Na CPI, Mayra Pinheiro contradiz Pazuello, defende cloroquina e evita críticas a Bolsonaro
Secretária do Ministério da Saúde disse que ex-ministro tomou conhecimento da crise do oxigênio em Manaus no dia 8 de janeiro, não no dia 10, como o general havia afirmado na semana passada
Em um depoimento à CPI da Covid-19 que durou pouco mais de seis horas, a secretária de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, contradisse informações apresentadas à comissão pelo ex-ministro Eduardo Pazuello na semana passada, defendeu o uso da cloroquina no tratamento de pessoas infectadas com o coronavírus e evitou comentar declarações e posturas do presidente Jair Bolsonaro desde o início da pandemia no Brasil. Apesar de ter sido beneficiada por um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a servidora, que ficou conhecida como “capitã cloroquina”, respondeu a todas as perguntas dos parlamentares – como a Jovem Pan mostrou, o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL) apontou 11 contradições na oitiva da depoente.
Aos senadores, Mayra Pinheiro disse que Pazuello tomou conhecimento da escassez do oxigênio em Manaus no dia 8 de janeiro, não no dia 10, como o general do Exército havia afirmado na CPI. “Estive em Manaus até o dia 5. Eu voltei, o ministro teve conhecimento do desabastecimento em Manaus, creio, no dia 8, e ele me perguntou por que eu não havia relatado nenhum problema de escassez de oxigênio. Porque não me foi informado”, afirmou. Ela acrescentou que confirmou “a informação com o secretário estadual de Saúde perguntando: ‘Secretário, por que, durante o período da minha prospecção, não me foi informado?’. Ele disse: ‘Porque nem nós sabíamos'”, acrescentou a depoente. A afirmação do ex-ministro da Saúde de que a pasta só foi informada sobre a iminência da crise na capital do Estado do Amazonas já havia sido desmentida por um documento oficial do Ministério da Saúde. Em ofício, o ex-secretário-executivo Élcio Franco Filho afirma que o ex-chefe do ministério soube do colapso três dias antes. “Esclareço que, na noite de 7 de janeiro de 2021, este Ministério tomou ciência de problemas relacionados ao abastecimento de oxigênio da rede de saúde do Amazonas”, diz um trecho.
A secretária do Ministério da Saúde também apresentou uma versão diferente sobre a decisão da pasta de retirar do ar o aplicativo “TrateCov”, que prescrevia remédios ineficazes para o tratamento da Covid-19 para gestantes e recém-nascidos, por exemplo. Aos senadores, o ex-ministro Eduardo Pazuello afirmou que a plataforma foi hackeada. Na sessão desta terça, porém, Mayra Pinheiro disse que o aplicativo foi alvo de uma extração de dados, e não um hackeamento. Ela também destacou que não houve alterações no formato do dispositivo, como relatou Pazuello. “O laudo pericial classificou a operação como extração indevida de dados. O que ele [a pessoa que inspecionou o site do TrateCov] fez foram simulações indevidas, fora do contexto epidemiológico”, afirmou. Mayra Pinheiro reforçou a defesa da hidroxicloroquina e disse que, como médica, mantém a orientação “de que a gente possa usar todos os recursos possíveis para salvar vidas”. Aos parlamentares, porém, ela afirmou que nunca recebeu ordens para propagar o medicamento. “Nunca recebi ordens, e a indicação desses medicamentos não é iniciativa minha pessoal”, ressaltou.
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