica para desmobilizar os agrupamentos – Dino chegou a dizer, inclusive, que os acampamentos serviam como “incubadora de terroristas”.

O principal exemplo de fogo amigo contra Múcio ocorreu na noite da terça-feira, 10, quando o deputado federal André Janones (Avante-MG), que abdicou de sua candidatura à Presidência da República para apoiar Lula, afirmou, em seu perfil no Twitter, que o ministro da Defesa apresentaria sua carta de renúncia “nas próximas horas”. O parlamentar, no entanto, foi desmentido por Múcio. Em um intervalo de 13 minutos, Janones voltou ao seu perfil para dizer que a informação divulgada anteriormente não procedia.

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