Pacheco afirma que Ernesto Araújo ‘atinge todo o Senado’ ao atacar Kátia Abreu

Na mira do Congresso, ministro das Relações Exteriores utilizou seu perfil no Twitter para insinuar que pressão por sua saída ocorre por causa do leilão da tecnologia 5G e relatar reunião privada com senadora

  • Por Jovem Pan
  • 28/03/2021 21h32
Marcos Oliveira/Agência Senado Rodrigo Pacheco no plenário do Senado Pacheco afirmou que 'essa constante desagregação é um grande desserviço ao país'

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse, na noite deste domingo, 28, que a “tentativa” do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, de “desqualificar” a senadora Kátia Abreu (PP-TO) atinge “todo o Senado Federal”. A declaração ocorre após o chanceler afirmar em uma publicação em seu perfil no Twitter que, em uma reunião no início do mês, a parlamentar teria preferido tratar sobre o leilão da tecnologia 5G do que sobre a busca por mais vacinas contra a Covid-19 para o Brasil. “Em 4/3 recebi a Senadora Kátia Abreu para almoçar no MRE. Conversa cortês. Pouco ou nada falou de vacinas. No final, à mesa, disse: ‘Ministro, se o senhor fizer um gesto em relação ao 5G, será o rei do Senado.’ Não fiz gesto algum. Desconsiderei a sugestão inclusive porque o tema 5G depende do Ministério das Comunicações e do próprio Presidente da República, a quem compete a decisão última na matéria”, diz o post.

Para Pacheco, “essa constante desagregação é um grande desserviço ao país” – no início da semana, o presidente do Senado já havia dito, em coletiva de imprensa, que o Brasil precisava de uma “melhor representação externa”. “A tentativa do ministro Ernesto Araújo de desqualificar a competente senadora Kátia Abreu atinge todo o Senado Federal. E justamente em um momento que estamos buscando unir, somar, pacificar as relações entre os Poderes. Essa constante desagregação é um grande desserviço ao país”, afirma no tuíte. O presidente do Senado não foi o único a se manifestar contra o ministro. Em nota, Kátia Abreu afirmou que Araújo, a quem chamou de “marginal”, resumiu “três horas de um encontro institucional a um tuíte que falta com a verdade” e faz coro por sua demissão. “O Brasil não pode mais continuar tendo, perante o mundo, a face de um marginal. Alguém que insiste em viver à margem da boa diplomacia, à margem da verdade dos fatos, à margem do equilíbrio e à margem do equilíbrio e à margem do respeito às instituições. Alguém que agride gratuitamente e desnecessariamente a Comissão de Relações Exteriores e o Senado Federal”, diz em nota divulgada à imprensa.

Presidente nacional do PP e aliado de Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira, crítico contumaz da gestão de Araújo, também se manifestou em seu perfil no Twitter. “No momento em que há um grande esforço para a pacificação e o entendimento, lamento muito que justamente o responsável por nossa diplomacia venha a criar mais um contencioso político para as instituições. O Brasil e o povo brasileiro não merecem isso”, escreveu Nogueira. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) afirmou que “ao plantar insinuações contra a senadora Kátia Abreu, o Ministro Ernesto Araujo atinge todo o Senado e lança sementes de joio nos campos da democracia. Quando menos a gente espera a democracia se vê sufocada. Não adianta somente podá-lo, porque a poda vai fortalecer a planta. Desse joio é preciso arrancar as raízes, fertilizar as mudas democráticas e “forjar na democracia o milagre do pão”. Ernesto e democracia não andam juntos. Não há opção. Democracia fica. Ernesto tem de sair”.

A publicação de Ernesto Araújo deste domingo, 28, é mais um capítulo da crise entre o ministro e o Congresso. Nas últimas semanas, a pressão por sua saída tem aumentado – na avaliação de parlamentares ouvidos pela Jovem Pan, a situação do chanceler é “insustentável”. Entre os parlamentares, prevalece a avaliação de que a postura ideológica de Araújo inviabilizou a interlocução do Brasil com países que poderiam fornecer vacinas contra o coronavírus.

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