Planalto comemora racha no G7 causado por detalhes do relatório final da CPI da Covid-19
Possibilidade de pedir o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro por genocídio de indígenas divide o grupo majoritário; ‘Perceberam que os crimes imputados não se sustentam’, disse à Jovem Pan o senador Marcos Rogério (DEM-RO)
Os detalhes do relatório final da CPI da Covid-19, de autoria do senador Renan Calheiros (MDB-AL), geraram um mal-estar entre membros do G7, formado pelos sete senadores independentes e de oposição, mas também causaram repercussão no Palácio do Planalto, que comemorou o racha e viu na reação dos parlamentares do grupo majoritário um indicativo de que o emedebista “forçou a barra”. Segundo senadores governistas e auxiliares do presidente Jair Bolsonaro ouvidos pela Jovem Pan, propor o indiciamento do mandatário do país por muitos crimes dá ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a quem cabe denunciar autoridades com prerrogativa de foro, a oportunidade de apontar fragilidades no parecer e não tomar nenhuma providência concreta. “Em muitos casos, menos é mais”, ironiza um assessor presidencial.
“Os próprios membros do G7 estão percebendo a fragilidade do relatório, eles mesmos consideram que crimes imputados não se sustentam. Eles mesmos estão percebendo que há mais jogo político do que compromisso com a verdade. Os arroubos do relator não passam nem mesmo pelo crivo do G7, porque ele coloca como indiciado pessoas que sequer foram ouvidas pela CPI. Pessoas contra as quais não há evidência ou prova nenhuma”, disse à reportagem o senador Marcos Rogério (DEM-RO), integrante da tropa de choque governista na comissão. “Como vejo tudo isso? Uma investigação mal feita, contaminada por pré-julgamentos o tempo todo por parte do relator e de membros do G7. Toda investigação séria exige serenidade e frieza no contato com as provas, o que não aconteceu nessa investigação”, acrescenta.
Como a Jovem Pan mostrou, o G7 está rachado, sobretudo, em razão da possibilidade da comissão pedir o indiciamento de Bolsonaro por genocídio contra indígenas e pelo vazamento de trechos do relatório final. Na sexta-feira, 15, em uma reunião após a sessão remota que aprovou a convocação do último depoente a ser ouvido pela CPI, os senadores costuraram um acordo para garantir que o texto só fosse apresentado publicamente após uma discussão prévia do grupo majoritário. Os parlamentares se reuniriam na noite desta segunda-feira, 18, para ouvir as considerações de Renan Calheiros, apresentar contrapontos e tentar chegar a um consenso. Eles queriam ser convencidos sobre alguns pontos, como é o caso do genocídio dos povos indígenas – o senador Omar Aziz é um dos que mais resiste à ideia de incluir este ponto no texto final. Há consenso, por outro lado, que Bolsonaro cometeu o crime de infração a medidas sanitárias.
O parecer de Renan Calheiros deve pedir o indiciamento do chefe do Executivo federal por 11 crimes: epidemia com resultado de morte; infração a medidas sanitárias; emprego irregular de verba pública; incitação ao crime; falsificação de documentos particulares; charlatanismo; prevaricação; genocídio de indígenas; crimes contra a humanidade; crime de responsabilidade; e homicídio comissivo por omissão. Em conversa com jornalistas antes do início da sessão desta segunda-feira, 18, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que ainda não teve acesso ao relatório e que tem contribuições a fazer, mas ressaltou que “vamos pacificar [as divergências] nas próximas horas”. “Eventual divergência é mais de forma. Não vejo, no conjunto dos colegas que dirigem essa CPI, divergências de fundo com o conteúdo”, afirmou. Rodrigues descartou, porém, a possibilidade de o mal-estar influenciar o resultado da votação. “Incômodos, chateações, não há problema. Incômodo sobre não ter acesso, é legítimo. Se dividir na votação final, dar a esse momento a chancela àqueles que vão ser indiciados, isso é inaceitável”, acrescentou.
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